terça-feira, 13 de maio de 2014

Precisamos criar alternativas para aumentar a saúde social




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Cresce o número de idosos que cuidam de idosos doentes

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Quase 40% das pessoas que cuidam de idosos doentes em São Paulo são também idosas, revelam dados inéditos de um projeto da USP que monitora como os idosos estão envelhecendo na capital.
O fenômeno tem crescido no país e é atribuído ao processo de envelhecimento populacional, às famílias com menos filhos e à maior presença da mulher no mercado de trabalho, o que diminui a oferta do cuidado em casa.
Em amostra de 362 cuidadores de idosos estudados pela USP, 38% têm mais de 60 anos. A maioria (75%) é mulher ou filha (o) do idoso.
Karime Xavier/Folhapress
Joana, 72, que cuida do marido Antonio,82 , que tem Alzheimer
Joana, 72, que cuida do marido Antonio,82 , que tem Alzheimer
"A gente chega na sala de geriatria e não sabe quem é o paciente e quem é o cuidador. Ambos são idosos", diz Naira Dutra Lemos, assistente social da disciplina de geriatria da Unifesp.
A preocupação dos especialistas é que muitos cuidadores idosos também precisam de atenção à saúde, mas estão desassistidos pelas famílias e pelo poder público.
Em Portugal, por exemplo, o governo garante ao cuidador três meses intercalados de férias por ano. No período, o idoso doente fica sob cuidados de uma instituição paga com recursos públicos.
"No Brasil, o que a gente vê muitas vezes é o cuidador morrer antes do idoso cuidado", afirma a enfermeira Ieda Duarte, professora da USP e uma das coordenadoras do projeto Sabe (Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento).
Segundo a literatura médica, cuidadores familiares idosos têm o dobro de risco de contrair doenças físicas e psicológicas em relação à população idosa em geral.
Além do prejuízo à saúde, Ieda alerta que a assistência ao idoso doente também pode ficar negligenciada. Segundo ela, nessas circunstâncias, só 30% das necessidades de cuidado são atendidas. "Ele faz o que pode."
A geriatra Lyina Kawazoe, da Unifesp, tem a mesma preocupação: "Se ele não consegue cuidar de si próprio, como vai poder cuidar do outro?"
Em São Paulo, vivem 1,4 milhão de idosos acima de 60 anos (12% da população). A maioria tem duas doenças ou mais (80%). Entre 80 e 90 anos, 20% deles apresentam demências –a partir dos 90, a taxa sobe para 40%.
São essas as situações mais estressantes para o cuidador. Entre os que cuidam de idoso dementes, a taxa relatada de sobrecarga relacionada ao trabalho é de 40%, o dobro da descrita por cuidadores de idosos sem demência.
Por conta do aumento da demanda, a Unifesp criou um ambulatório específico para tratar os cuidadores dos idosos acompanhados no serviço de geriatria. Conta com quatro médicos, duas assistentes sociais e duas psicóloga e atende com hora marcada.
"Os cuidadores idosos apresentam uma carga de estresse muito grande e doenças osteoarticulares por conta do peso [do idoso doente] e do desgaste da função", afirma Naira Dutra, que defendeu tese de doutorado na Unifesp sobre o tema.
A maioria dos 176 cuidadores que já passaram por lá é mulher (85%) e tem 71 anos em média. O mais velho, o pedreiro aposentado Antonio Joaquim dos Santos, 92, por exemplo, cuida da mulher de 86 anos que tem Alzheimer.
Segundo o projeto da USP, 52% dos cuidadores de idosos com problemas cognitivos desempenham sozinho a função há mais de cinco anos.
"Eles vão deixando de ser o que são, descuidam da própria saúde e se tornam o único responsável pela vida do outro", diz Naira.
Também se tornam mais vulneráveis a sintomas como depressão, fadiga, frustração, redução de convívio social e diminuição da autoestima, segundo a psicóloga brasileira Lisneti Maria de Castro, pesquisadora da Universidade de Aveiro (Portugal).
A sobrecarga física e emocional também gera sentimentos de raiva, ressentimento e amargura.
"O cuidador pode se transformar numa pessoa intolerante, facilmente irritável, amarga e se distanciar da pessoa de quem cuida."
Ela afirma que o apoio social, seja de outros familiares e de amigos, ou de uma rede de cuidados, aumenta a satisfação em relação à vida.
ESTADO
No congresso brasileiro de geriatria, que aconteceu semana passada em Belém (PA), os especialistas defenderam que os governos criem com urgência alternativas de cuidados para idosos que moram sozinhos ou apenas com o cônjuge também idoso.
Cuidadores profissionais pagos pelo Estado ou estímulo financeiro aos cuidadores familiares são algumas delas. "É uma necessidade real e urgente. A grande maioria das famílias não têm recursos para pagar um cuidador formal", diz Kawazoe. Na Espanha, por exemplo, o governo paga um valor às famílias, que varia de acordo com o grau de dependência do idoso. Quanto maior o grau, maior o subsídio. 

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