quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Um depoimento de pessoa idosa que mora em "Lar dos Velhinhos"

“OLHA! MARCA BEM COMO É A VIDA DA GENTE!”


   “Repito sempre esta frase. Não sei se gosto de dizer ou se preciso repetir estas palavras. Sou Marco Antonio, de 76 anos,  sobrevivente de um câncer de próstata, e que convive muito bem com as alterações de seu Alzheimer. Esta doença espantou minha esposa, ela se foi, hoje já é falecida. Dalva era muito linda, tinha o nome de estrela, namoramos  quatro anos, casamos quando eu tinha vinte e três anos,  por causa de meu trabalho fomos morar no Paraná. Fiz o Tiro de Guerra, estudei até o segundo ano do colegial, e fui cuidar de um sítio de meu pai que produzia café. Há cinqüenta anos, quem tivesse alguma escolaridade e residisse em zona rural, era pessoa de muita valia para  ao menos ensinar a criançada a ler, escrever e ter noções mínimas de cálculo – foi o que aconteceu comigo! Olha marca bem como é  a vida da gente! A pedido dos sitiantes da região e autorizado pela inspetora regional, fui professor durante dois  anos! Meu pai se desencantou com o sítio, castigado por forte geada, sem colheita, vendeu e transformou  em quatro casas de aluguel. Retornei para Americana, e fui trabalhar em marmoraria O serviço começou a escassear. Olha! Marca bem como é a vida da gente! Fomos passear na casa de parentes em Santo André e acabei trabalhando dezesseis anos por lá, fazendo bulbos de lâmpada.Depois voltamos para cá. Tenho dois filhos e cinco netos atenciosos, que me visitam toda semana na “casa de velhinhos” em que moro, há três anos.Tenho muitos amigos lá, dizem que sou alegre, extrovertido e acolhedor! Mas olha, marca bem...
“Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada.” – Clarice Lispector.

Caso real, Elizabeth Fritzsons da Silva, psicóloga, e-mail: bfritzsons@gmail.com

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