terça-feira, 23 de setembro de 2014

O aumento dos bens ou mercadorias e o crescimento das “necessidades”

Richard Easterlin, criador do Paradoxo da Felicidade, argumenta que o PIB mensura somente bens ou mercadorias, sem levar em conta critérios “não materiais” como família, vida e saúde

Por: Márcia Junges e Andriolli Costa/ Tradução: Moisés Sbardelotto

Em 2013 foi lançada a segunda edição do Relatório Mundial da Felicidade. Produzido pela ONU, ele leva em conta seis fatores para mensurar a sensação de felicidade em países do mundo todo: PIB real per capita, suporte social, generosidade, expectativa de vida saudável, liberdade e percepção de corrupção. O relatório mostra mudanças significativas na felicidade dos países ao longo do tempo, e propõe chamar atenção para fatores que vão além dos econômicos para mensurar o bem-estar da população. 
Um dos precursores nesta linha de pensamento foi o economista Richard A. Easterlin, que criou em 1974 o conceito do Paradoxo da Felicidade. O paradoxo é composto por três assertivas: 

1) Em uma sociedade, os ricos tendem a ser mais felizes do que os pobres.
2) Sociedades ricas não tendem a ser (muito) mais felizes do que sociedades pobres.
3) O enriquecimento do País não leva, necessariamente, à felicidade.

Nesta entrevista, concedida por e-mail à IHU On-Line, ele comenta sobre o tema e alega que o PIB mensura somente bens ou mercadorias, sem levar em conta critérios “não materiais” como família, vida e saúde. 
Richard A. Easterlin é graduado em Engenharia pelo Stevens Institute of Technology, com mestrado e doutorado em Economia pela University of Pennsylvania. Membro da National Academy of Sciences e da American Academy of Arts and Sciences, atualmente é professor de Economia da University of Southern California. É autor, entre outros livros, de Happiness, Growth, and the Life Cycle (Oxford: University Press, 2011), The Reluctant Economist: Perspectives on Economics, Economic History, and Demography (Cambridge: University Press, 2006) e de Birth and Fortune: The Impact of Numbers on Personal Welfare (Chicago: University Press, 1987).
Confira a entrevista.

IHU On-Line - Diante do colapso ocasionado pela crise econômica mundial e da situação das nações ricas, seu “paradoxo da felicidade” demonstra ser mais atual do que nunca. Nossa sociedade continua confundindo dinheiro como sinônimo inequívoco de felicidade? Por quê?
Richard Easterlin - As pessoas não se dão conta de que, quando obtêm mais bens ou mercadorias, sua concepção de “necessidades” aumenta na mesma proporção. Em consequência disso, elas acham que mais dinheiro as fará mais felizes, porque sua projeção da felicidade futura pressupõe que suas “necessidades” ficarão inalteradas. 

IHU On-Line - Nesse sentido, qual é a pertinência do conceito de Felicidade Interna Bruta (FIB), em contraposição ao Produto Interno Bruto (PIB)?
Richard Easterlin - O PIB só tem a ver com bens ou mercadorias. A felicidade leva em conta coisas não materiais, como família, vida e saúde. 

IHU On-Line - Nos dias de hoje é possível que felicidade e economia andem lado a lado? Nesse sentido, qual é a importância da eudaimonia  para a vida em uma sociedade globalizada e capitalista?
Richard Easterlin - Há uma relação positiva das flutuações na economia e na felicidade. Mas a tendência ascendente a longo prazo na economia não é acompanhada por uma tendência ascendente na felicidade. A eudaimonia é prescritiva — há tantas concepções de vida boa quanto há autores que as propõem. Eu descrevo as evidências referentes à felicidade, e não estou dizendo que as pessoas devam buscar a felicidade. 

IHU On-Line - Hoje, quais são os países considerados mais felizes e quais são os motivos que levam a esse sentimento?
Richard Easterlin – Se olharmos o Relatório da Felicidade Global  de 2012 da Organização das Nações Unidas, os países com os mais elevados índices de felicidade tendem a ser aqueles que têm políticas públicas que se concentram nas preocupações imediatas das pessoas, como, por exemplo, emprego e rede de segurança social. 

IHU On-Line - Em tempos de globalização, qual deve ser o espaço e o papel do sistema bancário?
Richard Easterlin – A regulamentação mais rigorosa deve ser o imperativo para o sistema bancário do nosso tempo.
FONTE:Revista IHU On-Line - Edição 454

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