sexta-feira, 26 de setembro de 2014

O que a alimentação tem a ver com pacientes terminais?

Escrito por  Isabella Bastos de Quadros(*)
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o-que-a-alimentacao-tem-a-ver-com-pacientes-terminais-fotodestaqueMuitos pacientes morrem de pneumonia devido a alimentos em seus pulmões decorrente da dificuldade para engolir. E, tudo isto, antecedido por uma sucessão de internações provocadas pela mesma dificuldade. É válido continuar vivendo por um período estendido de tempo em condições inóspitas e sem o mínimo de bem-estar? A quem estamos realmente preservando com a decisão de uma vida tão alongada e, ao mesmo tempo, fragilizada?
o-que-a-alimentacao-tem-a-ver-com-pacientes-terminais-fotoO New York Times publicou uma matéria em 21/08/2014, escrito por Jessica Nutik Zitter, médica assistente do Highland Hospital em Oakland, EUA, sobre alimentação e pacientes terminais (“Food and Dying Patient”). A autora descreve em detalhes a dificuldade que um paciente com demência em nível avançado tem para engolir o alimento e o impacto deste esforço no seu organismo. Segundo a autora, muitos pacientes, inclusive, morrem frequentemente de pneumonia devido ao alojamento dos alimentos em seus pulmões decorrente da dificuldade para engolir. E, tudo isto, antecedido por uma sucessão de internações provocadas pela mesma dificuldade.
A questão central abordada por Jessica Zitter é que o sistema de saúde nos EUA lida bem com as disfunções orgânicas propondo métodos invasivos que solucionam questões pontuais sem, entretanto, avaliar se a conduta traz efetivamente qualidade de vida ou não para o paciente. Infelizmente esta é uma reflexão pertinente também para o sistema de saúde brasileiro. É válido continuar vivendo por um período estendido de tempo em condições inóspitas e sem o mínimo de bem-estar? O que afinal dá sentido à vida? A quem estamos realmente preservando com a decisão de uma vida tão alongada e, ao mesmo tempo, fragilizada?
Métodos que não prolongam a vida mas intensificam o seu sofrimento
A autora ressalta que estes métodos não prolongam a vida do paciente mas intensificam o seu sofrimento: Um estômago cheio de calorias artificiais bombeado mecanicamente coloca pressão sobre um sistema digestivo já frágil, aumentando a chance de empurrar o conteúdo do estômago para dentro dos pulmões.  Além disso, os tubos implantados cirurgicamente para alimentação enteral apresentam uma configuração de complicações tais como sangramentos e infecções que podem resultar em dor, internações, entre outros.
O artigo destaca um indivíduo passivo diante de métodos invasivos, incluindo a medicalização da comida, que priva a morte de alguns dos últimos prazeres remanescentes da experiência humana como o gosto, olfato, tato e conexão com os entes queridos.
A morte transformou-se em interdito em nossa cultura mas, em contrapartida, é a única certeza que possuímos desde que nascemos. E quem resolve esse abismo entre a esperança e a sua aceitação? Ao relatar um caso de um paciente que precisou ser entubado para se alimentar em fase terminal, Jessica se pergunta: “Será que a nossa necessidade de alimentar nossos entes queridos nos cega para o que é realmente melhor para eles?”. Este questionamento merece uma discussão mais aprofundada entre as equipes multidisciplinares nos hospitais, clínicas e instituições e ampliada para os familiares dos pacientes em fase terminal. 
Necessitamos cada vez mais de uma visão não mais localizante, mas totalizante e dinâmica no que se refere à saúde e à vida diante de nós. O paciente que ali está é um indivíduo completo e concreto e precisa ser considerado como tal e não como um conjunto de órgãos e suas funções. E a morte precisa ser desmistificada e encarada como um destino comum para todos, sem contudo ser apressada (eutanásia) ou adiada (distanásia). Segundo Sêneca, “Viver é aprender a morrer”.
Referência
Zitter, Jessica Nutik. Food and the Dying Patient. Disponível em:http://well.blogs.nytimes.com/2014/08/21/food-and-the-dying-patient/?_php=true&_type=blogs&_php=true&_type=blogs&_r=2&. Acesso em 21/08/2014.
(*)Isabella Bastos de Quadros é psicóloga e mestre em Gerontologia pela PUC-SP. É sócia da Anagatu IDH em Programas de Pós Carreira e colaboradora do Portal do Envelhecimento. Email: isabellaquadros@hotmail.com

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