Estudo relaciona consumo freqüente de
remédios benzodiazepínicos a uma chance até 51% maior de desenvolver a doença
POR CESAR
BAIMA
SAÚDE
Uso prolongado de ansiolíticos e tranquilizantes pode elevar risco de
Alzheimer
Estudo relaciona consumo freqüente de remédios benzodiazepínicos a uma
chance até 51% maior de desenvolver a doença
POR CESAR
BAIMA
RIO -
O uso prolongado de ansiolíticos e tranquilizantes por idosos pode estar
associado ao surgimento do mal de Alzheimer em idosos, alerta artigo publicado
nesta terça-feira no “British Medical Journal”. Segundo a pesquisa, o consumo
frequente destes remédios, de uma classe conhecida como benzodiazepínicos e
usados para tratar distúrbios como ansiedade e insônia, foi relacionado a um
risco até 51% maior de desenvolver a doença, uma das principais formas de
demência, problema que afeta cerca de 36 milhões de pessoas atualmente e cujo
número deve dobrar a cada 20 anos, chegando a 115 milhões em 2050
Embora ressaltem que o estudo não permite ainda estabelecer uma
relação causal entre o uso de tranquilizantes e o mal de Alzheimer, os
pesquisadores consideram que seu levantamento reforça a antiga suspeita de que
exista uma associação entre os dois. Com base em dados do sistema de saúde de
Québec relativos ao consumo deste tipo de remédio pela população idosa desta
província canadense nos últimos seis anos, os cientistas das universidades de
Montreal e de Bordeaux, na França, identificaram 1.796 casos da doença.
Quando comparados com um grupo de controle de 7.184 indivíduos
ajustado por idade, sexo e duração do acompanhamento médico, estes casos
revelaram que o uso anterior de benzodiazepínicos por três meses ou mais eleva
as chances do aparecimento do mal de Alzheimer em até 51%. A força desta
associação foi maior quanto mais frequente era o consumo destes remédios, assim
como quando eram de ação prolongada. Além disso, ajustes posteriores a outros
fatores que poderiam indicar que os indivíduos doentes já começavam a
apresentar algum sintoma de demência, como ansiedade, depressão e desordens no
sono não alteraram significativamente os resultados.
Os pesquisadores argumentam no artigo que a forte associação
encontrada por eles entre o uso prolongado destes remédios com o mal de
Alzheimer “reforça a suspeita de uma possível associação direta, mesmo que o
consumo de benzodiazepínicos seja um marcador precoce de condições associadas a
um risco maior de demência”. E embora reconheçam que estas substâncias “são
ferramentas valiosas para tratar desordens de ansiedade e insônia passageira”,
afirmam que os tratamentos “devem ser de curta duração, não excedendo três
meses”.
Ainda de acordo com os pesquisadores, a possível associação requer
maior atenção justamente pela prevalência do uso de ansiolíticos e
tranquilizantes entre idosos, em especial nos países desenvolvidos, onde varia
entre 7% e 43% da população na faixa etária de mais de 60 anos. “Agora é
fundamental encorajar os médicos a calcularem cuidadosamente os benefícios e
riscos ao iniciarem ou renovarem um tratamento com benzodiazepínicos e produtos
relacionados em pacientes idosos”, recomendam.
Em um editorial que acompanha o artigo científico, Kristine Yaffe,
professora da Universidade da Califórnia em São Francisco , e
Malaz Boustani, do Centro de Pesquisas do Envelhecimento da Universidade de
Indiana, destacam que em 2012 Sociedade Americana de Geriatria atualizou sua
lista de drogas inapropriadas para uso por adultos idosos e incluiu entre elas
os benzodiazepínicos justamente por causa de seus efeitos colaterais sobre a
cognição. Ainda assim quase 50% dos idosos americanos continuam a usar estes remédios
e, sem um sistema de monitoramento adequado, as potenciais consequências de
longo prazo podem ser graves, acelerando a já crescente prevalência de
problemas cognitivos na população idosa.
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