quarta-feira, 17 de setembro de 2014

O espírito de Joinville

Não paro. Não podemos parar.
Estou sempre viajando pelo mundo e pelo Brasil, de olho em novidades. Não dá para ficar só "googlando" a vida. É preciso ver a vida. "Os olhos precisam viajar", dizia Diane Vreeland, a grande fashionista americana.
Desta vez, estava no Sul do Brasil. Indo lançar uma agência em Santa Catarina, eu encontrei esta pérola: o Corpo de Bombeiros Voluntários de Joinville.
Cidade colonizada por alemães, apesar do nome francês, Joinville tem 550 mil habitantes, é a maior cidade de Santa Catarina, está na 21ª posição no Índice de Desenvolvimento Humano (o IDH da ONU) entre as cidades brasileiras, abriga algumas das indústrias mais importantes e maduras do nosso país, possui uma escola de dança do teatro Bolshoi, mas tem entre seus maiores orgulhos um Corpo de Bombeiros Voluntários.
Estabelecido no século 19, de inspiração europeia, o Corpo de Bombeiros Voluntários de Joinville é sustentado hoje por milhares de cidadãos que fazem doações todo mês, via conta de luz ou outras formas novas de pagamento.
O corpo voluntário nasceu de iniciativa de empresários da cidade, que reservam até hoje um dia de seu atarefado mês para dar plantão como bombeiro em turnos de 18 horas.
Os custos da operação voluntária são muito menores do que os da estrutura estatal-militar e sua eficiência é comprovada por séculos de existência e bons serviços, apesar do lobby contrário.
O número de Corpos de Bombeiros oficiais no Brasil é pequeno. São poucas as cidades cobertas pelo sistema estatal. O voluntariado e o terceiro setor são caminhos necessários para resolver nossas carências, esta inclusive, de forma rápida e a custo baixo. O Estado se move devagar -a sociedade civil 2.0 quer acelerar o passo.
Esse espírito cidadão, empreendedor e eficiente mobiliza empresários, trabalhadores, donas de casa, professores etc. Dezenas de cidades já se inspiraram no modelo do Corpo de Bombeiros Voluntários de Joinville. Um modelo que é muito disseminado pelo mundo, especialmente nos Estados Unidos e em países da Europa.
Esse espírito, que às vezes parece tão distante da nossa realidade, redobra minha crença neste país e neste mundo a despeito das coisas horríveis que o mundo e este país podem produzir neste ou naquele momento.
É difícil compreender por que governantes de Santa Catarina querem insistentemente acabar com os Corpos de Bombeiros voluntários e substituí-los por Corpos de Bombeiros profissionais.
Isso apesar de comparações de custo mostrarem que os do modelo voluntário conseguem ser muito menores do que o do oficial.
Mais de 2.700 pessoas hoje são voluntárias nas várias corporações desse tipo que se espalharam pelo Estado e pela região. Elas têm treinamento especializado e executam serviços de combate a incêndios, busca e salvamento, prestação de socorros em emergências, desabamentos, inundações, catástrofes, calamidades públicas.
Tenho certeza de que, como Joinville, muitas comunidades e cidades brasileiras se orgulham de iniciativas eficazes e viáveis para resolver seus problemas e destravar seu potencial. Não é possível ficarmos presos a interesses cartoriais num mundo que é ultracompetitivo, mas também cheio de soluções.
O Brasil é muito grande, muito maior que seus problemas. Existe vida rica e intensa fora de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, que às vezes monopolizam demais as discussões e os rumos do país.
O saber e o fazer estão se espalhando. As cidades médias têm tanto a contribuir quanto as nossas grandes metrópoles. Um país cheio de carências só pode ser rico em soluções.
Vamos descobrir as novidades centenárias e as novidades da última hora. Deus não pensou pequeno quando fez o Brasil.
Depois de dois dias de palestras e inaugurações em Joinville, saio gripado e exausto, mas animado e revitalizado por esse espírito cidadão de tocar a vida em comunidade.
Generosidades nesses tempos que às vezes nos parecem ser tão pouco generosos. 
nizan guanaes
Nizan Guanaes publicitário baiano, é dono do maior grupo publicitário do país, o ABC. Escreve às terças-feiras, a cada duas semanas.

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