Publicado originalmente em inglês por Wanli Fang no TheCityFix.
Nenhuma estratégia de redução dos impactos da mudança climática global é completa se não engloba o desafio da urbanização. As cidades contribuem com cerca de 70% das emissões de gases do efeito estufa (GEE) relacionados à energia, apesar de responder por apenas 2% do território global.
Embora reduzir este impacto possa parecer desencorajador, um novo relatório, Better Growth, Better Climate (crescimento melhor, clima melhor, em tradução livre), aponta que há uma série de ações que líderes urbanos podem tomar que reduzem as emissões e levam ao crescimento econômico. O documento descobriu que cidades compactas e conectadas podem economizar 3 trilhões de dólares em investimentos em infraestrutura pelos próximos 15 anos. Não só isso como poderiam também frear a mudança climática, provendo benefícios locais para a qualidade do ar, saúde e qualidade de vida.
Urbanização desestruturada: ruim para o planeta, ruim para a economia
A urbanização está acontecendo um ritmo e escala sem precedentes, com cerca de 60% da população mundial prevista para viver nas cidades até 2030. Nos países europeus, foram 150 anos para que a taxa de urbanização subisse de 10% para 50%, mas agora vemos o mesmo índice ocorrer em um terço desse tempo em muitos países asiáticos. Infelizmente, o paradigma dominante no crescimento urbano – caracterizado pela expansão não estruturada, expansão e aumento da dependência de carros – não é mais viável dos pontos de vista ambiental e econômico.
Uma de nossas preocupações em particular diz respeito à qualidade do ar urbano, projetada para se tornar a principal causa de mortalidade prematura até 2050. Nos 15 países mais emissores de gases do efeito estufa, os danos à saúde em função da má qualidade do ar estão estimado em uma média de 4 % do PIB. Cidades de economias emergentes sofrem ainda mais: Bangalore tem testemunhado um aumento médio de 34% na concentração de poluentes do ar entre 2002 e 2010. Em Pequim, uma estimativa recente sugere que a neblina pesada em janeiro de 2013 causou, sozinha, uma perda de 3,7 bilhões de dólares, 98% destes gastos relacionados com saúde. Outro estudo indica que o custo social total da poluição e do congestionamento do transporte motorizado em Pequim situa-se entre 7,5% e 15% do PIB da cidade, bem acima da média global.
A expansão urbana e a prevalência dos veículos particulares são considerados grandes colaboradores da poluição do ar e das emissões de gases do efeito estufa (GEE). Por exemplo, o transporte em Atlanta (EUA) emite cerca de 10 vezes mais carbono do que o transporte em Barcelona, mesmo com as semelhanças em números populacionais e níveis de renda. A diferença reside no tamanho de Atlanta: 4.280 km², contra os 162 km² de Barcelona.
A poluição do ar é apenas um dos custos econômicos e sociais da urbanização desestruturada, que também compromete o cumprimento das necessidades básicas de infraestrutura, congestionamento e colisões no trânsito, e gera o ciclo insustentável da crescente demanda por energia.
Cidade sustentáveis têm melhor economia
A segmentação dos desafios urbanos, como a qualidade do ar e o congestionamento, pode gerar oportunidades para ações climáticas substantivas, bem como para benefícios econômicos.
Pesquisa da rede EMBARQ sobre os impactos socioeconômicos dos sistemas BRT (Bus Rapid Transit), por exemplo, constatou que somente a melhoria da qualidade do ar resultante da Linha 3 do BRT Metrobús conseguiu poupar 2 mil dias de trabalho que seriam perdidos por quatro novos casos de bronquite crônica e duas mortes em média por ano, economizando à cidade 4,5 milhões de dólares. Na escala global, 11 novos projetos de BRT registrados no México, Colômbia, China, Índia e África do Sul estão previstos para reduzir as emissões em 31,4 milhões de toneladas de CO2 equivalentes a 20 anos. Esse montante equivale a emissões anuais de GEE de mais de 6,5 milhões de carros.
A sinergia entre economia e clima também se aplica à poluição da água e da terra, especificamente no que refere ao desperdício de água e na gestão dos resíduos sólidos. A gestão de resíduos é responsável por 5% das emissões globais e 12% do metano. Estudo brasileiro estima que a intensificação de práticas de gestão de resíduos mais sustentáveis – como projetos integrados e de pequena escala – para cidades de todo o país reduziria entre 158 e 315 toneladas de CO2 e evitaria pelo menos 2500 mortes prematuras por poluição por 20 anos. Enquanto isso, seriam criados entre 40 mil e 110 mil novos postos de trabalho, e seria reduzida de 0,5% a 1,1% a demanda por eletricidade no Brasil. O PIB, por sua vez, aumentaria entre 13,3 e 35,2 bilhões de dólares entre 2012 e 2032.
Cidades emergentes, oportunidades emergentes
As cidades emergentes – as cidades médias de hoje e megacidades do futuro – vão moldar o panorama global da economia e do meio ambiente, uma vez que são as maiores fontes de produtividade da economia e das emissões. Na verdade, um grupo de 291 cidades-médias em rápida expansão de economias emergentes responderão por mais de um quarto da economia global e mais de um terço das emissões relacionadas ao setor de energia nas próximas duas décadas. Dado o rápido início da urbanização e da natureza de longa duração de infraestrutura urbana, é essencial que prefeitos, planejadores urbanos e outros líderes aproveitem a oportunidade para agir agora. As decisões que tomamos hoje podem impulsionar o crescimento econômico e frear a mudança climática, ou perpetuar a urbanização não estruturada que dominou o século 20.
Para saber mais, leia o relatório completo ou assista ao vídeo de lançamento.
Feliz quinta-feira!
ResponderExcluirQue delicadeza na escolha da imagem e do texto, parabéns!
Beijinho
Nicinha