Aumento da longevidade com estagnação da esperança de vida?
Escrito por José Eustáquio Diniz Alves(*)
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“Ninguém quer morrer. Ainda assim, a morte é o destino que todos nós compartilhamos. Ninguém nunca conseguiu escapar. E assim deve ser, porque a morte é muito provavelmente a principal invenção da vida. É o agente de mudança da vida". Com essas palavras Steve Jobs saudou os formandos da Universidade de Stanford, em 2005.

Existe uma corrente de pesquisadores que considera que o ser humano vai conseguir adiar a morte e vai haver um aumento da longevidade dos indivíduos. O biomédico inglês, Aubrey de Grey, disse que já nasceu a pessoa que vai chegar aos 150 anos de idade, superando em muito o recorde da francesa Jeanne Calment que viveu 122 anos e 164 dias. Evidentemente, este tipo de afirmação poderá estar sujeito à comprovação até o ano 2160. Porém, mesmo que esta afirmação se descubra verdadeira em menor espaço de tempo, o aumento da longevidade de uma ou algumas pessoas não significa o aumento da esperança de vida média da população mundial. Como vimos, a previsão média da ONU é de uma esperança de vida ao nascer da população mundial de 82 anos em 2100.
Embora muitas pessoas devam ultrapassar os 100 anos e algumas possam ultrapassar os 122 anos, que é o recorde mundial conhecido e registrado, existem alguns indícios de que não vai ser fácil aumentar a esperança de vida. A crise econômica e ambiental que deve se aprofundar nas próximas décadas tende a estagnar os ganhos de sobrevida.
O exemplo da Rússia serve de alerta, pois a esperança de vida estava em 69 anos em 1985-90 e caiu para 65 anos no quinquênio 2000-2005. Reportagem de 12 de dezembro de 2011 da revista Der Spiegel mostra que a esperança de vida nas parcelas de baixa renda da população alemã caiu de 77,5 anos, em 2001, para 75,5 anos em 2010. No lado oriental, a queda foi maior, de 77,9 anos para 74,1 no mesmo período. No Japão, o tsunami de 2011 e o aumento do número de suicídios entre idosos fez a esperança de vida cair ligeiramente em 2012.
Dados do projeto OSPI-EUROPE, mostram que a taxa de suicídios de Portugal foi de 10,3 por 100.000 habitantes, superior à de quaisquer outras mortes violentas no país. De fato, Portugal é o terceiro país da Europa onde o suicídio mais cresceu nos últimos 15 anos, estimando-se que morram mais de cinco pessoas por dia.
O jornal The Guardian, em matéria de 18 de dezembro de 2011, mostrou que o número de suicídios na Grécia, que era um dos mais baixos do continente (2,8 por 100 mil habitantes) dobrou entre janeiro e maio de 2011, em relação ao mesmo período de 2012. Também aumentou a violência cotidiana na medida em que cresciam o desemprego e as taxas de pobreza. Por fim, existem notícias de pessoas passando fome na Grécia, mas nada comparado com o que ocorreu no inverno de 1941-42, quando mais 300 mil pessoas morreram de fome no país, que vivia então sob ocupação nazista. Enfim, a crise econômica tende a aumentar as taxas de mortalidade e morbidade, embora não haja um perigo iminente de redução drástica da esperança de vida.
Será que vai haver um estancamento da esperança de vida nos países desenvolvidos? Ainda é cedo para fazer qualquer estimativa mais conclusiva, mas a estagnação econômica que abala os Estados Unidos e a Europa pode funcionar como um freio ao constante aumento da esperança de vida. Já nos países em desenvolvimento, que estavam apresentando maiores taxas de crescimento econômico e possuem maiores espaços para diminuir a mortalidade infantil, as projeções indicam a continuidade do aumento da expectativa média de vida, mas, provavelmente, em ritmo mais lento.
Para o mundo como um todo ainda não há como fazer previsões mais precisas quanto aos efeitos da crise econômica e até das mudança climáticas sobre o processo de redução das taxas de mortalidade e o prolongamento médio dos anos de vida. Mas é possível haver um cenário em que haja aumento da longevidade (pelo menos de uma parcela da população global ou regional) com estancamento da esperança de vida ao nascer. É importante acompanhar o que acontecerá no Brasil e no mundo nos próximos anos, pois pode haver novidade no quadro internacional da transição da mortalidade e na composição do grupo etário do topo da pirâmide populacional.
(*)José Eustáquio Diniz Alves - Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas - ENCE/IBGE; Membro da rede de Colaboradores do Portal do Envelhecimento. Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail:jed_alves@yahoo.com.br
Fonte:http://www.portaldoenvelhecimento.com/index.php/longevidade/item/3338-aumento-da-longevidade-com-estagna%C3%A7%C3%A3o-da-esp
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