quarta-feira, 20 de agosto de 2014

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Quem muito fala

Médico de 90 anos dá conselhos sexuais na Índia

Mahinder Watsa desafiou os limites da cultura popular indiana, quando, por exemplo, adotou o uso das palavras pênis e vagina

20/08/2014 | 05h21
Médico de 90 anos dá conselhos sexuais na Índia Kuni Takahashi/NYTNS
Mahinder WatsaFoto: Kuni Takahashi / NYTNS

Toda manhã, o colunista de jornais chamado Dr. Mahinder Watsa, de 90 anos, senta-se no estúdio de seu apartamento. Se o tempo estiver bom dia, uma brisa vinda do Mar da Arábia sopra pela janela.

Em sua frente está uma entrega de correspondência anônima vinda de toda a Índia, algumas manuscritas e deixadas em sua caixa de correio, outras digitadas e enviadas por e-mail. Em seu interior, um crescendo de ansiedade sexual.

"Meu amigo me viu tomando banho. Segundo ele, meu pênis não é maior do que uma castanha de caju. O que devo fazer para aumentar o tamanho?". "Se um homem e uma mulher se masturbam ao mesmo tempo, pensando em sexo, isso pode levar a uma gravidez?". "Eu estava pensando se existe qualquer possibilidade de um rapaz ficar grávido caso ele pratique sexo anal com outro homem".

Watsa não ri quando lê essas cartas, e tampouco chora; ele faz isso há tempo demais. Ele reconhece que se irrita de tempos em tempos, o que fica evidente em algumas de suas respostas – que conseguem ser, ao mesmo tempo, compreensivas e fulminantes. 
Por exemplo:

"Pegue uma régua e meça do osso púbico até a ponta de seu órgão. Se for maior do que 6,35 centímetros, é o suficiente para satisfazer uma parceira". "Não existem anjos para carregar seu esperma até a pessoa com quem você está sonhando". "Sr. Ignoramus, para o restante de suas dúvidas, visite o Google e aprenda o básico".

Em uma cultura que é ao mesmo tempo desorientada e obcecada pelo sexo, Watsa já conquistou a fama de rabugento contador de verdades. Como colunista da seção de "pergunte ao especialista em sexo" do jornal The Mumbai Mirror, ele – gentilmente – desafiou os limites da cultura popular indiana, quando, por exemplo, adotou o uso das palavras pênis e vagina em vez dos eufemismos que costumam ser ensinados às crianças.

Ao longo dos nove anos em que vem escrevendo a coluna diária, pela estimativa de seu editor, ele recebeu mais de 40 mil cartas buscando conselhos sobre problemas sexuais – a grande maioria pedindo informações básicas. Ao respondê-las, ele adentra um vácuo num país onde, segundo estudo do governo conduzido há vários anos, apenas um quinto dos jovens relataram ter recebido qualquer tipo de educação sexual.
Sincero o bastante para inspirar alguns boletins policiais por obscenidade, Watsa é também tão cortês e gentil que fica impossível imaginar qualquer um tomando providências reais. E isso, ao que parece, está no centro de sua forma de insurreição.
— Quando se está tentando fazer algo novo, você sempre encontra alguma obstrução. Melhor fazer a coisa. Você pode pedir desculpas depois — afirmou ele. 
— Encontro você na cadeia — disse ele, com um sorriso travesso.
As sobreposições peculiares da história indiana – com seus conservadores vice-reis vitorianos, haréns do Império Mogol, a reverência hindu pelo celibato e os fade-outs de Bollywood – deixaram para trás um complexo conjunto de proibições sobre o sexo.
Se as pesquisas populares devem ser acreditadas, o indiano médio perde sua virgindade tarde, com quase 23 anos. A maioria dos casamentos na Índia ainda é arranjada pelos pais. Três quartos dos homens em cidades indianas dizem esperar que suas noivas sejam virgens, e os recém-casados muitas vezes dividem pequenas moradias com seus sogros e outros parentes, e ficam sob intensa pressão familiar para se reproduzir.
Embora especialistas na Índia reconheçam que muito do sexo recreativo aconteça fora do radar – "somos hipócritas, não há dúvida quanto a isso", afirmou um deles –, essas estruturas sociais armam o palco para a frustração.
Watsa reuniu um tipo diferente de dados. Em seu consultório em Mumbai, viu casais casados por três anos – ou até mesmo 10 – sem conseguir consumar, incapazes de confrontar os problemas físicos ou a tensão paralisante. Ele consultou jovens adotados pelas matronas de Mumbai, a quem chama de "tias", que convidam meninos de 14 ou 15 anos a suas camas enquanto os maridos trabalham em outros países.
Ele encaminhou tantas noivas para a reconstrução do hímen, permitindo que elas fingissem a virgindade em sua noite de núpcias, que a simples menção do assunto faz seus olhos rolarem com cansaço. Seja qual for seu impulso para desafiar os costumes sociais da Índia, ele é superado pelo desejo de abordar os problemas práticos das jovens que escrevem para ele.
— O único conselho que posso lhes oferecer é: "Fique quieta e negue tudo. Você precisa salvar o casamento" — declarou ele.
Porém, as pessoas que o procuram são principalmente homens preocupados. Eles se preocupam com o tamanho, formato e ângulo de seu pênis e com impotência. Eles se preocupam sobre se é errado fantasiar sobre as mães de seus amigos. E eles se preocupam, infinitamente, sobre se eles podem se ferir enquanto se masturbam, um medo nascido de algumas crenças hindus tradicionais.
— Cinquenta por cento de minhas perguntas são sobre por que o cabelo deles não está caindo. É a zilionésima vez que respondo isso — disse Watsa.
Filho de um médico militar, Watsa estudou ginecologia e obstetrícia e se juntou às fileiras dos ativistas progressistas na Associação de Planejamento Familiar da Índia, que promove a educação sexual e o uso de contraceptivos. Mesmo nesse grupo de mente liberal, porém, seu foco na qualidade da vida sexual o deixou isolado.
Watsa aceitou o convite de Meenal Baghel, editor do The Mumbai Mirror, para escrever a coluna Pergunte ao Especialista em Sexo. Era a primeira vez que perguntas assim apareciam num jornal diário na Índia, em vez de revistas especializadas para homens ou mulheres, e a seção continua sendo – mesmo nove anos depois – um choque diário às sensibilidades indianas.
Ano após anos, muitas informações nas cartas parecem iguais para ele. Elites ricas conseguem as informações de que precisam, e os pobres ficam na escuridão. Mas ele notou algumas mudanças – as mulheres começaram a escrever pela primeira vez, e hoje correspondem a cerca de 30 por cento dos correspondentes. As classes médias se tornaram mais religiosas. E conforme trabalhadores migraram de aldeias para cidades, as delicadas camadas da sociedade indiana começaram a se sobrepor e se ligar de maneiras imprevisíveis.
— Se você me perguntar qual é a configuração da Índia, tudo está completamente descontrolado — afirmou ele.
Mas é difícil falar com Watsa por muito tempo sem ser interrompido. No andar de baixo, um homem esperava por ele num corredor por quase uma hora, e quando seu telefone tocou, era um jovem de 28 anos de Bangalore que havia implorado por seu número a um editor do jornal. Watsa resmungou algumas perguntas no aparelho – um repórter escutando conseguiria distinguir a rigidez das palavras – e então pediu licença para falar com seu visitante.
Ele ressaltou o fato de que hoje oferece conselhos sexuais a homens 60 ou até 70 anos mais novos do que ele. 
—Bem, eles não têm muita escolha — disse Watsa alegremente.
Fonte:http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticia/2014/08/medico-de-90-anos-da-conselhos-sexuais-na-india-4579274.html

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