sexta-feira, 11 de julho de 2014

Sra. Dirce Dias Monteiro Pagni - depoimento

Esta senhora tem uma lucidez, uma capacidade de contato humano que produziu uma vida plena, em que ela não desperdiçou nenhuma oportunidade de convivência com outras pessoas, e também não abriu mão de ser a protagonista de sua própria história, o que resultou em uma vida plena, daí talvez a paz com que administra com muitíssima calma e gratidão sua existência.

                               SINTO DEUS ME CARREGANDO NO COLO

    E sou muito grata por isto, e também a Nossa Senhora de Lourdes, a quem consagro sempre o meu dia, e a minha noite, pedindo sua presença e proteção em meu caminho. Sou Dirce Dias Monteiro Pagni, com 81 anos. Meu esposo Humberto, foi figura médica pioneira nesta cidade, responsável pela primeira campanha pelos diabéticos em praça pública, junto com o Lions Club, em 1984. Encontramos-nos em uma quermesse , quando eu tinha 17 anos, e ele 33. Médico formado fez Economia também, para não desgostar o pai. Ele dizia que eu era a moça que ele tinha sonhado para ele. Do namoro ao casamento levamos uns três anos.
            Era muito ciumento, a ponto de não suportar que eu fosse terminar o curso secundário ou dirigir, o que aceitei dado o amor que sentia por ele. Não pudemos ter filhos, ele não tinha condições pessoais, mas isso nunca me pareceu um problema, só uma determinação divina de ter uma família diferente. Ele trazia do hospital para nossa casa crianças diabéticas que precisavam de uma assistência mais intensa, para ficar um tempo em nossa casa, buscando uma recuperação mais plena. Ficavam três anos, quatro anos, dez anos – sem dúvida, verdadeiros filhos para mim! Sempre muito católica, ainda em minha cidade natal – Rio Claro, na Igreja da Boa Morte, me intrigava a necessidade que sentia de tocar as chagas de São Lázaro, como se pudesse assim ajudar. Um padre amigo sentenciou – ele te laçou, filha!
            Acho que é verdade, pois Humberto, diabético, atendia seus irmãos de doença em casa, e eu naturalmente comecei a fazer os seus curativos, sempre com abençoados bons resultados. Os padres da cidade me chamam de samaritana. Trabalhamos assim por vinte anos, nunca cobramos um centavo pelo atendimento. 
           Com ajuda de um grupo de amigas que compartilhava a preocupação em melhor atender a população diabética , a cada dia aumentando, estruturamos um serviço específico em Americana, a ADAM. Foram seis anos de luta para conseguirmos recursos financeiros e construirmos uma sede funcional. Graças ao serviço prestado à população socialmente mais vulnerável a ADAM foi reconhecida como entidade de utilidade pública, o que nos garantiu base mínima de subsistência permanente, como um serviço social. Propiciamos exames investigativos, oferecemos trabalho de nosso corpo médico e técnico com palestras de psicólogos e nutricionistas. Existe pagamento simbólico, o que é essencial para a adesão ao tratamento necessário de cada um, levando a pessoa a assumir sua responsabilidade pessoal e intransferível no processo de cura ou equilíbrio da doença. 
             Quando meu marido adoeceu cuidei dele também, durante três anos e meio. Desenvolveu osteoporose em função de sua diabetes e precisava usar cadeira de rodas, dada a fragilidade de seus ossos. Depois de seu falecimento continuei com este trabalho de fazer meus curativos e orientações em casa e também na ADAM por mais vinte e seis anos.                                                                                              Tive a graça da força de poder cuidar de minha mãe idosa em seu tempo final de vida, foram dezessete anos, ela faleceu aos oitenta e sete. Durante muito tempo após sua partida, eu sentia subitamente, no quarto que ela tinha ocupado um perfume delicioso de incenso ou rosas. Parapsicólogos afirmaram que se tratava de osmogenese, uma intervenção sobrenatural e divina, de minha parte. Se for de Deus, tudo está bem!
                     Nunca sinto solidão, mesmo quando estou no meio de uma multidão desconhecida. Adoro ler, cozinho para mim mesma, cuido de minha casa, tenho ajuda de uma faxineira semanal. Agora precisei parar de fazer meus atendimentos, foi ordem médica, minha coluna vertebral pede descanso.  Mas continuo recebendo as pessoas que me procuram e ensino as técnicas de cuidado e o uso correto de medicamentos aos familiares da pessoa adoentada.
                   Minha família é muito ligada a mim, somos sete irmãos que mantém contato, Meus ex-pacientes seguem como atuais amigos, me visitando e trazendo terços de todas as partes do mundo, aparelhos para mensurar o nível de glicose no sangue, pequenas lembranças que guardo amorosamente por toda a minha casa.

                “Quando souberes que estou morrendo, lembre-se... estarei sorrindo!” – Santo Lázaro. 
                  Caso real, Elizabeth Fritzsons da Silva, psicóloga, e-mail: bfritzsons@gmail.com


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