sexta-feira, 6 de junho de 2014

Gluten - intestino - celíaco ou sensivel, e o cérebro e gluten? Cérebro não dói como intestino! Se achar oportuno, pesquise!

O significado de sensibilidade ao glúten

A condição intitulada, por investigadores tais como Alessio Fasano, como Sensibilidade ao Glúten Não-Celíaca vai saíndo do pântano de indefinição a que estava votada à medida que surgem mais estudos dedicados a clarificá-la. Este interessanteartigo publicado este mês no blog da revista Scientific American e intitulado "O Que é que Significa Realmente Sensibilidade ao Glúten?" faz um apanhado do que se tem descoberto até agora.


"A senhora é a enfermeira? Parece tão jovem", disse eu à minha mãe enquanto emergia lentamente do sono induzido pela anestesia, aparentemente não suficientemente coerente para saber quem ela era (mas agradecida por o meu discurso drogado ter sido tão educado). Tinha acabado de fazer uma endoscopia, ou seja, um médico havia inserido um pequeno tubo flexível pela minha boca abaixo até ao meu intestino delgado. Ao retirar amostras do tecido intestinal, ele seria capaz de me dizer se eu tinha a doença celíaca, uma doença autoimune em que comer alimentos com glúten provoca a destruição do revestimento interno do intestino delgado.

O diagnóstico chegou rapidamente: negativo. O meu médico explicou que, em vez da doença celíaca, a causa do inchaço e dor abdominal de que eu padecia era provavelmente uma "sensibilidade ao glúten". Se eu removesse ou reduzisse o glúten da minha dieta, provavelmente poderia reduzir os meus sintomas. Assim o fiz. E, quase sempre, ficar longe do glúten significava que o desconforto ficava longe também.

Mas, eventualmente, a minha formação científica venceu-me, e eu tinha que saber o que objectivamente estava a acontecer com o meu corpo. O que significa realmente "sensibilidade ao glúten"?

Infelizmente, não há uma resposta fácil. Quando os pacientes sem doença celíaca exibem sintomas que melhoram com uma dieta livre de glúten, são, muitas vezes, classificados como "sensíveis ao glúten." Esses sintomas podem variar desde a dor abdominal, ao inchaço e à fadiga.

No passado, a própria existência da condição tinha sido questionada pela falta de um diagnóstico claro. No entanto, como observa o New York Times, novos estudos sugerem que a sensibilidade ao glúten existe.

O que este e outros artigos recentes não mencionam é que os pesquisadores descobriram alguns pontos interessantes sobre como isso poderá funcionar. Descobriram também que a chamada "sensibilidade ao glúten" pode não ser causada, de todo, pelo glúten.

Para compreender as novas pesquisas sobre a sensibilidade ao glúten, é importante primeiro entender as outras duas condições induzidas pelo glúten, a doença celíaca e a alergia ao trigo. Ambas as condições envolvem o sistema imunitário.

Na doença celíaca, a presença de glúten no intestino delgado provoca uma resposta do sistema imunitário adaptativo, que é a parte do sistema imunitário que reage a invasores específicos através da produção de anticorpos. A reacção imunitária indesejável, em última análise, leva o corpo a atacar os seus próprios enterócitos saudáveis, as células que revestem o intestino delgado.

Um dos motivos dessa resposta indesejada é porque as pessoas com doença celíaca têm um "intestino esburacado*". Os enterócitos que revestem o intestino delgado estão normalmente “colados” em junções apertadas. Nas pessoas com doença celíaca, a cola não segura. Fragmentos do glúten podem esgueirar-se através desses buracos e provocar uma resposta imune adaptativa que danifica o revestimento intestinal (o mecanismo completo é descrito em detalhe neste artigo de 2009 da Scientific American).

A segunda condição induzida pelo glúten, a alergia ao trigo, também é mediada, em parte, pelo sistema imunitário adaptativo. Nesta condição, o glúten leva a uma síntese de anticorpos IgE, que causam a inflamação. A inflamação pode causar desconforto local e danos no tecido saudável.

As pessoas com "sensibilidade ao glúten", por outro lado, não apresentam evidências para o tipo de reacções imunitárias que ocorrem nos pacientes com doença celíaca ou alergia ao trigo.

Então, o que causa a sensibilidade ao glúten? Algumas pesquisas recentes sugerem que a questão ainda está no sistema imunitário. No entanto, em vez de a parte adaptativa ser a culpada, pensa-se que seja o sistema imune inato o culpado.

Se o sistema imunitário adaptativo é um alfaiate que desenha casacos personalizados, o sistema imune inato usa ponchos de tamanho único. Em vez de produzir anticorpos que reconhecem invasores específicos, as células do sistema imune inato tem receptores conhecidos como TLR que reconhecem os padrões gerais presentes numa variedade de invasores. Em seguida, os TLR desencadeiam uma rápida resposta inflamatória.

Um estudo de 2011 concluiu que os pacientes sensíveis ao glúten têm uma maior expressão dos TLR em comparação com pacientes do grupo de controlo. Esta descoberta sugere o envolvimento do sistema imune inato. Além disso, o estudo confirmou a ideia de que o sistema imunitário adaptativo não está envolvido na "sensibilidade ao glúten." Os enterócitos de pacientes sensíveis ao glúten estão firmemente colados entre si, ao contrário de pacientes com doença celíaca. Em resultado, os fragmentos de glúten não podem entrar por entre as células para activar o sistema imunitário adaptativo.


Mas essa resposta imune inata é realmente causada pelo glúten? Dados de outro estudopublicado em Dezembro sugerem que uma família de proteínas do trigo pode ser a culpada. As proteínas, inibidoras da amílase e tripsina, ou ATI, activaram um tipo de TLR e causaram uma resposta imune inata em células imunes humanas e em ratos vivos.

Curiosamente, o conteúdo de ATI no trigo tem aumentado dramaticamente nos últimos anos. As proteínas ATI protegem naturalmente o trigo de pragas. Como o trigo é produzido para ser cada vez mais resistentes a pragas, o teor de ATI também aumenta. Um aumento das ATI poderia explicar o que parece ser uma quantidade cada vez maior de pessoas sensíveis ao glúten.

As ATI não são a única molécula, que não o glúten, acusada de estar por trás da chamada "sensibilidade ao glúten." Os hidratos de carbono do trigo, conhecidos como FODMAP**, também têm sido implicados. No entanto, estas moléculas não causam desconforto abdominal ou outros sintomas capazes de provocar uma resposta imune. Em vez disso, a natureza destes indigestos hidratos de carbono pode provocar retenção de líquidos e gases no intestino delgado, criando inchaço.

Embora tenhamos feito alguns progressos para compreender melhor o que pode causar "sensibilidade ao glúten", muitas perguntas permanecem. Enquanto isso, para aqueles cujos médicos recomendam uma dieta isenta de glúten, haverá abundância de alimentos para escolher, à medida que o mercado de produtos sem glúten continua a crescer."

* Leaky Gut, no original.
** “Fermentable Oligo-, Di- and Mono-saccharides And Polyols”

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