TEMPOS DIFÍCEIS, QUE ME FIZERAM MAIS FORTE
Tinha quinze anos,
estudava à noite, a carona da volta falhou, não quis incomodar meus pais, eu e
minha colega decidimos voltar a pé para casa.
Havia uma pista de
autoestrada para atravessar. Não quisemos enfrentar a passarela de segurança –
lá havia um grupo de moços que só deixavam a gente passar se pagássemos o
pedágio.
Senti o impacto do
carro me atropelando, ele não parou para me socorrer.
Foram oito
cirurgias, anos de sofrimento pela dor física e por muitos sonhos e aventuras
que seriam de direito de uma pessoa jovem que precisaram ser repensados.
Precisei parar de
estudar, o saldo físico foi a colocação de placa de metal para firmar o quadril
quebrado (que sempre será um problema em portas de segurança), o rompimento dos
ligamentos do joelho e a movimentação incompleta do pé, que resulta em marcha
comprometida. Um ano de cadeira de rodas, dois em tratamento. Hoje ando, mas
sou lenta. Meio moleca, jogava futsal, fazia trilhas, queria pular de
paraquedas. Proibiram esportes de contato. Sonhava viajar só com um mochilão.
Possível futura maternidade comprometida.
Aceitar ser pessoa
com deficiência foi difícil, impossível para alguns “amigos” que se afastaram.
Acabei há poucos
dias curso de auxiliar administrativa na escola Senai, de 800 horas, voltado
para pessoas com deficiência. Fui a oradora da turma. Meus escritores
prediletos: Mario Quintana, Lorca e Drummond. Estou em busca do emprego – é
bizarro, mas procuro como pessoa comum e como pessoa com deficiência.
Faculdade no futuro?
Sim, em Comunicação.
Hoje tenho dezenove
anos, sou Mayara.
“Olhar à direita e à esquerda do tempo, e que teu coração
aprenda a estar tranquilo. ” Federico Garcia Lorca.
Caso real, Elizabeth Fritzsons da Silva, psicóloga,
bfritzsons@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário