quinta-feira, 27 de agosto de 2015

A deficiência, no caso e em muitos outros é resultante de nossas deficiências sociais de segurança, de transporte publico, de inclusão no trabalho...

 TEMPOS DIFÍCEIS, QUE ME FIZERAM MAIS FORTE

   Tinha quinze anos, estudava à noite, a carona da volta falhou, não quis incomodar meus pais, eu e minha colega decidimos voltar a pé para casa.
   Havia uma pista de autoestrada para atravessar. Não quisemos enfrentar a passarela de segurança – lá havia um grupo de moços que só deixavam a gente passar se pagássemos o pedágio.
   Senti o impacto do carro me atropelando, ele não parou para me socorrer.
   Foram oito cirurgias, anos de sofrimento pela dor física e por muitos sonhos e aventuras que seriam de direito de uma pessoa jovem que precisaram ser repensados.
   Precisei parar de estudar, o saldo físico foi a colocação de placa de metal para firmar o quadril quebrado (que sempre será um problema em portas de segurança), o rompimento dos ligamentos do joelho e a movimentação incompleta do pé, que resulta em marcha comprometida. Um ano de cadeira de rodas, dois em tratamento. Hoje ando, mas sou lenta. Meio moleca, jogava futsal, fazia trilhas, queria pular de paraquedas. Proibiram esportes de contato. Sonhava viajar só com um mochilão. Possível futura maternidade comprometida.
   Aceitar ser pessoa com deficiência foi difícil, impossível para alguns “amigos” que se afastaram.
   Acabei há poucos dias curso de auxiliar administrativa na escola Senai, de 800 horas, voltado para pessoas com deficiência. Fui a oradora da turma. Meus escritores prediletos: Mario Quintana, Lorca e Drummond. Estou em busca do emprego – é bizarro, mas procuro como pessoa comum e como pessoa com deficiência.
   Faculdade no futuro? Sim, em Comunicação.
   Hoje tenho dezenove anos, sou Mayara.
“Olhar à direita e à esquerda do tempo, e que teu coração aprenda a estar tranquilo. ” Federico Garcia Lorca.
Caso real, Elizabeth Fritzsons da Silva, psicóloga, bfritzsons@gmail.com
  


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