A campeã exibindo as muitas medalhas que já conquistou na natação
Exibindo as muitas medalhas que conquistou na natação
Maya Santana
Eu sempre me encanto com histórias como a da arquiteta Nora Rónai. Competindo recentemente pelo Torneio Mais Mais de Natação Master, em Campinas (SP), ela bateu o recorde mundial nos 100 metros borboleta, com um tempo de 3’51″. Nora tem 90 anos. Sua história é extraordinária em muitos sentidos. E eu quero contá-la aqui, porque essa nonagenária tenaz e bem humorada se apresenta como um exemplo acabado de quem tornou a prática de esportes uma aliada do bem viver.
Nora nasceu em Fiume, na Itália, atual cidade de Rijeka, na Croácia. De família judia, sentiu na pele a hostilidade dos nazistas. Ainda bem jovem, em 1941, mais de 70 anos atrás, fugiu com a família para o Brasil. Sua história cheia de aventuras até a chegada ao país que adotou como sua pátria está no livro “Memórias de um lugar chamado onde” (Casa da Palavra), que acaba de ser lançado. Aqui, ela casou-se como o tradutor, crítico e professor Paulo Rónai, e teve duas filhas, as duas muito bem sucedidas: Cora Rónai, jornalista e escritora, e a flautista Laura Rónai. Formou uma família conhecida pelo cultivo do intelecto.
Livro com a história da autora
Livro com a história da autora
A arquiteta sempre gostou de natação, um hobby que vem cultivando ao longo do tempo. Até hoje, durante quatro vezes por semana, ela caminha até um clube, nada 1.600 metros e volta a pé para casa. Mas só começou a competir (categoria Master) em 1993, quando já beirava os 70 anos.  “Comecei a praticar a natação por indicação da cardiologista do meu marido. Ele fazia tratamento contra um câncer na garganta, estava fraquinho e eu muito triste com aquela situação. Foi quando a médica dele disse que eu precisava fazer alguma coisa para ocupar a minha mente e me deu como opção a natação. Eu comecei e nunca mais parei”, contou ela.
O engajamento em competições se deu um ano após a morte do companheiro de uma vida inteira. “Acredito que foi a natação que me salvou da insanidade, do desespero. Me ajudou muito a superar o sofrimento” – confidenciou ela numa entrevista ao jornal O Globo.
Ela acredita que a natação livrou-a da depressão
Ela acredita que a natação livrou-a da insanidade
Uma de suas maiores marcas, e talvez por isso eu a admire tanto, é um misto de coragem e ousadia. Fez slalom e saltos ornamentais quando jovem. É fã daqueles esportes dos quais eu morro de medo, os chamados esportes radicais. Uma década atrás, quando completou 80 anos, comemorou a nova idade pulando de paraquedas com a neta Júlia, filha da Cora, no Rio de Janeiro. Na volta, comentou:  “Achei divertidíssimo”. Nora Rónai é assim, uma mulher muito distante do padrão comum.
Considerada por amigos e colegas uma das maiores nadadoras na categoria Master de todos os tempos, Nora, entrando na nona década de vida, resume assim seu caso de amor com a natação: “Depois da aposentadoria temos que buscar algum tipo de lazer. Algumas pessoas começam a jogar cartas, a fazer tricô ou crochê, mas eu não sei fazer nada disso, eu só sei nadar. A natação tem o poder de me fazer feliz, quando estou triste basta entrar em uma piscina para que a alegria volte”.