sábado, 22 de novembro de 2014

Low Carb - Reflexões sobre saúde e alimentação


Posted: 21 Nov 2014 12:01 PM PST

Li o livro "Colapso" há quase dez anos. Boa parte das convicções sobre nutrição que tenho hoje em dia se baseiam em estudos de antropologia. Esse, sem dúvida, é um livro ímpar. Sugiro sua leitura para todos! É uma viagem no tempo e na história do homem pós agrícola. Uma história de Colapsos...


  

 C O L A P S O 


Como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso? Essa é proposta de Jared Diamond em seu brilhante livro – Colapso – da editora Record. É um livro de quase 700 páginas, repleto de informações de caráter técnico, histórico, antropológico e geográfico, mas que são oferecidas ao leitor num ritmo de uma excepcional e apaixonante narrativa, que prende da primeira à última página.
O autor é um ambientalista, e ele se identifica como tal no início de sua obra. A sua tese foi construída, graças ao emprego de modernas técnicas de investigação em arqueologia, originando uma fascinante perspectiva de como grandes sociedades do passado chegaram ao colapso total, após séculos de exuberância, por terem promovido graves equívocos no manejo com o seu meio ambiente.
De início ele já aponta para um fato relevante: os povos do passado não eram maus administradores ignorantes, tampouco eram ambientalistas que saberiam resolver problemas, que até hoje não conseguimos resolver. Não haveria um dolo premeditado. O final de suas sociedades se deu, por fatores muitos semelhantes àqueles que levarão nossa sociedade ao seu fim.
A linha mestra do colapso passa necessariamente pelo dano ao meio ambiente. Esse dano pode ser de várias formas. A mais óbvia é o uso excessivo dos insumos da natureza numa velocidade maior que ela possa devolver aos seus usuários. Muitas vezes isso ocorreu por erros de leitura do homem com o seu meio ambiente. Algumas vezes esse erro pode ter sido provocado por uma avaliação traiçoeiramente positiva das qualidades de um determinado ecossistema. Isso pode ter levado algumas sociedades a se estabelecerem em locais que se exauriram rápido demais, devido a uma utilização inapropriada da agricultura, por exemplo. Outras trataram o solo de forma equivocada, o que favoreceu a erosões do solo, que inviabilizou a produção alimentar.
Muitos locais do planeta ficaram inviabilizados para a vida pela ação negativa do envenenamento da terra e das águas por práticas devastadoras de extração de minerais ou pela pesca com explosivos.
Mas, uma das maneiras mais impressionantes que levaram algumas sociedades a não serem nada além do que ruínas de sítios arqueológicos da atualidade foi o fato delas levarem ao extermínio seus recursos naturais. Os povos da ilha da Páscoa cortaram até a última árvore nativa antes do seu fim! O que teria levado uma sociedade capaz de produzir fantásticas obras de construção serem capazes ao mesmo tempo de provocarem um final tão patético? Um povo que chegou provavelmente a milhões de indivíduos em seu apogeu, e que ergueu monumentos de mais de 200 toneladas, com altura de até 20 metros, sem guindastes, levou ao esgotamento total as  potencialidades de seu meio ambiente, e por isso sucumbiu pela fome e miséria. E essa tragédia pode ter ocorrido após quase 800 anos de sucesso pela mera necessidade de ostentar poder!
Em outra parte do planeta, os sítios arqueológicos dos vikings da Groenlândia nórdica, mostram o extermínio de europeus que subsistiram vários séculos num local reconhecidamente inóspito. No entanto nessa mesma ilha, vivem até hoje povos Inuits (esquimós, originários da América do Norte). Os europeus presos a um conjunto de crenças que lhes foi fatal morreram de fome e de frio. Foram traídos por aspectos climáticos. Não tiveram capacidade (ou humildade) de aprender com povos pagãos, como esses Inuits, a subsistir! Não abriram mão de suas crenças alimentares, religiosas e de arranjo social! Cometeram o grosseiro erro de se julgarem capazes de manipular o ecossistema à sua sabedoria! Não ficou ninguém para relatar aos outros povos nórdicos o que deu errado. A portentosa fazenda de Gardar (um dos maiores sítios arqueológicos das antigas colônias vikings), deve ter visto seus moradores, os mais ricos dessas colônias, usufruir a vantagem final de quem tem poder. Os mais ricos foram os últimos a, também, morrerem de fome.
Há vários outros exemplos modernos e muito próximos de nossa realidade tratados nesse livro. Dá para entender um pouco melhor a questão do Haiti, de Ruanda, da Austrália, entre outras. O autor examina, sem o preconceito de um ambientalista, o papel de grandes empresas, e fornece um generoso inventário das possibilidades de uma atitude negativa na relação do homem e suas sociedades com o meio ambiente.
Colapso é uma obra farta de ilustrações vigorosas, apoiadas por métodos de pesquisa que tornam robustas as linhas de raciocínio de um autor perspicaz e que nos dá elementos de reflexão que visam nos oportunizar a confecção de posturas que podem nos iluminar um futuro com esperança. Não é um livro apocalíptico. É mais uma chance de aprendermos com o que já fizemos no passado, e com o que continuamos a fazer no presente.
Possivelmente estamos fazendo muito mais coisas ruins do que boas com a natureza. Esse caminho só poderá levar a um tipo de futuro. Esperamos não ter passado do ponto de equilíbrio, e que ainda se abra uma luz de compaixão com nossos netos, para oferecer a quem nos sucede um planeta minimamente viável. Ou será que queremos ter a mesma “honra” dos vikings de Gardar?




(COLAPSO – Como as sociedades escolhem o fracasso ou o sucesso, de Jared Diamond, editora Record, 2005, 685 págs.  – tradução do original em inglês: “Collapse”)

José Carlos Brasil Peixoto - 20/01/06




Posted: 21 Nov 2014 04:10 AM PST

Um exame cruel:
Desnudando os laboratórios farmacêuticos

“A medicina acadêmica (americana) está a venda?” - pergunta Márcia Angell, ex-editora chefe do New England Journal of Medicine. A resposta que obteve: “A medicina acadêmica está à venda? Não! O dono atual está muito feliz com ela!”
Esse tipo de informação está em debate no indispensável livro “A verdade sobre os laboratórios farmacêuticos” da editora Record.
A enorme desconfiança que os fabricantes de medicamentos vem recebendo do público consumidor nos Estados Unidos parece ser mais do que justificável. A leitura desse detalhado exame, realizado por uma das pessoas mais influentes da opinião pública americana, pode se assemelhar em certos momentos à leitura de um livro de terror e suspense, e seria ótimo se fosse apenas isso, afinal de contas os relatos e observações dizem respeito aos medicamentos que milhares de milhões de pessoas utilizam, acreditando na boa fé de que os fabricam, mesmo que os preços amassem os orçamentos pessoais, ou inviabilizem as políticas públicas de fornecimento de medicamentos gratuitos à população. Aliás, esse termo - gratuito - jamais poderia constar como adjetivo na divulgação de programas de fornecimentos de medicação (e vacinas), pois, tudo que chega a população é excepcionalmente bem pago por todos os contribuintes do país, mesmo aqueles que compram esses medicamentos nas farmácias, (que não são poucas na paisagem urbana atual, o que nos levar a confirmar a idéia de que é altíssima a rentabilidade de auxiliar as pessoas a se manterem medicadas).
Dra Marcia Angell
A Dra. Angell traça um percurso bastante abrangente sobre a avaliação dos laboratórios e suas considerações são muito consistentes, pois utiliza dados sob a perspectiva de uma “insider” do sistema.
Naturalmente a formação do preço é alvo de ampla prospecção. Nós poderíamos compreender os altos custos dos medicamentos novos e úteis pela complexa máquina que supostamente envolve a pesquisa de novas substâncias. Porém isso esbarra na incrível revelação de que a maioria das pesquisas é realizada por Institutos Nacionais de Saúde (NIHs), subsidiados por dinheiro do governo americano, logo dos próprios contribuintes. Dessa forma a esmagadora maioria dos investimentos consumidos pela parte nobre da produção de um medicamento – P&D: Pesquisa e Desenvolvimento – é bancada pelo futuro consumidor. As gigantescas cifras envolvidas nos gastos da indústria farmacêutica são dependidas em... marketing! A agressividade no marketing é mais pesquisada pelos grandes laboratórios do que qualquer outra coisa. A onda absurda de propagandas diretas ou estilizadas na mídia é uma das expressões mais óbvias disso. Mas há também muito dinheiro envolvido na disseminação das “pretensas” amostras grátis em consultórios médicos e hospitais. É óbvio que a gratuidade das amostras será regiamente compensada pelo preço final ao consumidor.
O exame da autora sobre a atitude amplamente aceita dos laboratórios bancarem simpósios científicos e até mesmo financiarem os Programas de Educação Continuada, além de ofertarem todo o tipo de brinde e presentes aos médicos, nos deixa com a desagradável impressão de a palavra corrupção seria um adjetivo quase gentil para esse tipo de procedimento.
Afinal todos os laboratórios farmacêuticos são corporações financeiras que têm como objetivo número um o lucro. Mesmo que isso possa parecer antipático para os crédulos de que exista bondade e comiseração nas altas esferas do capitalismo, os dados mostrados nesse impressionante livro não vão dar margem a muita gentileza com empresas do porte da Bayer, Ely Lilly, Johnson entre outras poucas, que formam um ostensivo cartel.
A FDA (órgão de administração de medicamentos e alimentos americana), vista por muitos no Brasil como entidade de respeito e veneração não passa de uma instituição reduzida a validar o desejo insaciável desses laboratórios de se manterem numa curiosa faixa de exclusividade e monopólio das pesquisas em saúde. Acreditar na imparcialidade e capacidade do FDA é tão ingênuo quanto a crença que tínhamos que o DDT era inofensivo para o ser humano, que a iniciativa de colocar flúor na água potável seria a idéia de dentistas, ou de que jamais alguém poderia colocar soda cáustica no leite das crianças.
O comércio dos medicamentos nos EUA é uma rede de interesses tão intricados e bem defendidos nos meios políticos americanos que não há como crer em idoneidade como   predicado positivo dessa indústria. São bilhões de dólares envolvidos! E o jogo político é levado ao extremo na defesa desses valores!
A maquiagem dos medicamentos é um outro dado muito curioso levantado pela autora. Isso acontece pela existência de uma curiosa lei de patentes em vigor naquele país. A história do Claritin® e doDesalex® é desoladora, (são a rigor a mesma substância, mas o segundo é derivado do primeiro, processo que o corpo humano efetivamente executa), os preços mais elevados do segundo não são explicáveis pelo eventual gasto em pesquisa e desenvolvimento. Mas mais inacreditável é a história do AZT, o famoso remédio para combater a AIDS. Como sabemos é uma doença que ganhou notoriedade nos anos 80 (1983), e seria justificável imaginar que medicamentos para uma doença grave como essa pudesse ter preços elevados pelo custo de sua pesquisa. Mas não seria o caso do AZT, que foi sintetizado em 1963, muitos anos antes, e além do mais por uma instituição federal a Michigan Câncer Foundation. Os preços elevados têm mais a ver com a aplicabilidade desse medicamento (originalmente projetado para tratamento de câncer, além de ser útil para quadros virais como o herpes) em uma doença que ganhou evidência, do que com a eventualmente trabalhosa descoberta de uma Nova Entidade Molecular. Nesse caso certamente nada de novo foi criado. Nesse e em muitos, muitos outros mais.
Isso faz parte da luta incansável de se criar outros usos para medicamentos muito conhecidos ou de uso muito restrito. Isso possivelmente explique o uso de medicamentos velhos em situações novas e de alta lucratividade, por uma necessidade inusitada. Por exemplo, o uso de remédios anticonvulsivantes no novo grupo de difícil descrição como os remédios estabilizadores de humor! (como: Depakene®, Topamax® ou Lomatrigina®). Ou o retorno de um antiinflamatório démodé como o ibuprofeno (Alivium®), subitamente levado à primeira escolha no tratamento de febre em crianças, apesar da noção mais criteriosa de não se medicar às cegas quadros não bem definidos, como uma febre súbita sem outros sintomas. Todos sabem que antiinflamatórios podem obscurecer a expressão clínica de uma enfermidade em  suas primeiras manifestações. Mas o marketing foi muito eficiente e esse remédio é muito vendido. O uso da fluoxetina na enigmática sintomatologia da fase pré-menstrual sofisticadamente denominada de Transtorno Disfórico Pré-menstrual, sob forma de pílulas coloridas, mas com um nome diferente do conhecido Prozac®, é outro exemplo de maquiação (nos EEUU o produto com o nome Serafem® é a substância fluoxetina em pílulas de cor diferente do Prozac®, e por estar com cor e nome diferente ficou com nova indicação!), mas isso pode ser uma estratégia muito mais comum do que gostaríamos que fosse..
Desalentador, também,  é averiguar que nos últimos anos pouquíssimos remédios realmente novos foram oferecidos à população, e a ampla maioria desse pequeno contingente não saiu de dentro dos poderosos laboratórios farmacêuticos industriais.
Da compra pesada de influência política e legal à produção de pesquisas ridículas que comparam novos produtos com placebos e não com seus antepassados de eficiência já comprovada, passando pela criação de uma noção fortemente sofismável de que os novos remédios são melhores que os antigos (para o problema da hipertensão parece certamente que não são), além da criação de diagnósticos novos e amplamente imprecisos, e da alteração da percepção popular das necessidades terapêuticas (afinal para quem está dirigida o marketing de venda de produtos como o Viagra®senão que para pessoas jovens que em tese não seriam os naturais candidatos ao seu consumo), as informações de Márcia Angell podem parecer um pesado excesso de realidade.
Mas sua leitura é fundamental. Muitas vezes pode ser rude com o leitor. Mas o consumidor tem que conhecer as premissas que construíram a cultura medicamentosa dos tempos modernos.  E os profissionais de saúde não devem abrir mão do seu direito de construir uma sociedade que precisa de fato de uma pesquisa científica independente e genuína, longe dos perversos e constantes conflitos de interesses que construíram o onipresente capitalismo científico - lamacento e redundante, mas soberano nas prescrições medicamentosas caras, perigosas e desnecessárias dos receituários que a maioria da população vem recebendo.

      
Livro: A verdade sobre os laboratórios farmacêuticos – como somos enganados e o que podemos fazer a respeito – Marcia Angell, editora Record, edição de 2007, 319 páginas. Tradução do inglês: “The truth about the drug companies”.

José Carlos Brasil Peixoto – 021107
Fonte:http://lipidofobia.blogspot.com.br/

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