terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Acessibilidade em nossos hospitais - depoimento de uma brasileira

Fonte: http://saci.org.br/index.php?modulo=akemi&parametro=40029

 Como anda a acessibilidade nos hospitais?

Rede SACI
28/01/2014

Texto de Adriana Lage.

Adriana Lage
Na semana passada, minha irmã foi fazer uma cirurgia e me deparei com o seguinte problema: uma tetra poderia ser sua acompanhante? Não sou uma assídua frequentadora de hospitais, mas, nos locais por onde passei, a acessibilidade ainda deixa a desejar. Como não consigo nem me transferir sozinha, seria meio sem noção ficar com minha irmã no pós operatório. Foi a primeira cirurgia da vida dela, com direito a anestesia geral. Logo que foi para o quarto, fui passar a tarde com ela.

Assim que cheguei ao hospital, me surpreendi com um catador de papel. Meu pai tinha acabado de estacionar o carro numa vaga reservada e retirar a cadeira de rodas do porta malas. Quando me viu dentro do carro, o homem me deu um sorriso e se dirigiu à cadeira de rodas. Ele fechou os olhos, estendeu um dos braços em direção à cadeira, fez uma prece e se foi. Muito legal! Quero dizer... acho que ele me desejou coisas boas! Bons fluidos são sempre bem vindos.
O hospital escolhido pela minha irmã fica próximo ao que costumo frequentar. Logo que fiz meu plano de saúde, sempre recorria a ele quando precisava de alguma emergência. É o que fica mais próximo à minha casa. Que eu me lembre, nunca vi nada específico para cadeirantes. Fiz uma eletroneuromiografia por lá, na época dos exames admissionais, e tive que ser carregada para subir na maca. Da mesma forma, quando tive um princípio de pneumonia, quase cai da cadeira de rodas quando fui fazer um raio x. O técnico me disse que eu precisaria tirar meu sutiã. Como estava mal, custando a me equilibrar sozinha, pedi ajuda a ele. Sem jeito mandou lembranças! Eu me lembro de ter me desequilibrado e tombado na cadeira de rodas agarrada ao pescoço dele. Tivemos que buscar reforços! Nessa época, ainda era quase uma anoréxica com apenas 30 quilos.
Logo que me identifiquei na recepção do hospital, perguntei se precisaria identificar minha cadeira de rodas. No hospital que frequento, sempre preciso colar um adesivo informando que a cadeira não pertence ao patrimônio do hospital. A chegada até o quarto foi tranquila. Ao longo do caminho, reparei que algumas salas possuem degrau na entrada.
O que mais me chamou atenção foi o banheiro do quarto. Ele possui um degrau na entrada e outro no Box. O espaço entre o vaso sanitário e o Box não permite a entrada de uma cadeira de rodas. Não entra na minha cabeça uma coisa dessas! E se o paciente não conseguir andar, mesmo que temporariamente, ou for cadeirante? Vai tomar banho na cama? O ser humano se acostuma a tudo nessa vida. Mas, convenhamos, tomar banho de pano é terrível! Ninguém merece.
Ri demais quando estava comprando um suco naquelas máquinas de colocar moedas e uma senhora foi mexer comigo. Ela logo abriu um sorrisão ao me ver na cadeira de rodas. Quando descobriu que a cadeirante era apenas visitante, quis saber mais sobre mim. Acho interessante duas posturas: na primeira, as pessoas tendem a imaginar que o cadeirante é sempre paciente. Raramente, pensam que é um acompanhante ou visitante. Outra situação recorrente é o fato das pessoas acharem que estou na cadeira de rodas porque estou no hospital. Há uns dois anos, um residente de ortopedia se assustou quando disse que era tetraprésica com comprometimento motor na C5. O homem me deu um sorriso amarelo e me pediu para contar a causa da minha deficiência umas três vezes. Quando viu que estava perdido, buscou reforços.
Em 2010, tive um cálculo renal de 7 mm. Ele me pegou totalmente de surpresa. Graças a Deus, foi filho único. O médico que me atendeu na emergência, ficou bobo com o fato de ter resistido sem tomar Buscopan na veia. O danado começou a se movimentar lá pelas 10h da manhã e quase me matou de tanta dor. Estava trabalhando quando comecei a sentir muitas dores. Minha pressão foi caindo, fui tremendo e ficando pálida. Como nunca tinha tido problemas relacionados aos rins, bexigas, infecções urinárias, etc, recorri à emergência ginecológica. A maca, para variar, era altíssima e fui carregada pelo médico. Ele logo desconfiou que, pela altura da dor, era cálculo. Quando fiz o ultrassom, lá estava a “maledita” pedrinha. O urologista que me atendeu era uma gracinha. Ele me convenceu a fazer uma litotripsia. Pelo fato de ser cadeirante, ele tomou todos os cuidados possíveis e preferiu pecar pelo excesso. De seis em seis meses, voltava ao hospital para repetir os exames. Como, felizmente, está tudo bem, fui liberada dos retornos semestrais.
Será que existem quartos adaptados em hospitais? Pelo o que tenho visto em clínicas médicas e de fisioterapia, a realidade ainda é bastante complexa quando se trata de acessibilidade. No hospital que frequento, nunca vi móveis adaptados. Sempre preciso ser carregada para subir nas macas. Nas salinhas de ultrassom, por exemplo, a cadeira de rodas não entra no banheiro que é bem estreito. Acabo tendo que ser carregada e fazer malabarismo no recinto. O mesmo acontece com o oftamologista. Apenas quando recorro ao otorrino – especialidade que bati recorde em 2013 com tantas “ites” por stress – é mais tranquilo. Geralmente, os médicos me atendem na cadeira de rodas.
Enfim, precisamos melhorar a acessibilidade nos hospitais e clinicas. Eu penso assim: quando vamos a um hospital, normalmente, estamos debilitados. Quanto menos stress e confusão, melhor!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Oferecemos arquivo de textos específicos, de documentos, leis, informativos, notícias, cursos de nossa região (Americana), além de publicarmos entrevistas feitas para sensibilizar e divulgar suas ações eficientes em sua realidade. Também disponibilizamos os textos pesquisados para informar/prevenir sobre crescente qualidade de vida. Buscamos evidenciar assim pessoas que podem ser eficientes, mesmo que diferentes ou com algum tipo de mobilidade reduzida e/ou deficiência, procurando informar cada vez mais todos para incluírem todos.