Preconceitos e neuras à parte, o
que realmente me preocupa na condição
de mulher com deficiência são os
acessos. Segundo o IBGE, no Brasil,
cerca de 46% dos 27 milhões de pessoas
com deficiência são mulheres.
A maioria delas não tem acesso aos
serviços de saúde comuns ao público
feminino, como um acompanhamento
ginecológico e a realização de
exames preventivos a doenças como
câncer de mama. Tudo isso por conta
da ausência de postos de saúde
acessíveis. Para se ter uma ideia, em
todo o Estado de São Paulo só há
um hospital com mamógrafos adaptados.
Isso porque estamos falando
do Estado mais rico do Brasil.
As mulheres com deficiência física
são as que mais sofrem com esta falta
de acesso. Depois da cadeira de rodas,
muitas mulheres deixam de frequentar
um consultório ginecológico. Além de
enfrentar a mudança de tratamento
do marido, da família, e da sociedade
que a encaram como um ser com a sexualidade
inativa, os postos de saúde
não têm recursos nem equipamentos
para atender mulheres com deficiência
como ela. Falta acessibilidade para
ê-la no lugar.
Como mulher, cidadã e pessoa pública
luto para mudar este cenário.
Sei que com os mesmas oportunidades
conquistaremos muita coisa. Eu sou a
prova disso. Não me mexo quase nada
do pescoço para baixo, mas e daí: eu
trabalho, me divirto, cobro meus direitos.
Luto pelo de outras pessoas. E
principalmente, eu ainda corro muito.
Em uma maratona frenética, onde me
recuso a correr sem vislumbrar a felicidade.
A mulher com deficiência que tem
acesso aos serviços necessários para
uma vida digna pode contemplar a
plenitude de sua feminilidade. Pode
ser mãe, profissional, as duas coisas.
Várias coisas. Ou nenhuma, se assim
desejar. A deficiência não a impede
de fazer nada. Agora, a deficiência
da cidade sim. Tudo depende de acessos,
de oportunidades. Para trabalhar
é preciso ter saúde. E para tal deve
existir acesso. Para amar é preciso ter
o respeito dos outros e confiança em
si mesma. Para isso, é preciso ter qualidade
de vida. Ou seja, o externo
reflete no nosso interno.
No fundo mesmo, o que toda mulher
com deficiência quer é o mesmo
que todas as cidadãs almejam. Respeito,
reconhecimento, amor. Não
necessariamente nesta ordem. Talvez,
a forma como elencamos nossos
desejos seja a única coisa que nos
difere uma das outras.
Com deficiência ou não podemos
nos tornar profissionais exemplares,
atletas de respeito, políticas. Mães.
Também podemos, simplesmente,
ser mulheres. E convenhamos, isso
já não é para qualquer um.
Mara Gabrilli é deputada
federal
Fonte: http://www.ame-sp.org.br
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