quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Viagem sem barreiras: Hotéis se adaptam e atraem novos turistas com deficiência

by Ricardo Shimosakai
Piscinas com acesso através de rampas e guinchos de transferência, além de cadeiras anfíbiasPiscinas com acesso através de rampas e guinchos de transferência, além de cadeiras anfíbias
Por dois anos, o empresário José Fernandes Franco investiu na transformação do seu hotel, na cidade de Socorro (SP), em um espaço para receber turistas portadores de deficiência ou que tivessem dificuldade de locomoção. O investimento inicial - cerca de R$ 40 mil para adaptação de quartos - se juntou ao desenvolvimento de pesquisas e equipamentos que transformaram o hotel.
 A adaptação aumentou o volume de visitantes dos empreendimentos de José: Hotel Fazenda Campo dos Sonhos e Hotel Parque dos Sonhos. “Desde que transformamos nossas instalações, aumentamos a ocupação dos hotéis de 60% para 90%”, diz. O reconhecimento veio também através de prêmios, com os títulos Best for People with 765’Disabilities (Melhor para Pessoas com Deficiência) e World Reponsible Tourism Award – Overall Winner (Prêmio de Turismo Responsável no Mundo) na World Travel Market (WTM) - maior feira de turismo do mundo.
“Foi surpreendente o número de pessoas com deficiência que passaram a visitar o hotel. As pessoas com deficiência, inclusive, quando viajam sempre estão acompanhadas de pelo menos mais três pessoas, o que aumentou a ocupação do hotel”, explica José, nesse mercado há 15 anos.
Em 2013, o hotel recebeu quatro mil hóspedes que eram portadores de algum tipo de deficiência, além de 30 mil que não tinham nenhuma limitação, sendo 50% do público oriundo da Grande São Paulo.
O local possui cadeira de apenas uma roda para fazer trilhas guiadas, além de cardápios e mapas em Braile, rampas de acesso e acomodações adaptadas para atender idosos, pessoas com deficiência de todos os tipos e obesos. Há ainda apartamentos com canil para cães guias.
Desde 2012, os hotéis são os únicos empreendimentos do Brasil com certificação da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), voltada à Acessibilidade em Meios de Hospedagem, e também a contar com suporte de equipes de emergência, fisioterapia e guias especiais.
“As pessoas com deficiência têm muita vontade de viajar, tempo e dinheiro para realizar seus passeios. É uma questão social, mas também empresarial. A acessibilidade não é só para pessoas com deficiência. Um carrinho de bebê tem os mesmos limites de uma cadeira de rodas”, ressalta.
Os hotéis de Socorro atendem a uma demanda imensa. “São mais de 45 milhões de brasileiros que possuem algum tipo de deficiência, de acordo com os dados do IBGE, e que muitas vezes não viajam por não ter a sua disposição informações sobre a acessibilidade dos destinos, empreendimentos e atrações turísticas”, explica o coordenador-geral de Programas de Incentivo a Viagens (CGPIV) do Ministério do Turismo, Vitor Iglezias Cid.
O Estudo de Perfil de Turistas - Pessoas com Deficiência, realizado pelo ministério e pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, detectou comportamentos bem heterogêneos para as viagens.
"Há desde viagens rápidas: de 2 a 4 dias; viagens de uma semana e até viagens mais longas, de 15 a 21 dias. Vale destacar que, de acordo com o estudo, as pessoas com deficiência pesquisadas já possuem o hábito de viajar de 1 a 2 vezes ao ano. Ou seja, um empreendimento que apostar nesse público tem grandes chances de ter sua taxa de ocupação ampliada”, assegura.
AtraçãoEm Salvador, a maior dificuldade é no Centro Histórico, segundo explica Jaime Sanjurjo, proprietário do Hotel Don Juan, localizado ao lado da Praça Castro Alves. “Temos prédios que foram construídos em meados dos anos 30, e por esse motivo, essas construções tiveram as suas fachadas tombadas pelo patrimônio histórico, o que impede alterações. E do ponto de vista externo, no Centro Histórico, por exemplo, as ruas são estreitas, as ladeiras muito íngremes e o pavimento de pedras, o que impede ambiente adequado para a locomoção dos cadeirantes”, diz.
Guilherme Bellintani, que comanda a Secretaria de Desenvolvimento Turismo e Cultura de Salvador há dois anos, reconhece que Salvador tem dificuldades em atender a esse público. “Há dificuldades claras. No Centro Histórico é muito difícil ter melhorias efetivas de acessibilidade para contemplar, por exemplo, um cadeirante. Acho que é possivel melhorar, mas sempre vai haver dificuldades por circunstâncias geográficas”.
Ele ressaltou que os projetos já executados pela gestão municipal nos últimos anos pensaram em atender às demandas das pessoas com deficiência através da instalação de passeios mais largos e pisos táteis. “Acho que a cidade tem avançado muito na acessibilidade, principalmente pela ampliação e reforma das calçadas e também na concepção de projetos da Barra e de São Tomé de Paripe que facilitam o acesso e circulação de pessoas”, argumenta.
Bellintani destaca, porém, a dificuldade de adaptação de monumentos mais antigos da cidade. “O Farol da Barra, por exemplo, é muito estreito e seria difícil adaptar para a passagem de uma cadeira de rodas”.
Bahia não está preparada para atender a esse públicoApesar do público em potencial, os operadores de turismo encontram dificuldades em formatar pacotes para atender a esse público na Bahia. O próprio secretário estadual de Turismo, Pedro Galvão, admite que o estado não está preparado para atender os deficientes, apesar do potencial desse mercado.
“No caso da Bahia, temos problemas de topografia irregular (com as ladeiras íngremes), passeios e prédios antigos que dificultam a adaptação para pessoas com deficiência ou com dificuldade de deslocamento”, diz Galvão. O secretário concorda que o investimento em acessibilidade poderia ser altamente lucrativo para o setor turístico. “Os aposentados, por exemplo, podem viajar em qualquer época do ano, inclusive na baixa temporada”, lembra.
Fonte: Correio 24 Horas
Ricardo Shimosakai | 19/12/2014 às 10:00 | Categorias: acessibilidade | URL:http://wp.me/pSEPi-5y2

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