Como uma moradora descreveria as ruas de seu bairro? Como ficou nossa percepção dos diferentes locais de uma cidade depois do GPS?
Uma pesquisa do Centro de Ciência Cognitiva da Universidade de Freiburg, na Alemanha, indica que o uso constante do GPS e dos mapas digitais tem prejudicado nossa capacidade de criar mapas mentais dos lugares onde vivemos. A dependência que desenvolvemos de algumas das facilidades oferecidas pela tecnologia de fato interfere no funcionamento de nossos cérebros. Na Universidade McGill, outros três estudos indicaram que a dependência dos mapas digitais pode reduzir a função do hipocampo – responsável pelo aprendizado, pela retenção de memórias e pela nossa capacidade de navegação.
Encontrar caminhos é uma das habilidades mais fundamentais de que somos capazes. Porém, ao transferir para a tecnologia uma tarefa que nossos cérebros fariam naturalmente, passamos a nos lembrar menos dos lugares aonde vamos e dedicamos menos esforço a gerar memórias próprias desses lugares. O mesmo acontece na construção de mapas. Indo na contramão desse processo, o designer estadunidense Archie Archambault desenvolveu o projeto Maps From the Mind, uma coletânea de mapas construídos a partir de informações coletadas em conversas com os moradores. O objetivo não é apontar a melhor rota de um ponto a outro, mas reunir os itens e locais que constituem a essência de determinada cidade. O desenho dos mapas é simples, usa círculos para ilustrar bairros, parques e outras áreas significativas para as pessoas.
Diferente dos mapas em nossos smartphones, que partem da perspectiva aérea, os desenhos de Archie são feitos a partir do ponto de vista do solo. Ao percorrer as cidades, o designer opta sempre pelo modal mais utilizado localmente, e as conversas com os moradores ajudam a identificar as áreas mais importantes. Acima de tudo: ao chegar em uma nova cidade, ele desliga o celular, deixando-se perder nas ruas do lugar.
O projeto teve início por acaso, há alguns anos, quando Archie se mudou para Portland. Novo na cidade, pediu ajuda a um amigo para conhecer melhor o local. O amigo optou por desenhar ele próprio um mapa, contemplando as principais referências que tinha em mente. Olhando o mapa, Archie decidiu que faria o mesmo com outras cidades e, desde então, já passou por pelo menos 27 cidades.
Sem recorrer ao Google Maps, Archie conta apenas com as informações compartilhadas pelas pessoas com quem fala nas ruas. Embora a sensação seja assustadora, conforme relata ao CityLab, trata-se de um desafio que vale a pena: “A ideia toda por trás dos mapas é a comunicação. Hoje, a maioria das pessoas nem tenta ir de um lugar a outro sem usar um sistema GPS. Mas antes dos celulares era o que nós fazíamos”.
Nossos cérebros são capazes de fazer eles próprios um mapeamento sofisticado, utilizando quaisquer elementos como referência. Os chamados “place neurons” trabalham constantemente misturando diferentes padrões para gerar os mapas cognitivos do mundo que cada um carrega consigo. De cheiros a detalhes visuais como a rachadura em uma calçada ou a sombra de determinada árvore a determinada hora do dia – e seria uma pena perder tudo isso para a tela de um celular.
Mais mapas aqui.
(Fonte: CityLab)
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