UM CACHORRO TRAVESSO E UMA DENTADURA
Meu marido trouxe lindo filhote de dobermann
marrom, para ser cão de guarda. Chamamos de Chocolate.
Ele nunca aceitou coleira, pedia para abrir
portões. Gostava de passear sozinho. Voltava
sempre para seu osso, que eu dava à noite. Então era uma fera – guardava o osso
ou a casa?
Sou professora de
pintura. Chocolate acompanhava cada aluna do portão de entrada até o salão de
aula, repetindo a escolta na saída. Ficava aguardando, deitado. Detestava ficar
sozinho.
Uma aluna, avançada
em seus anos, com acentuada deficiência auditiva reclamou de muitas dores na
boca, desconforto causado pela dentadura. Solícita, sugeri que ficasse à
vontade para descansar da mesma, fornecendo lenço de papel para embrulhar e
sugerindo que guardasse em sua bolsa. Assim foi feito.
Pouco depois,
outra aluna chegou informando que Chocolate estava no corredor, segurando uma
dentadura com a pata. Em pânico perguntei se era a dentadura debaixo (a de
minha aluna), ou a de cima (a de minha empregada, que ocasionalmente também
tirava para descansar). Era a debaixo.
Minha empregada
questionou usar filé-mignon como isca. Era a única opção no momento, melhor que
perder a dentadura. Minha aluna, graças à pouca audição não se deu conta de
toda nossa aflição.
A preciosa prótese, intacta, higienizada,
desinfetada, em novo lenço de papel, voltou para a bolsa da proprietária.
Ela nunca soube do
ocorrido, hoje já é falecida, assim como Chocolate, mas acho que dá boas
risadas em seu lugar de repouso, cada vez que conto esta pequena aventura para
alguém amigo.
Sou Terezinha, de
71 anos.
Nossas vidas são definidas por
momentos. Principalmente aqueles que nos pegam de surpresa.
Caso
real, Elizabeth Fritzsons da Silva, psicóloga, e-mail : bfritzsons@gmail.com
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