quinta-feira, 19 de novembro de 2015

  UM CACHORRO TRAVESSO E UMA DENTADURA
      Meu marido trouxe lindo filhote de dobermann marrom, para ser cão de guarda. Chamamos de Chocolate.  
      Ele nunca aceitou coleira, pedia para abrir portões. Gostava de passear sozinho.  Voltava sempre para seu osso, que eu dava à noite. Então era uma fera – guardava o osso ou a casa?
     Sou professora de pintura. Chocolate acompanhava cada aluna do portão de entrada até o salão de aula, repetindo a escolta na saída. Ficava aguardando, deitado. Detestava ficar sozinho.
    Uma aluna, avançada em seus anos, com acentuada deficiência auditiva reclamou de muitas dores na boca, desconforto causado pela dentadura. Solícita, sugeri que ficasse à vontade para descansar da mesma, fornecendo lenço de papel para embrulhar e sugerindo que guardasse em sua bolsa. Assim foi feito.
     Pouco depois, outra aluna chegou informando que Chocolate estava no corredor, segurando uma dentadura com a pata. Em pânico perguntei se era a dentadura debaixo (a de minha aluna), ou a de cima (a de minha empregada, que ocasionalmente também tirava para descansar). Era a debaixo.
     Minha empregada questionou usar filé-mignon como isca. Era a única opção no momento, melhor que perder a dentadura. Minha aluna, graças à pouca audição não se deu conta de toda nossa aflição.
         A preciosa prótese, intacta, higienizada, desinfetada, em novo lenço de papel, voltou para a bolsa da proprietária.
     Ela nunca soube do ocorrido, hoje já é falecida, assim como Chocolate, mas acho que dá boas risadas em seu lugar de repouso, cada vez que conto esta pequena aventura para alguém amigo.
    Sou Terezinha, de 71 anos.  
Nossas vidas são definidas por momentos. Principalmente aqueles que nos pegam de surpresa.



Caso real, Elizabeth Fritzsons da Silva, psicóloga, e-mail : bfritzsons@gmail.com

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