quarta-feira, 23 de outubro de 2013

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coluna de acessiblidade

Estamos aí...

POSTADO ÀS 21:46 EM 23 DE OUTUBRO DE 2011

Estamos aí
Gente amiga que muito se quer
Estamos aí
Pro que der e vier
Estamos aí
Pro amor e pra desilusão
Mas como é bom cantar
Multiplicar a magia de cada canção...
(Chico Buarque)
Por Manuela Dantas, especial para o Blog de Jamildo

Imaginem só que surpresa, depois de 4 meses absorta na burocracia para a liberação de impostos para a compra do meu carro, finalmente receber o dito veículo para dar mais um passo para a minha independência! Mas, essa será outra conversa... Por agora, quero falar do rapaz que adaptou meu carro para que eu pudesse dirigir sendo deficiente físico...
A adaptação do carro foi feita por um deficiente físico paraplégico, através da Associação dos Deficientes Físicos de Pernambuco, a qual está sucateada, mas... Essa também será outra conversa... Vamos agora à questão central do artigo!

O rapaz de 36 anos que trabalhou no veículo era extremamente talentoso e realizou a adaptação em 4 horas com resultado muito bom.

Fiquei tão impressionada com a sua habilidade sobre as rodas realizando a tal adaptação, que às vezes tinha a impressão de que ele voava com a sua cadeira ao redor do veículo.
A minha curiosidade habitual me impulsionou a travar uma conversa com o rapaz e iniciei questionando se ele continuou a trabalhar, após a lesão medular que comprometeu os seus movimentos das pernas. 
Ele me relatou que foi assaltado há 10 anos e levou o tiro inesquecível que o deixara paraplégico. Após esse episódio não trabalhou mais.

Questionei sobre a sua cadeira de rodas que parecia muito leve, pequena e dinâmica, até mais do que a minha que foi indicada pela excelente Terapeuta Ocupacional do Centro de Reabilitação do Hospital Albert Einstein em São Paulo e era considerada de altíssima geração. A cadeira de rodas importada da Alemanha custou a “pechinha” de R$12.000,00. Ele riu ao saber do preço... Explicou-me que tinha feito a dele por R$200,00.

Fiquei embasbacada, tal qual um professor ao se deparar com um gênio. Como poderia aquele rapaz superar os Alemães com uma técnica instintiva e artesanal!
Continuando o meu questionamento habitual sobre a sua vida após a lesão medular, ele me revelou que há dez anos se sentia como se vivesse uma vida que não era a sua. Confesso que de início não entendi a sua colocação...

Ademais, ele continuou discorrendo sobre a sua vida e me falou, com os olhos brilhantes, o quanto era dinâmico, como gostava de festas, de dançar, de sair com os amigos... Antes do fatídico disparo que mudou a sua vida.

Eu repliquei... Disse que ele não vivia a vida de outra pessoa, expliquei que ele escrevia a sua história a cada dia e que ele não deveria desperdiçar a oportunidade de estar vivo, de fazer tudo o que quisesse e não deveria deixar a sua vida sem marcas, como um livro em branco...

Fiquei refletindo sobre o que levaria um rapaz bonito e talentoso ter uma autoestima tão baixa... E fiquei triste, muito triste.

Ele me relatou os inúmeros casos de depressão dos seus colegas da Associação dos Deficientes Físicos de Pernambuco e quantos tentaram se matar.

Ele me jurou que nunca chegou ao estágio de querer se matar, mas se sentia impotente perante uma sociedade que o discriminava, uma cidade inACESSÍVEL  e pela falta de bons exemplos que mostrassem que a vida continua e que a deficiência os faz ficar mais fortes quando potencializados os aspectos positivos da mesma.

Lembrei de quantas vezes escutei diferentes pessoas dizendo para eu não me sentir pior do que ninguém, após o meu acidente... Mas, eu nunca me senti menos por estar deficiente físico, ao contrário, me sentia mais capaz, pois apesar de todas as adversidades e barreiras diárias eu me mantinha mais em pé do que a maioria das pessoas. 

Eu continuava trabalhando, pagando minhas contas, fazendo minhas fisioterapias, assumindo o meu papel de empreendedora social e me divertindo, confesso que mais com a companhia dos meus sobrinhos, do que com as antigas baladas, que não me fazem tanta falta como achei que fariam.

Não vou aqui mentir e dizer que tudo são flores, isso não é verdade, ser cadeirante é difícil, é muito difícil...

Entendo o meu colega, ao me falar das dificuldades em pegar ônibus, em tentar andar nas calçadas do Recife com buracos e diferenças de nível, em ir para bares e festas tendo que enfrentar as barreiras arquitetônicas e atitudinais sempre presentes, as expressões não disfarçadas de surpresa e o preconceito ou piedade estampado na maioria dos olhares que cruza no caminho...
Nesse momento, lembrei-me de Roosevelt, o ex-presidente americano (4 mandatos) que mais admiro devido ao seu otimismo e por sua postura de distribuição de renda que ultrapassou a barreira da Crise de 1929, ou a Grande Depressão Americana. Só há pouco soube que o grande estadista era deficiente físico devido a uma poliomielite.

Outrossim, quantos exemplos de grandes personalidades com deficiências e que marcaram a história mundial com sua genialidade, talento, exemplo e força eu poderia citar...Poderia falar sobre Abraham Lincoln, ou sobre Albert Einstein, ou ainda sobre Agatha Christie, ou talvez sobre Alexander Graham Bell, Alexander Pope, Andrea Boccelli, Renoir, Rodin, Bem Jonson, Boris Casoy, Júlio Cesar (Imperador Romano), Joseph Pulitzer, Charles Darwin, Cristopher Reeve, Cole Porter, Democrito, Douglas Bader, Felipe III (rei da Macedônia), Frida Kahlo, Francisco Goya, Galileu Galilei, Isaac Newton, Mozart, Michelangelo,  Flaubert, Hellen Keller, Homero, Isaac (Patriarca Hebreu), Jacó (Patriarca Hebreu), João Paulo II, Kepler, John Kennedy, Lars Grael, Leonardo DaVinci, Lord Byron, Beethoven, Luiz de Camões, Mia Farrow, Moisés (Patriarca Hebreu), Rubens Paiva, Mara Gabrilli, Ray Charles, Robin Williams, Ronald Reagan, Roberto Carlos, Stevie Wonder, Vincent Van Gogh, Bill Gates, Walt Disney, Walter Scott, Whoopy Goldberg, Winston Churchill, Herbert Viana, Ricardo III (Rei da Inglaterra), Nelson Ned, Braille, Aleijadinho...

Eu gostaria de escrever um livro sobre cada um deles, que por marcarem tão fortemente o nome na história por meio dos seus bem feitos nos torna indiferente a qualquer rótulo, preconceito, dogma que os limite a qualquer horizonte.

Pelo contrário, eles ultrapassaram o horizonte dos sonhos e superaram todas as dificuldades e barreiras para nos deixar o legado de livros geniais, gestões excepcionais, teorias revolucionárias, canções inesquecíveis, composições imortais e sensibilidade sem limites.

Fico extremamente feliz por esses homens e mulheres terem vivido e participado da nossa sociedade e ao mesmo tempo fico preocupada com vários talentos e genialidades que possam ter se perdido na poeira das ruas e na fumaça do tempo...

Imagino que somente no Brasil, que tem 14,5% de deficientes, quantos Beethovens, Roosevelt, Rays, Darwins estão escondidos nas cidades inACESSÍVEIS...
Poderíamos ter o prazer de conhecer essas pessoas e vê-las participando das nossas vidas e contribuído para a formação do nosso país, quiçá do mundo.
Por fim, orgulho-me de estar conhecendo pessoas imprescindíveis, insubstituíveis e invencíveis que tal qual o super-homem representado pelo Christopher Reeve voam pelo mundo distribuindo sua genialidade e generosidade em prol de uma sociedade mais justa e igualitária que saiba reconhecer o valor do homem pelo seu caráter, comprometimento e boa índole.
Os meus heróis de hoje podem ser cegos, surdos, mudos, dislexos, autistas, cadeirantes, andarem com muletas, com pernas robóticas, mas o importante é que tenham um grande coração e que queiram mudar o mundo...

Enfim, estamos aí...
 

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