segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Vejo nada, sinto tudo : DIVERSÃO GARANTIDA


Crianças cegas superam medo e dificuldade para andar com a ajuda de esportes e da dança

GABRIELA MANCINI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA Poliana de Abreu Brito, 7, chorava muito quando saía de casa, assustada com barulhos e movimentos. João Eduardo Jansen, 11, não podia chegar perto de animais e vivia com as costas curvadas. Pedro Bola, 7, tinha medo de andar e de tocar em objetos.
Os três, cegos desde o nascimento, superaram as dificuldades com atividades como equoterapia (terapia com cavalo), natação e balé. Crianças cegas, claro, precisam de ajuda no dia a dia. Mas os esportes e a dança conseguem deixá-las mais seguras, inclusive para tentar se virar sozinhas. "Ela andava curvada e insegura, mesmo com a bengala [que usa para se guiar quando anda e descobrir se há algum obstáculo à frente]. Isso mudou desde que entrou no balé, há dois anos. Agora tem gente que pensa que ela enxerga!", conta Izabel, mãe de Poliana.
Assim como em outras atividades, o toque é o segredo para aprender os passos do balé. Poliana passa as mãos no corpo da professora para entender as posições. E a professora vai "moldando" o corpo da menina -dobra a perna, os braços, puxa mais para um lado, para outro etc.
João Eduardo e Pedro ganharam uma postura melhor e segurança para caminhar na equoterapia. "O cavalo joga o quadril do cavaleiro para todos os lados, o que é bom para a coordenação motora", diz a psicopedagoga e psicanalista Liana Pires Santos.
O deficiente visual pode ter a postura curvada, por medo de bater em algo no caminho. Com a equoterapia, passa a andar com a coluna mais reta e a cabeça mais erguida. "E ganha confiança e autoestima [sente-se uma pessoa melhor] por conseguir dominar o cavalo", completa Liana.
"Adoro quando desço do cavalo e pego a rédea pra puxá-lo", conta João Eduardo.
Outro ponto positivo dessas atividades é a socialização. Isso quer dizer que as crianças ganham amigos, cegos ou não. "No começo, tinha preguiça de ir à natação. Mas acabei gostando e fiz vários amigos", fala Pedro.
A escola onde Poliana faz balé tem alunos não cegos. "Eles aprendem a respeitar e a ajudar os que não enxergam", diz Fernanda Bianchini, presidente da Associação de Balé e Artes para Cegos.

CINDERELA
Poliana de Abreu Brito, 7, cega desde que nasceu, já se apresentou em dois espetáculos de sua escola de balé e garante: "Danço muito bem!" Sua última apresentação foi um sucesso. "Deu tudo certo. Parecia que tinha uns 90 adultos lá, de tanto aplauso!" Na próxima, será a Cinderela e está confiante nos ensaios. "No começo era difícil, mas agora não. É só imaginar o que a professora vai falando", conta a bailarina, que, com a dança, perdeu o medo dos barulhos e passou a andar com uma postura melhor.


Com o balé, Poliana, 7, que não enxerga, ficou mais segura para andar

Fonte



COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Há no Brasil 6,6 milhões de pessoas com deficiência visual. E elas têm dificuldade com a programação cultural. "Poucos filmes têm audiodescrição e quase nenhum museu tem texto em braille", diz Ian, 11.
A audiodescrição é uma voz que explica o que se passa na tela. Por lei, as TVs devem ter, até 2020, pelo menos 20 horas semanais com o recurso. Cinemas e DVDs também podem se adaptar. "Se Liga na Turma da Mônica", recém-lançado, é o primeiro longa-metragem infantil em DVD com audiodescrição feita pela fundação Dorina Nowill. "Ela transforma imagens em palavras. Pode ser usada em teatro, circo, casamentos...", diz a gerente Susi Maluf.
Já o braille a que Ian se refere é um alfabeto com pontos em relevo, no qual o cego passa os dedos para ler. A Bienal do Livro trouxe obras assim, dentre as quais a coleção "Diferenças", da Dorina Nowill.
"As famílias se preocupam em saber como a criança pode ter mais autonomia [capacidade de fazer as coisas sozinha]", conta Maria da Graça Corsi, pedagoga do instituto Laramara, para cegos.
A deputada Mara Gabrilli, cadeirante, lançou o Guia de Acessibilidade Cultural (acessibilidadecul tural.com.br). Para cegos, diz se o estabelecimento tem sinalização em braille, audiodescrição e guias.
(GM) 

RÉDEA CURTA
É em cima de um cavalo que João Eduardo Jansen, 11, deficiente visual desde o nascimento, treina seu equilíbrio. Ele faz sessões de equoterapia (terapia com cavalo) uma vez por semana.
O menino adora as aulas e conta que já quis até levar o bicho para casa. Logo ele, que nem encostava em animais. "Agora toca em gato, cachorro e outros bichos de estimação, graças ao contato com o cavalo", fala a sua mãe, Ana Karina.
Nas aulas, os alunos, montados, jogam bambolê em um cone, controlam as rédeas, chamam o cavalo com um comando que imita um beijo e alimentam o animal.

CAMPEÃO COM MEDALHA
Quando nasceu, Pedro Bola, 7, ficou internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e perdeu a visão. Há dois anos, começou a natação e já participou de campeonatos da escola. "Ganhei duas medalhas de prata!", orgulha-se. E ganhou também noção de espaço, o que o ajuda a andar com mais segurança. Pedro também fez equoterapia durante dois anos, o que melhorou a sua coordenação motora.

LIÇÃO DE CASA
Eles se tornaram amigos há cinco anos, quando Ian Izidoro, 11, que é cego, escolheu Rafael Souza, 11, para ditar a lição de casa para ele -os alunos que enxergam sempre ajudam Ian. E a amizade vai para além da escola. "Depois da lição, brincamos de adivinhar o que o outro está pensando. Um vai dando dica até o outro acertar", conta Rafael. Eles adoram videogame. Ian escolhe jogos em que consegue se guiar através dos sons, como "Super Street Fighter" e "Marvel Versus Capcom".

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