terça-feira, 14 de agosto de 2012

Ah, Muleke!

Meu pai ficou de babá de um pug tão vesgo quanto adorável. Foram dez dias de revolução.

Meu pai é uma figura sacudida. Costuma dizer que tem 74 anos de idade cronológica, 40 de idade mental e 20 de "disposição física". É um daqueles tipos de alma jovem que não trocam uma cervejinha, um pastel e um bom papo por nada neste mundo. Na verdade... por quase nada.
Nos últimos anos, duas companhias conseguiram reduzir as idas noturnas do véio Géio à pastelaria: a gripe A e o pequeno Muleke.

Muleke é um pug tão vesgo quanto adorável, "filho" de Aline, a simpática dona da pastelaria Pastel com Borda, no coração de Porto Alegre.

O bichinho não tinha nem 30 dias quando os donos tiveram que viajar. Com o pai dela, Aline deixou Shrek -o pai do Muleke. Mas, temendo algum acidente doméstico, preferiu alojar o filhote na casa do meu pai.
E lá se foi Muleke -de mala, cuia e potinho- para uma temporada no Buraco do Amor -sugestivo nome com o qual o véio Géio batizou a própria casa, que fica em desnível em relação à rua. Foi uma transformação.

Durante dez dias, as luzes no "buraco" não se apagaram. "Pobrezinho, se ficar no escuro, não vai encontrar nada", dizia meu pai. E as noites na pastelaria perderam a animação do véio Géio, que preferia ir mais cedo para casa. "Quando chegava, era uma festa só. Eu gritava: 'ah, Muleke', e ele se enroscava nas minhas pernas e corria por tudo."

Meu pai, felizmente, está a anos-luz de ser um senhor pacato, caseiro, desocupado e depressivo. Mas a experiência dele com Muleke mostra a revolução que um animal pode promover na rotina de alguém. Um conjunto de benefícios físicos e mentais que está cada vez mais no alvo da ciência.

Há alguns anos, um estudo publicado no "American Journal of Cardiology" mostrou, por exemplo, que a interação constante com animais ajuda a controlar nossos níveis de estresse e de pressão arterial. Com base nessa e em outras conclusões, multiplicam-se as terapias com animais.

Na prisão de Estrasburgo (França), coelhos, ferrets, pássaros e porquinhos da Índia têm sido usados na recuperação de detentos. Cada presidiário tem de cuidar de um animal. Os diretores dizem que a responsabilidade reduz a tensão e aumenta a autoestima dos internos.

Projetos desse tipo se repetem em mais de 50 penitenciárias mundo afora. São todos inspirados na experiência da prisão feminina de Purdy (EUA), iniciada na década de 80. Nos últimos 30 anos, centenas de cães resgatados da rua têm sido adestrados pelas detentas e destinados a auxiliar pessoas com diversas limitações físicas. O resultado é surpreendente. Os cães ganham casa. Os deficientes, guias dedicados. E, as presidiárias, uma chance profissional que tem derrubado os índices de reincidência.

Véio Géio comentou outro dia que Muleke cresceu tanto que já se confunde com o pai, o Shrek. Mas a confusão cessa em instantes, enterrada pela alegria de Muleke ao ver o véio chegar. Tudo indica que Muleke não se esquece dos cuidados. E o véio Géio não se esquece de Muleke -que ganhou um porta-retrato em cima de um balcão do Buraco do Amor. Balcão esse, aliás, que antes só tinha fotos nossas, das filhas. Ah... Muleke!

Informações sobre o projeto de Purdy: prisonpetpartnership.org

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