segunda-feira, 6 de abril de 2015

SEX, 03 DE ABRIL DE 2015 02:05      ACESSOS: 788
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Fotos: Arquivo pessoal

Por Rinaldo de Oliveira, da redação do SóNotíciaBoa
Quem vê essa linda menina de São Paulo correndo e brincando pela sala de visitas de sua casa não imagina, nem de longe, o quanto ela é responsável pela mudança de comportamento de uma família inteira e das inúmeras alegrias que eles sentiram no decorrer dos últimos 11 anos. 
Estamos falando de Emilly Simionato Fernandes, uma jovenzinha que nasceu, sem sombra de dúvidas, para mudar o destino dos pais. (Assista vídeo abaixo).
Filha de um casal com surdez congênita, Emilly nasceu no dia 12 de fevereiro de 2003, e surpreendeu as avós com a repetição da notícia que receberam com o nascimento de seus filhos – Erika e Emerson. “Foi um susto, um aperto no coração, uma triste sensação de que estava tudo começando de novo e não sabíamos qual rumo tomar. Mal sabíamos que, desta vez, tudo estava mudando para melhor”, lembra Vilma Simionato, mãe de Erika, que acompanhou, desde tenra idade, toda a história da filha e sofreu com o preconceito que havia enfrentado anos a fio.

Reunidas numa tarde de domingo, na sala de visitas dos filhos, as duas avós decidiram entender o implante coclear, ideia vinda dos pais da netinha. 
“Na época da Erika, era o início dessa cirurgia no Brasil e, além de muito caro, pouco se sabia sobre o seu funcionamento. Lembro que resolvi que seria melhor que ela tentasse se alfabetizar normalmente, por meio de leitura labial, e fiz todo um trabalho à parte para que ela tivesse vocabulário. Diariamente, ia até a loja de departamentos Mappin e passava um período com ela lá – de manhã ou à tarde, dependia do horário que ela estudava – para que associasse o que eu falava ao que ela ouvia. Por exemplo, na seção de talheres, eu pegava nas mãos um modelo de faca e dizia ‘faca’, fazendo com que ela olhasse para mim e repetisse várias vezes até saber o que era uma faca. Depois pegava outro modelo do mesmo objeto e mostrava que, apesar de diferentes, a função era a mesma. Aí, em casa, mais tarde, dizia a ela... ‘Use a faca’ e mostrava novamente. Assim fui construindo um pouco do vocabulário dela”, lembra a mãe.
Com o tempo, as necessidades de Erika aumentaram e ela começou a aprendeu a se comunicar em libras, tornando-se bilíngue. 

Foi quando conheceu o marido, Emerson, e depois de um ano e três meses de casados, nasceu Emilly.

“Naquela tarde, na casa de Erika, descobrimos que a cirurgia podia ser feita pelo SUS e fomos atrás de mais informações”, lembra a avó.
Os filhos conviviam com o mundo dos surdos que se comunicavam em libras e sofreram preconceito da própria comunidade surda, que não aceita o implante coclear.

“Sabíamos que seria o melhor para ela e não desistimos”, diz Erika.

O implante de Emilly
A cirurgia foi realizada com sucesso e depois de um mês aconteceu a ativação do implante coclear, tudo pago pelo SUS.

Em oito meses, Emilly começou a questionar a mãe sobre os barulhos que ouvia.

“Eu havia parado de trabalhar para cuidar dela, mas não tinha como resolver isso. Emily foi desenvolvendo muito bem. A cada avaliação da fonoaudióloga, ela apresentava todos os sinais de um aprendizado real e, com o passar dos anos, começou a me cobrar esclarecimentos sobre os sons que ouvia – barulho da chuva, canto de pássaros, até o tique-taque do relógio. Eu não entendia o que ela dizia. Quantas vezes minha filha me contou sobre o som do vento e os estrondos dos trovões... Tudo isso estava fora, completamente fora, do meu universo”, relata Erika.

O implante da mãeDe tanto questionar, a filha atiçou a curiosidade na mãe. “Eu também queria ouvir! E, se a medicina tinha meios de me proporcionar isso, tomei coragem e fui atrás. Eu precisava ajudar minha filha. E esse foi o ponto crucial da cirurgia”, relembra a mãe de Emilly.
Dessa vez, a cirurgia de implante bilateral foi feita com sucesso pelo cirurgião Prof. Dr. Robinson Koji, que integra a mesma equipe multidisciplinar da FMUSP, comandada pelo Prof. Dr. Ricardo Bento – membro curador da Fundação Otorrinolaringologia –, que havia realizado a da pequena Emilly. 

Quarenta dias depois, foi a vez de ativar o aparelho de Erika. “Minha mãe me perguntou: ‘você está me ouvindo, filha?’ e eu caí no choro. Em 27 anos de vida, era a primeira vez que eu ouvia a voz da minha mãe! Ficamos abraçadas um bom tempo até eu me acostumar com o que ela dizia. Essa primeira semana, entretanto, por várias vezes, desliguei o aparelho. Eram sons em demasia entrando em uma mente que nunca havia ouvido nada”, lembra Erika.
O implante do pai
Com a evolução de Erika junto à fonoaudióloga – mãe e filha praticavam os exercícios em casa durante todo o dia – e com a filha cobrando o porquê do pai não tentar também, chegou a vez de Emerson passar pela cirurgia. 

“Sabíamos que o resultado dele seria lento e gradual, já que ele não possuía memória auditiva. Mesmo assim, incentivamos ao máximo”, explica Erika.
Respeitando opções
E
merson passou a fazer leitura labial depois da cirurgia, mas não se acostumou com o implante. Afirma que a esposa e a filha falam muito e prefere manter desligado o aparelho quando está em casa. 

“Ele prefere se comunicar em libras e nós respeitamos o que ele quer. É o melhor pai do mundo!”, diz Emilly, que hoje aprende inglês, canta e toca violão, vai a shows e é uma das melhores alunas de sua escola.
A voz
Cinco anos depois da cirurgia, a voz de Erika é outra. Mudou e as frases que sofreu para aprender quando lia livros – precisava reler oito vezes a mesma página para entender o conteúdo por causa do vocabulário – tornaram-se naturais. 

Emilly, no último final de semana de março, conseguiu realizar mais um sonho: ouvir embaixo d’água pela primeira vez. 

No dia seguinte, postou um vídeo em sua página no Facebook, que teve mais de quatro mil visualizações em menos de um dia. 

“O Acqua+, acessório que permite que eu mergulhe com implante, é demais! Eu me senti flutuando na água por causa dos barulhinhos quando mergulho. Uma delícia! Fora ouvir minha prima, Audrey, me chamar de fora da piscina e sair para ver o que ela queria. Agora me sinto segura até debaixo d’água, literalmente!”, brincou Emilly.
“É um sossego para nós que estamos planejando um segundo filho. Não importam as deficiências que existem. Importam, sim, os avanços tecnológicos que nos ajudam a dar qualidade de vida – e de integração – a eles!”, finaliza Erika.

VídeoAssista ao vídeo que Emilly fez este mês e mandou para o SóNotíciaBoa. 
Mostra um momento muito importante pra ela, quando pôde ouvir pela primeira vez os sons da natação... sim, embaixo d'água!



Serviço
Se você precisa de implante coclear, acesse www.implantecoclear.org.br
Com colaboração de Dorotéia Fragatahttp://sonoticiaboa.band.uol.com.br/noticia.php?i=6506

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