terça-feira, 21 de abril de 2015

Treinamento do paladar: como ensinar seus filhos a gostar de verduras e legumes

Publicado: Atualizado: 
comer saudável
E se as crianças aprendessem a gostar de verduras e alimentos não processados desde o dia em que começam a comer sólidos? E se não tivéssemos que converter os gostos de nossos filhos, recorrendo a negociações e súplicas? Como pais, ensinamos a nossos filhos o que é importante para nós, quer seja o que é certo ou errado ou a dizer "por favor" e "obrigado". Não deveríamos incluir os hábitos alimentares entre essas lições de vida cruciais?
Como especialista em nutrição, em minha prática médica costumo focalizar a alimentação, e há uma queixa que ouço com frequência. "Meu filho devorava cada potinho de papinha de legumes pronta que eu lhe oferecia. Quando passei a lhe dar legumes de verdade, ele parou de comer." Depois de ouvir isso inúmeras vezes, percebi que valia a pena tentar entender melhor por que os bebês param de comer seus legumes e verduras quando fazem a transição de papinhas em potinho ou outras embalagens para legumes e verduras frescos.
Em minha pesquisa, encontrei um artigo publicado na Pediatrics e intitulado "Prenatal and Postnatal Flavor Learning in Infants" (1) (Aprendizado pré-natal e pós-natal de sabores por bebês). O texto relata que os fetos sentem sabores dos alimentos consumidos por sua mãe no líquido amniótico que engolem e, no caso dos bebês, no leite materno que mamam. Nesse estudo, os pesquisadores expuseram gestantes e mães a combinações diferentes de suco de cenouras e água; em seguida, filmaram a expressão facial de bebês quando lhes foi servido cereal com sabor de cenoura. Os resultados demonstraram que os bebês expostos ao sabor de cenouras ou através do líquido amniótico ou através do leite materno apresentaram muito menos expressões faciais "negativas" que aqueles que não tinham sido expostos ao sabor.
comer saudavel 2
Quando engravidei de minha filha, fiquei muito interessada em minha própria nutrição pré-natal e em como eu planejava alimentar minha nenê, como maneira de pôr essa tese à prova -a hipótese de que os sabores sutis presentes no líquido amniótico e no leite materno podem influir sobre as preferências gustativas dos bebês. Se eu alimentasse minha filha com as versões em purê dos alimentos frescos que consumi como gestante e lactante, pela lógica ela deveria dar preferência a esses alimentos. Quando chegou a hora de começar a dar alimentos em purê à minha filha, eu primeiro examinei e saboreei papinhas infantis comercialmente preparadas, em diferentes embalagens. A aparência e o sabor não eram iguais aos alimentos que eu consumia.
Quando vi a diferença drástica entre a comida infantil fresca e a processada, desenvolvi e fiz experimentos com algo que na escola de medicina chamamos de "behaviorismo". (2)(3) Trata-se de uma abordagem à compreensão da psicologia das pessoas baseada na premissa de que quando nascemos nossa mente é uma "tábula rasa", sendo o comportamento aprendido com o ambiente que nos cerca. Embora os bebês nasçam com uma preferência inata por alimentos de sabor adocicado (4), acredito que os pais podem fomentar o gosto pelos legumes e verduras, condicionando-os corretamente - submetendo seus filhos ao que eu chamo de "treinamento do paladar".
Aprendemos novos comportamentos através de várias formas de condicionamento. Condicionamos os comportamentos de nossos filhos com várias formas de incentivo positivo e negativo (feedback), lhes ensinamos valores e princípios morais e damos respostas aos ataques de raiva de nossos filhos pequenos. Então por que não condicionar nossos bebês a terem hábitos, gostos e preferências alimentares saudáveis? Se o bebê vê e consome alimentos frescos repetidamente, isso pode levá-lo a gostar de alimentos frescos, em contrapartida a um bebê criado à base de alimentos processados e que, portanto, foi condicionado a gostar de comida processada?
Com base no experimento que fiz, minha resposta é um "sim" inequívoco. Meu método de "treinamento do paladar" emprega purezinhos de vegetais para simular as diferentes cores da paleta de um pintor, para treinar o paladar e as preferências visuais do bebê, levando-o a gostar dos sabores, texturas e cores diferentes dos vegetais. É uma técnica de condicionamento suave para acostumar sistematicamente o cérebro e os sentidos do bebê ao mundo de alimentos nutritivos frescos, levando em conta a delicada neurofisiologia do bebê.
Para descrever como os bebês reagem da transição de papinhas processadas a alimentos inteiros frescos, a melhor analogia que me vem à cabeça é o momento em "O Mágico de Oz" em que Dorothy sai do Kansas preto e branco e mergulha na terra de Oz, em technicolor. É uma sobrecarga sensorial enorme. Os bebês não são condicionados a lidar bem com esses estímulos novos e intensos, então rejeitam esses alimentos novos e estranhos. Depois de comerem alimentos insossos em forma de papinha por seis meses, não podemos esperar que façam bem a transição repentina para um novo ambiente alimentar feito de alimentos sólidos e inteiros, com texturas e cheiros complicados, sabores variados e cores fortes.
Se você quer que seus filhos bebês e um pouco maiores comam verduras, reconheço que não existem atalhos: é preciso começar por preparar comida fresca para eles. Isso demanda tempo, trabalho e planejamento, mas prometo que vale a pena! O tempo que você investir hoje preparando para seu bebê comidinhas feitas na hora, preparadas com simplicidade, renderá retornos maiores mais adiante, quando você economizará horas de tempo, dinheiro e energia com brigas em torno de comida.
comer saudavel 3
Passei o último documentando nas mídias sociais o "treinamento de paladar" de meu filho de 1 ano, que é visto devorando verduras frescas. É possível criar seu filho para adorar vegetais. Só é preciso começar mais cedo e fazer o "treinamento de paladar" dele a partir do primeiro alimento sólido que você lhe dá. Podemos realmente começar a criar uma nova geração de crianças que adoram verduras e legumes e curtem uma alimentação saudável.
Minha filha está com 5 anos, e posso dizer com orgulho que ela devora couve-de-bruxelas assada como se fosse pipoca e pede salada quando vai a um restaurante. Nas festas de aniversário, ela é a criança que procura o prato de "crudités" (palitos de vegetais crus, como pepino, cenoura, talos de aipo e outros, que podem ser mergulhados num dip) geralmente servido aos adultos, enquanto a pizza esfria em seu prato.
A dedicação de nossa primeira-dama, Michelle Obama, à campanha "Let's Move", que vista criar uma geração de crianças mais saudáveis, é uma iniciativa importante para mudar o modo como uma geração de pais e filhos pensam a comida e a nutrição. A campanha é voltada às crianças de idade escolar, mas eu gostaria de sugerir que o que falta nela é o período mais crucial do desenvolvimento da vida nutricional da criança: sua introdução ao consumo de vegetais, começando na primeira infância. Em lugar da dieta habitual de alimentos processados refinados, com alto teor de gordura e carboidratos, normalmente insossa e de cores sóbrias - uma dieta que tem muitas consequências negativas, incluindo a de contribuir para a epidemia de obesidade pediátrica --, eu pediria à campanha "Let's Move" que promova a exposição dos gostos e sentidos do bebê a um ambiente de sabores, cores, aromas e texturas frescas e diversificadas, algo que vai determinar se a criança fará uma transição a uma dieta ideal, saudável, colorida e de base vegetal.
Este artigo foi originalmente publicado pelo HuffPost US e traduzido do inglês.http://www.brasilpost.com.br/dr-laura-lefkowitz/criancas-comida_b_7102018.html?ir=Brazil

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Oferecemos arquivo de textos específicos, de documentos, leis, informativos, notícias, cursos de nossa região (Americana), além de publicarmos entrevistas feitas para sensibilizar e divulgar suas ações eficientes em sua realidade. Também disponibilizamos os textos pesquisados para informar/prevenir sobre crescente qualidade de vida. Buscamos evidenciar assim pessoas que podem ser eficientes, mesmo que diferentes ou com algum tipo de mobilidade reduzida e/ou deficiência, procurando informar cada vez mais todos para incluírem todos.