segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

A difícil arte de sair de cena sem perder a autoestima

Escrito por  Renato Bernhoeft(*)
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a-dificil-arte-de-sair-de-cena-sem-perder-a-autoestima-fotodestaqueNo trato do tema Pós-carreira já foi possível concluir que quanto mais alto o nível hierárquico, e sua respectiva representatividade, maior o conjunto de dificuldades dos seus ocupantes em lidar com esta mudança de “status” e posição de poder. Este artigo é uma provocação para que o tema seja discutido em rodas de final de dia nas empresas e também nas casas de cada um dos profissionais.
O melancólico final de carreira vivido pelo personagem José Sarney, no papel de Presidente do Senado da República do Brasil, deve ser olhado por empresários, executivos, profissionais liberais, esportistas, artistas, etc. como mais uma lição relativa à dificuldade em manter-se, de forma altiva, como autor da sua própria biografia.
Deputado; Governador; Senador e Presidente da República constam do seu longo “curriculum” de EX. – Ser um EX é pior que ser Vice, pois o segundo ainda pode ser chamado a substituir o principal, de forma interina.  Mas ele – José Sarney - ainda se mantém como escritor, empresário e membro da Academia Brasileira de Letras.
O que se pode constatar do seu comportamento mais atual é que, infelizmente, nada de todo este percurso criou a condição pessoal que o impedisse de assumir o papel de vítima, frente à sociedade brasileira. E mais grave ainda, procurando utilizar sua história passada como argumento de defesa da situação presente.
E uma – entre várias - das razões para que esta deprimente situação ocorra, é que boa parte das pessoas que alcançam prestígio, e reconhecimento público, nem sempre conseguem estabelecer a diferença entre o “personagem” – que é colocado na condição de celebridade – e o ser humano, com todas as suas fragilidades, dilemas e transições da vida.
Encontrar exemplos de figuras públicas que conseguiram “transitar” neste processo de forma positiva não exige retroceder muito no tempo.
Dois ex-presidentes de grandes nações – François Mitterrand e Ronald Reagan – perceberam que por razões várias – doença, envelhecimento, perda do poder de influência ou mudanças históricas - era chegada a hora de despedir-se da vida pública. E o fizeram de forma altiva, permitindo que seus respectivos legados ultrapassassem sua existência. E parte deste sucesso foi obtido na medida em que conseguiram reescrever seus percursos, ainda em vida.
No mundo dos esportes Gustavo Borges, Pelé – para ficar apenas em alguns – entenderam, muito cedo, que o auge de suas carreiras não era garantia suficiente para manter a autoestima e o reconhecimento público dos personagens que se tornaram. Tiveram a humildade, e inteligência, de se reinventarem para uma nova fase de suas vidas. E estas atitudes, bem como suas respectivas ações, puderam representar um significativo conjunto de resultados positivos, tanto para a vida pessoal como profissional. Não se deixaram iludir pelo “personagem”, que cada um se tornou, em um momento das suas vidas.
O que é importante analisar, com base neste conjunto de provocações e casos reais, é o quanto eles podem representar uma oportunidade para que cada profissional, pare e reflita sobre o tema. Mas, acima de tudo, passe a estabelecer como prioridade, da sua vida e carreira, um maior controle sobre os impactos que os momentos de transição no “mundo do trabalho” irão provocar.
Em nossa experiência no trato do tema Pós-carreira – transição para eventual aposentadoria – já foi possível concluir que quanto mais alto o nível hierárquico, e sua respectiva representatividade, maior o conjunto de dificuldades dos seus ocupantes em lidar com esta mudança de “status” e posição de poder.
As grandes corporações transformam seus altos executivos em “personagens importantes” propiciando-lhes, de forma transitória, uma série de símbolos que alimentam vaidades e admiração. E os mesmos se iludem acreditando que, todo este conjunto de benesses e mordomias, é produto de conquistas suas. Efetua uma perigosa mistura entre o que é sua competência e aquilo que a organização lhe “empresta” de forma temporária. Ou seja, um sobrenome corporativo que faz surgir um personagem, muitas vezes desvinculado da figura individual.    
Alguns fatores atuais têm feito aumentar, significativamente, este risco e ilusão. Eis alguns exemplos: Destaque nas várias mídias, colunas sociais, premiações e literatura de autoajuda; Aumento nos índices de longevidade; Maior qualidade de vida proveniente de cuidados físicos e da saúde; Reconhecimento público, admiração e fácil acesso às diferentes estruturas de poder; Possibilidade de isolamento do mundo real através de instalações físicas, barreiras hierárquicas e disponibilidade no uso de recursos para a segurança pessoal; entre outros.
Este artigo nada mais é do que uma provocação para que o tema seja discutido em rodas de final de dia nas empresas e também nas casas de cada um dos profissionais. Pode ser o começo de uma nova etapa de vida.  
    
(*)Renato Bernhoeft é presidente da Höft Consultoria. Parceiro da Angatu IDH em Programas de Pós Carreira. Autor de várias publicações nas temáticas: trabalhar e desfrutar: equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Colaborador do Portal do Envelhecimento. Email: contato@angatuidh.com.br
FONTE:http://www.portaldoenvelhecimento.com/carreiras/item/3458-a-dificil-arte-de-sair-de-cena-sem-perder-a-autoestima

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