segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Caso Real: LAYOUT E ARTE FINAL

   Sou Selma, tenho trinta e cinco anos.Aos vinte , engravidei sem ter planejado, e o pai de Gabriel não criou vínculo afetivo. Nasceu com oito meses de parto normal, com má formação óssea na base de seu crânio, incapaz de proteger o tecido neural, projetado para fora de seu lugar.Estava arroxeado, não chorou, tinha dificuldade para respirar. Colocaram em oxigenação, em poucas horas fizeram a cirurgia, sem prévio exame, a situação era de vida ou morte (Encefalocele). Tivemos sorte, a cirurgia foi bem conduzida.Havia risco de vida vegetativa.Encontrei novo parceiro, casamos,ele registrou Gabriel como seu filho. Hoje ele tem quatorze anos, pagou o preço que a doença cobra do sistema músculo esquelético – precisa se apoiar nas paredes para andar.Está terminando o primeiro grau , em duas tardes de APAE faz fisioterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia, psicomotricidade, apoio pedagógico e psicológico. Acham que há possibilidade de inclusão no mercado de trabalho, mesmo não possuindo capacidade de leitura. Ele copia, mas não lê.Usa bicicleta adaptada Liga o computador, navega pelos vídeos, faz informática, ensina a mãe a jogar no celular.É são paulino, amoroso, inteligente, adolescente contestador. Estou estudando Pedagogia, quero trabalhar na área, quero tentar sua alfabetização.Quero ensinar simpatia, gosto em ajudar todos do grupo, alegria de ser útil em sua possibilidade.Quero preparar seu futuro,tenho irmã que é sua segunda mãe , mas ele precisa conquistar toda sua família.Acabo de me separar de meu marido. É definitivo. Triste, ele afastou-se de mim e de Gabriel.Vamos enfrentar mais este desafio.Sei que “A verdade é que a gente não faz filhos.Só faz o layout. Eles mesmos fazem a arte final.” –Luis Fernando Veríssimo.


Caso real. Elizabeth Fritzsons da Silva, psicóloga e diretora da Unidade de Atenção aos Direitos da Pessoa com Deficiência.

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