Entrevisto Maria do Carmo em sua casa. Ela entrega cópia de depoimento sobre sua experiência, elaborado em uma folha de papel, em quatro dias de árduo esforço, ajudada pela mãe. Mostra como era linda sua caligrafia, seus boletins escolares com notas quase sempre máximas. Advogada, estudiosa de três idiomas, curso de piano completo, caixa de banco enquanto estudante, já trabalhava em nossa cidade, e aos trinta anos, uma trombose em sua carótida desencadeou um acidente vascular cerebral (AVC). Em quarenta e oito horas, em coma profundo, chegaram a providenciar a extrema unção. Abordagem médica diferente, em tentativa desesperada fez cirurgia para salvar a metade do cérebro ainda sadia, e depois de quarenta dias no hospital, mais duas cirurgias. Isto aconteceu há 23 anos. Um acidente vascular pode ter diferentes conseqüências em paralelo (dificuldades de coordenação do corpo, campo visual alterado, confusão para ações do cotidiano, dificuldades para deglutição, memória afetada por falhas na fala, convulsões epilépticas, mudanças na expressão das emoções), configuradas de acordo com a localização e tamanho da lesão cerebral. Pessoas não informadas podem imaginar que a pessoa está alcoolizada, sob efeito de drogas, ou que é deficiente intelectual ou doente mental – o que só aumenta dolorosamente a desconexão social. O cérebro funciona como sempre, para pensar e sentir. Mas não consegue mais a rapidez e eficiência que tinha para se comunicar. No caso de Maria do Carmo aconteceu hemiplegia (um lado do corpo em paralisia), e contando com intenso apoio familiar fez anos de fisioterapia, fonoaudiologia, natação, massagem, precisando ainda ser realfabetizada. Hoje dirige seu carro, usa computador (com voz de leitor de tela, a capacidade de leitura visual atual é muito lenta), faz suas compras, pinta seus quadros. Sempre sorrindo. Mas gostaria imensamente de voltar a algum trabalho, e com as atuais condições acha isto muito difícil. Causas mais freqüentes de AVC: hipertensão arterial, doenças cardíacas ou que interferem na coagulação sanguínea, gordura excessiva no sangue, tabagismo, estresse emocional, uso de anticoncepcional sem monitoramento médico.Após o AVC, toda pessoa e seus familiares precisariam de apoio técnico/terapêutico contínuo para avaliar a conexão de suas potencialidades vigentes com seu meio afetivo e social. Senão a vida se torna um marasmo de dores físicas constantes, medicação pesada, comunicação verbal falha, auto-estima abalada e isolamento social. Saramago: “Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia”.
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