terça-feira, 23 de outubro de 2012

Caso Real: MESMO DEFICIENTE, SOBREVIVÍ!

   Nasci no Sergipe. Tenho cinqüenta e um anos. Tive poliomielite com cinco anos, apesar de vacinada. Tenho uma perna mais curta, com um pé menor, ando mancando. Costurava vestidos, em uma velha máquina de casa, aos oito anos. Aos doze já produzia camisas e calças. Com esta idade moço da vizinhança, de vinte e quatro anos, quis me namorar.
   O casamento, aos dezessete anos, tinha a mais sabor de ter minha casa própria, do que dividir a vida com meu amor. Viemos para São Paulo, e sempre trabalhei muito, como costureira em confecção, sem registro, ganhando muito bem, e cuidando de tudo na casa, mais os filhos. Ele trabalhava, mas nunca me ajudou em nada em casa, e não admitia que eu deixasse de trabalhar fora de casa, além de não poder gastar com nada pessoal.
   A relação foi se desgastando, pedi a separação, sempre negada. Insisti e ele me esfaqueou por sete vezes. Não sei até hoje como consegui escapar. Atingiu minha testa, meus braços, o abdômen. Ele fugiu do flagrante, ficou seis meses em outra cidade, não recebi amparo legal nenhum, os policiais disseram que eu devia “entender ele”. Finalmente definiu que se eu retirasse a queixa registrada, ele sairia de casa.
   Tenho dois filhos casados, e dois em casa, não quis pensão. E agora comecei a sentir muito cansaço, falta de ar, fraqueza mesmo, dor nas juntas – fui informada de que posso estar sofrendo efeito tardio da pólio (Síndrome Pós-Polio), que pode acontecer de trinta a quarenta anos após a infecção.
   Passei tantos anos lutando por sobrevivência e nunca busquei ajuda médica, contribui com o INSS ou fiz algum convênio. Simplesmente não pude perceber que era pessoa com deficiência, com o direito de ser atendida e entendida.


Caso real. Elizabeth Fritzsons da Silva, psicóloga e diretora da Unidade de Atenção aos Direitos da Pessoa com Deficiência.

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