terça-feira, 17 de abril de 2012

"O PIADISTA" : A historia da luta dos pais de Jean que sofreu avc ainda em gestação.

Jean Carlos adora piadas. Assim que conhece uma nova, sai correndo para contar. No bairro em que mora, tem amigos de todas as idades possíveis. Jean tem dezessete anos, é muito bom aluno, já acabou o ensino médio, e tem hemiparesia na sua mão direita. Isso quer dizer que em seu caso alguma coisa aconteceu em seu pequeno cérebro, ainda nenê-na-barriga da mãe.  Fato percebido pelos pais quando tinha um ano de idade.

O bracinho direito ficava encolhido, sem movimentação independente e um terrorista da área de saúde afirmou que ele nunca iria andar ou falar. Ele joga vôlei e basquete, “não é tão bom quanto os outros”, mas alguém é bom em tudo? Este resultado só foi possível por orientação correta de médico do Hospital das Clínicas - que indicou a máxima e mais intensa estimulação possível, desde muito cedo, para minimizar a perda neurológica do acidente vascular cerebral intra-uterino, que reduziu força e controle muscular na mão direita e criou leve perda de desempenho na perna do mesmo lado. Foram quase dez anos de APAE, com fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional e tudo o que foi possível, até atendimento em clínica particular.

Para dar conta de todo este importante trabalho, com locomoções, horários e exercícios sua mãe Elizabeth convenceu o marido José Maria a ser pai de um único e bem cuidado filho. Nas voltas que a vida dá, o trabalho desta mãe inclui atender, na casa em que trabalha, a adulto que sofreu AVC e necessita de alguma supervisão, há doze anos. A escolaridade no início deu um pouco de trabalho, era hiperativo, mas com troca de professora e classe se achou e nunca mais perdeu o rumo. Já quer trabalhar. Sonha com faculdade, quer fazer psicologia, acha que sabe escutar e quer ajudar outras pessoas a resolverem seus problemas.

Afirma que nunca se achou deficiente. Jean, em seus poucos anos já acumulou algumas sabedorias – apesar dos seus dezessetes anos, já entendeu que todos vamos ficando menos eficientes e mais deficientes conforme vamos vivendo, e que nascer com um pedaço do corpo que funciona menos não diminui a sensibilidade, a inteligência e a criatividade para conviver e se adaptar. A vida vale mais do que uma deficiência, é maior.

Jean usa o humor sabiamente também – humor desconhece idade, classe social, sexo – busca a inteligência, a quebra de regras estabelecidas, a oportuna rebeldia, é uma forma de contato democrática e acessível, que nivela as pessoas. Reorganiza o fluxo das relações. Ele usa sempre, com todos, com olhar esperto. Cedo ele aprendeu que “Todos vivemos sob o mesmo céu, mas ninguém tem o mesmo horizonte” – Konrad Adenauer.



Caso e nomes reais. Elizabeth Fritzsons da Silva, psicóloga e diretora da Unidade de Atenção aos Direitos da Pessoa com Deficiência, Promoção Social

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