Agora, afirma levantamento do governo, o transtorno mental afeta 1 em cada 88 crianças, a maioria meninos Alguns especialistas atribuem aumento a diagnóstico melhor e mais precoce; problema ainda exige mais estudo.
Novos dados divulgados pelos CDCs (Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA) indicam o que, à primeira vista, parece um aumento preocupante dos casos americanos de autismo -problema mental que pode atrapalhar de forma severa as interações sociais e o desenvolvimento da linguagem. O transtorno, que afetava 1 em 150 crianças americanas no ano 2000, passou a acometer 1 em 88 crianças em 2008, último ano para o qual existem dados consolidados. O grande problema, no entanto, é saber o que esses números significam. Em primeiro lugar, eles são uma estimativa, obtida a partir de dados recolhidos por uma rede de monitoramento do autismo que atua em 14 dos 50 Estados americanos. São, portanto, uma extrapolação, não um censo de todas as crianças americanas que têm o problema. Também é difícil saber se o problema está aumentando de fato ou se médicos e pais apenas melhoraram sua capacidade de detectá-lo. Em entrevista à rede CNN, Mark Roithmayr, que preside a ONG Autism Speaks, diz que os números são resultado de "diagnósticos melhores, mais amplos [que consideram mais pessoas como autistas] e uns 50% que nós não sabemos como explicar". Já para Estevão Vadasz, coordenador do Programa Transtornos do Espectro Autista do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP, o número recém-divulgado não inspira muita confiança. SEM RAZÃO "Não há razão para aumento da prevalência. Agora estamos mais aparelhados para fazer diagnóstico e as famílias estão mais informadas, correm atrás", diz ele. Mesmo que a explosão de casos seja real, o difícil é explicar o porquê dela. Com exceção dos fatores genéticos, que parecem ser muito importantes, não há relação clara entre variáveis ambientais e autismo. A hipótese de que certas vacinas poderiam aumentar o risco de desenvolver o problema foi desacreditada, como outras ideias do tipo. Outra dificuldade em estimar números é que o autismo não é uma doença com manifestação uniforme, mas o que se costuma chamar de "espectro do autismo". Cabe dentro desse espectro uma variedade enorme de condições, que vão do retardo mental severo e incapacidade quase completa de se comunicar a casos de pessoas com inteligência e fala normais -as quais, no entanto, não conseguem decifrar as emoções dos outros nem se relacionar normalmente. Entre esses casos mais leves estão as pessoas com a chamada síndrome de Asperger, que já estão deixando de ser classificadas dentro do espectro do autismo. A próxima edição do DSM, "Bíblia" internacional dos transtornos mentais, vai excluir alguns transtornos do espectro, diz Vadasz. "Sou contra essa mudança. Estão simplificando e excluindo do diagnóstico portadores de transtorno que são muito hábeis e inteligentes. Por mais bem-sucedidos que eles sejam, precisam de supervisão constante. E vão perder benefícios", afirma ele. Problema pode ter elo com cérebro 'hipermasculino' DO EDITOR DE “CIÊNCIA E SAÚDE” A dificuldade de entender como o autismo surge levou pesquisadores como o britânico Simon Baron-Cohen, da Universidade de Cambridge, a estudar a relação entre o transtorno e as características mais comuns da mente humana, como diferenças cerebrais entre homens e mulheres. Para Baron-Cohen, "ser homem é ter uma forma muito leve de autismo". Ele postula que o problema, cinco vezes mais prevalente entre meninos do que entre meninas, seria uma versão muito exagerada da relativa falta de empatia dos homens. Agora, ele está estudando o papel da testosterona, hormônio masculino, no cérebro autista.
Fonte: www1.folha.uol.com.br publicado em 30 de Março de 2012.
Nenhum comentário:
Postar um comentário