sexta-feira, 27 de abril de 2012

Projeto prevê tradução em libras

Profissional acompanharia todas as aulas da rede pública do Ensino Fundamental a Faculdade

A Assembleia Legislativa deve analisar a partir deste mês os projetos de lei 234 e 235/2008, de autoria do deputado Edmir Chedid (DEM), que tornam obrigatória a tradução simultânea das aulas em faculdades e escolas públicas para Libras (Linguagem Brasileira de Sinais).

Atualmente, a grande dificuldade para pais que tem filhos com deficiência auditiva é conseguir profissionais capacitados e instituições que promovam a inclusão na região de Americana.

Educadores avaliam positivamente a medida, que promove a inclusão e facilita o processo de aprendizagem tanto para o professor como para o aluno, que poderá frequentar as aulas regulares.

Os dois projetos de lei tramitam na Assembleia Legislativa desde 2008, mas este ano deve ser colocado em pauta, segundo a assessoria do deputado.

Os projetos receberam pareceres favoráveis das comissões de Finanças e Orçamento, Educação e Constituição e Justiça. Não receberam nenhuma emenda ou substitutivo.

A proposta do deputado prevê o benefício desde crianças do Ensino Fundamental até a Faculdade. Os projetos estão baseados na Lei Federal 10.436, de 24 de abril de 2002, que considera a Libras instrumento legal de comunicação e expressão.

Em sua justificativa, o parlamentar afirma que o Brasil é reconhecido pela ONU (Organização das Nações Unidas), OEA (Organização dos Estados Americanos) e outros organismos internacionais como modelo em legislação voltada para a inclusão social de pessoas portadoras de deficiência.

Em relação aos projetos de lei, a intenção é garantir aos portadores de deficiência auditiva o direito ao pleno exercício da cidadania.

O projeto 234/2008 implanta a tradução simultânea para Língua Brasileira de Sinais nos cursos das Faculdades e Universidades Públicas do Estado de São Paulo.

O artigo 1º determina que a tradução será efetuada ao longo de todas as aulas, por profissional interprete de Libras com formação em curso de instituição formalmente reconhecida.

Já o projeto 235/2008 implanta a tradução simultânea para Libras nos cursos do ensino público fundamental e médio. Edmir Chedid afirmou que os projetos são fundamentais para a qualidade da educação oferecida pelo Estado. "Quanto maior a contribuição da comunidade aos projetos, maior serão as esperanças para que sejam aprovados", disse.

A coordenadora de ensino de uma escola municipal de Santa Bárbara d'Oeste, Neide Aparecida Corte, avalia positivamente o projeto de lei como forma de promover a inclusão.

Na escola onde atua existe classe especial para alunos com necessidades especiais. Entretanto, ela afirma que o tradutor simultâneo de libras é importante para abrir maiores oportunidades ao estudante e incentivá-lo.

"Os professores das salas especiais são especializados. Os professores regulares das salas não são tão especializados assim, nem todos possuem o curso de libras. Porque nós percebemos que os alunos da rede que utilizam a sala especial tem um atendimento diferenciado. Mas, trabalhamos com inclusão e a nossa necessidade é de incluir aluno. Seria interessante ter um tradutor para acompanhar na sala regular porque assim a criança vai ter como participar, entender melhor, vai se sentir mais parte da sala de aula", avaliou.

Famílias encontram dificuldade em profissionais
As famílias de deficientes auditivos encontram dificuldades em encontrar escolas que promovam a inclusão, além de profissionais capacitados para serem tradutores simultâneos de libras.

A inclusão "pesa no bolso" de quem precisa arcar com os custos da escola particular e ainda de um profissional para fazer a tradução.

O auxiliar administrativo Vinícius Manoel Nunes, pai de Maria Clara, 7 anos, explicou que até o ano passado, a menina deficiente auditiva frequentou uma escolar regular sem a necessidade de um tradutor.

A própria professora da classe regular de uma escola particular de Americana conhecia a linguagem de libras. Este ano, ela foi para o 1º ano do Ensino Fundamental e Nunes precisou encontrar uma escola que tivesse projeto de inclusão e também disposta a aceitar um profissional para acompanhar a criança.

"O objetivo não é ter uma cuidadora, é sim uma interprete. A deficiência auditiva não limita a criança para outras atividades. A dificuldade de você encontrar uma pessoa capacitada para isso é muito grande (tradutora simultânea). O valor para esse tipo de pessoa não é baixo. Se o Estado fornecesse seria muito mais fácil", frisou Nunes. A criança está matriculada em escola particular de Nova Odessa.

Ele explicou que a profissional precisa ter conhecimentos profundos da Língua Brasileira de Sinais para ser tradutora simultânea. Para conseguir, ele peregrinou em várias instituições e entidades de Americana e Nova Odessa até conseguiu encontrar uma profissional.

"Esse projeto na rede municipal ou estadual de ensino vai ser um ganho fantástico. Mas, ao mesmo tempo me preocupa de onde vão surgir pessoas capacitadas para exercer a função. Ele avalia que junto ao projeto, é necessário que o poder público capacite educadores para exercer essa função".

Igreja faz aulas bíblicas em libras
A Primeira Igreja Batista de Americana promove aulas de escolas bíblicas para deficientes auditivos em libras. O professor também é surdo e dessa forma as coordenadoras fazem um resumo das lições e ele monta os projetos em computador, com ilustrações e a Linguagem Brasileira de Sinais.

Os cultos também possuem tradutor simultâneo, segundo uma das coordenadoras do Ministério com Surdos, Aparecida Inês Oliveira.

Ela defendeu que a proposta do tradutor simultâneo em libras nas escolas é um direito da pessoa deficiente. "Facilita muito sim e é um direito deles de terem uma intérprete em sala de aula para acompanha-lo porque tem muitos que não conseguem fazer a leitura labial ou não aprenderam. Mas, o mais correto seria ter uma escola específica para eles", afirmou.

Inês visitou uma escola na Capital modelo para ensino de deficientes auditivos e afirmou que como no local conseguem boa formação, depois é mais fácil seguirem os estudos para o Ensino Médio e até a universidade.

Várias igrejas já promovem a tradução simultânea de cultos em libras. Segundo a Primeira Igreja Batista, devido à dificuldade de inserção do deficiente auditivo na sociedade, o Ministério com Surdos de Missões Nacionais, visa capacitar igrejas para transmitir a religião.

Implantação de tradução simultânea é defendida
A implantação de tradução simultânea em libras nas classes regulares de ensino é avaliada positivamente por educadores. A professora Thaís Lacerda, que leciona em duas escolas e possui o curso de libras, promoveu a inclusão no ano passado de uma criança em sua sala de aula.

Com a menina deficiente auditiva, Thaís foi buscar o curso de libras e conseguiu cumprir o papel de ensinar e ainda integrar a menina para que pudesse seguir para o Ensino Fundamental.

Na formatura, enquanto as crianças cantaram o hino nacional, em dezembro de 2011, a aluna cantou também o hino em libras. O fato emocionou os presentes.

O mesmo aconteceu nas festas do Dia das Mães e outras datas comemorativas, quando a estudante cantou em libras e participou de todas as atividades.

Para Thaís, a existência de uma tradutora simultânea nas classes será importante para facilitar o aprendizado. Ela informou que nas suas aulas, ensinava as atividades nas duas formas de comunicação e dessa maneira conseguiu resultados positivos.

"Eu acho que vai enriquecer ainda mais o trabalho do dia-a-dia das professoras e as crianças somente tem a ganhar. Em nenhum momento ela (aluna) teve dificuldade em frequentar a aula. Ela acompanhava a turma, as atividades propostas e eu nunca a exclui em nenhuma atividade", frisou.

A professora afirmou não ser complicado lecionar para crianças deficientes e as sem deficiência em classes comuns. Para a professora, é necessária uma parceria com as pessoas que participam da vida da criança e importante se tiver uma segunda profissional para fazer a conversação com o estudante, no caso um tradutor.

"No meu caso, como fiz o curso, não tive nenhuma dificuldade. Quando explicava, eu explicava dos dois jeitos, Um tradutor iria fazer o aluno participar mais das atividades porque nas escolas públicas tem uma média de 25 a 30 alunos por sala e ajudaria bastante ele (aluno deficiente) ficar inserido no grupo", defendeu.



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