20 de Março de 2015
Michael Glotz Richter, de Bremen, visitou Belo Horizonte nessa semana. A cidade alemã é parceira de BH para o compartilhamento de conhecimento em mobilidade urbana sustentável, Conheça o caso de sucesso de Bremen! (Foto: Luísa Zottis/EMBARQ Brasil)
O conhecimento proporcionado pelo intercâmbio de experiências entre Bremen, na Alemanha, e Belo Horizonte, Minas Gerais, através do projeto SOLUTIONS, tem três áreas chave de enfoque: o transporte não motorizado; as vias urbanas de baixa velocidade, zonas 30; e a logística urbana. Esta cooperação bilateral tem gerado bons frutos para a capital mineira, como a possibilidade de implantação uma rua compartilhada prioritária para as bicicletas inspiradas em um exemplo de sucesso e a elaboração do plano de logística urbana da cidade.
Mais um passo desta troca de experiências foi dado nessa quinta-feira com o Workshop Internacional de Mobilidade Urbana, uma realização entre SOLUTIONS, Prefeitura de Belo Horizonte, BHTrans – Empresa de Transportes e Trânsito de BH e EMBARQ Brasil (produtora deste blog).
Solucionar as questões de mobilidade urbana e tornar o uso do espaço da cidade mais eficiente são desafios constantes e comuns em decorrência da expansão urbana. Em BH, a prevalência do transporte individual motorizado, que representa 36,5%das viagens de um total de 6,3 milhões de deslocamentos diários, torna o desafio ainda mais intenso.
Por isso, além da vontade política que já começou a modificar para melhor o cenário urbano, lições inspiradoras de fora foram trazidas no workshop. Uma delas vem lá da Europa e é surpreendentemente positiva.
Conheça esta história:
Você compraria uma vaca por um copo de leite?
O exemplo da cidade parceira de BH foi contada por Michael Glotz Richter, gerente de transportes de Bremen, que mostrou como se constrói uma cidade inovadora, eficiente e orientada para o transporte não motorizado. O processo começa muito cedo, ainda no ensino básico, quando alunos da quarta série são treinados para pedalar – a cada ano, três mil crianças são capacitadas. Políticas como esta vão ao encontro dos hábitos dos mais de meio milhão de moradores da cidade, onde 25% dos deslocamentos são feitos de bicicleta.
Bremen, Alemanha, implantou vias compartilhadas entre os modais, determinou zonas 30 e tem 25% dos deslocamentos feitos de bicicleta. (Foto: kadege 59 ♌/Flickr)
Além da formação dos futuros cidadãos, que também têm o exemplo dos pais em casa, os líderes municipais fazem sua parte investindo em infraestrutura. “Para criar comodidade e conveniência ao ciclista, elementos como estacionamento de bicicletas fazem toda a diferença. Nós temos uma política desde 1999 que estabelece que todo novo prédio construído deve instalar vagas para bicicletas, bem como os supermercados, escritórios e outros estabelecimentos”, contou Richter. O especialista também explicou que, para fomentar o comércio na região central, vagas de carro foram substituídas por estacionamentos de bicicletas. “É óbvio: em duas vagas de carro cabem 12 bicicletas, portanto o estabelecimento prioriza a bike ganha mais movimentação de pessoas”.
Ainda sobre infraestrutura, uma solução adotada nas vias – nas quais a velocidade máxima permitida é de 30 km/h – é o compartilhamento modal. “Onde os carros se comportam como convidados, e não como os donos. Nestas ruas, mais de 50% dos deslocamentos são por bicicleta e todos respeitam, de forma compartilhada, o espaço e a segurança do transporte não motorizado”, contou Michael.
A bicicleta é, sem dúvidas, protagonista das ruas de Bremen, mas a eficiência do uso de espaço e fluência do trânsito se deve ao conjunto de opções de transporte. Uma das bandeiras da cidade é o compartilhamento de carro. “Se o carro elétrico é eficiente em termos de emissões, por outro lado ele não resolve a mobilidade urbana e o congestionamento. O segredo é migrar do veículo privado para o compartilhado”, ressaltou o gestor alemão, acrescentando que o car-share é, de fato, a alternativa à posse do carro. “Traz flexibilidade, pois pode-se optar pelo modelo mais conveniente para a ocasião e número de passageiros. Sem contar que não há preocupação com manutenção, com nada. É só devolver na estação onde foi retirado, pois a sua vaga já está reservada lá”.
A ideia, segundo o gestor público alemão, é de que não possuir carro fomenta o uso de bicicleta, carro compartilhado, táxi, caminhada. “Realizamos um estudo e descobrimos que onze carros privados são substituídos por cada carro compartilhado do nossos sistema, chamado Cambio. Em 2020, queremos ampliar a demanda, hoje com 10 mil usuários, para 20 mil, o que significa que 6 mil carros privados serão substituídos”.
Bremen é a única cidade europeia com uma estratégia ambiciosa para substituir a posse do carro por um compreensivo serviço de car-share. Atualmente, 60 estações estão espalhadas pela cidade e a previsão é que haja 80 delas até o fim do ano.
Além da atuação prática nas políticas públicas e nas vias, uma das chaves para fomentar a cultura de mobilidade sustentável é o marketing. Um exemplo é a campanha I Bike Bremen. Mas um habitante em especial conquista a simpatia de todos: Udo, um personagem cujo nome significa “Use it, don’t own it” (utilize, não possua, em tradução livre). Ele curte pedalar, andar de ônibus porque pode ler um livro e, acima de tudo, aprecia a comodidade de não possuir um carro. Afinal, o sistema car-share permite alugar carros por hora ou por dia, e do tamanho e modelo escolhido – para carregar grandes objetos em deslocamentos urbanos e sair de férias com a família. No dia a dia, o transporte coletivo e a bicicleta são opções perfeitas e que funcionam na cidade, para Udo e para todos! Para finalizar sua palestra, de forma bem humorada, Michael lançou a provocação: “o espaço é crucial e traz qualidade de vida nas cidades. Você compraria uma vaca para tomar um copo de leite? Então por que comprar um carro para andar por aí?”.
Este é Udo:
Se você quiser saber tudo que rolou no workshop internacional Mobilidade Sustentável, clique aqui.
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