Não fui de
passear, sou só de lutar.
Tenho 63 anos, sou Maria, viúva. Moro com meu caçula, os
outros dois filhos e meus netos moram próximos.
Todos reclamam que saio pouco de casa. Digo que gosto assim, mas não sei
se também não existe um resguardo – faço tratamento para sério problema de
visão. Ou será que é o momento de repouso, depois de tantas lutas que surgiram
em minha vida?
Meus pais eram lavradores, de poucas posses, com frequentes e
diferentes problemas de visão em quase todos membros da família. A retina de um
de meus olhos se descolou quando eu tinha 16 anos, precisei abandonar os
estudos.
Casei aos 19 anos, tivemos três filhos, todos com diferentes
problemas de visão.
Lembro de um ano em que ficamos praticamente sem dormir, com
meu caçula deitado em meu colo, chorando com a dor causada pelo glaucoma,
nossas lágrimas se misturando. O pai, sempre amoroso com os filhos, saía pela
noite, acho que não suportava ouvir. De dor muito grande não se fala. Lutamos
pelos dois olhos até seus doze anos. Perdemos esta batalha.
Este filho falava muito que queria estudar Direito. Também
tinha problema auditivo. Fez marcenaria no SENAI, fazia casinhas de cachorro
para vender durante o dia, e à noite ia sozinho, com sua máquina de Braille
para a escola. Eu quase morria de angústia até enxergar ele entrando em casa de
novo. O CPC traduzia suas provas para o Braille. Escola mais especializada só
em Campinas, longe de nossas posses.
Aos 14 anos desanimou, disse que iria trabalhar. Tem empresa
que faz cabos de vassouras. O irmão mais velho tem negócio similar, a irmã
trabalha junto. Esta batalha vencemos – eles podem se sustentar!
“Todas as
pessoas tomam os limites de seu campo de visão, pelos limites do mundo.” –
Arthur Shopenhauer.
Caso real.
Elizabeth Fritzsons da Silva, psicóloga, e-mail:bfritzsons@gmail.com.
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