quarta-feira, 4 de março de 2015

Depoimento de pessoa com deficiência visual, mãe de tres filhos na mesma condição.Grata pelo que conseguiu.

Não fui de passear, sou só de lutar.

Tenho 63 anos, sou Maria, viúva. Moro com meu caçula, os outros dois filhos e meus netos moram próximos.  Todos reclamam que saio pouco de casa. Digo que gosto assim, mas não sei se também não existe um resguardo – faço tratamento para sério problema de visão. Ou será que é o momento de repouso, depois de tantas lutas que surgiram em minha vida?
Meus pais eram lavradores, de poucas posses, com frequentes e diferentes problemas de visão em quase todos membros da família. A retina de um de meus olhos se descolou quando eu tinha 16 anos, precisei abandonar os estudos.
Casei aos 19 anos, tivemos três filhos, todos com diferentes problemas de visão.
Lembro de um ano em que ficamos praticamente sem dormir, com meu caçula deitado em meu colo, chorando com a dor causada pelo glaucoma, nossas lágrimas se misturando. O pai, sempre amoroso com os filhos, saía pela noite, acho que não suportava ouvir. De dor muito grande não se fala. Lutamos pelos dois olhos até seus doze anos. Perdemos esta batalha.
Este filho falava muito que queria estudar Direito. Também tinha problema auditivo. Fez marcenaria no SENAI, fazia casinhas de cachorro para vender durante o dia, e à noite ia sozinho, com sua máquina de Braille para a escola. Eu quase morria de angústia até enxergar ele entrando em casa de novo. O CPC traduzia suas provas para o Braille. Escola mais especializada só em Campinas, longe de nossas posses.
Aos 14 anos desanimou, disse que iria trabalhar. Tem empresa que faz cabos de vassouras. O irmão mais velho tem negócio similar, a irmã trabalha junto. Esta batalha vencemos – eles podem se sustentar!
“Todas as pessoas tomam os limites de seu campo de visão, pelos limites do mundo.” – Arthur Shopenhauer.

Caso real. Elizabeth Fritzsons da Silva, psicóloga, e-mail:bfritzsons@gmail.com.

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