terça-feira, 31 de março de 2015

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Segunda, 30 de março de 2015

‘O ser humano não foi feito para ficar no computador toda hora’, diz pesquisador

Para Luis Camillo Almeida em entrevista ao jornal O Globo, 29-03-2015, excesso no uso da tecnologia faz o homem ‘se comportar como máquina’.
Em 2001, o carioca Luis Camillo Almeida, professor e chefe de departamento da Escola de Comunicação da Indiana University of Pennsylvania, nos Estados Unidos, literalmente perdeu o chão: esgotado pelo hábito de só se desligar do computador ao último grau de exaustão, acabou diagnosticado com uma espécie de labirintite causada por estresse que o fez andar de bengala por oito meses e arruinou parte de sua capacidade auditiva.
Com base na própria experiência, Almeida – hoje com 41 anos – passou a pregar a desconexão no circuito de palestras americano, incluindo o cultuado fórum de conferências TED. Em menos de uma ;década, acredita, estaremos em meio a uma epidemia de ansiedade global.“Tem que haver uma mudança de comportamento, ou vamos pagar um preço muito alto na nossa saúde”, diz. “O ser humano está se robotizando, e o único jeito de interromper esse processo é o esgotamento.”
Eis a entrevista.
Fale um pouco da experiência pessoal que o levou a pregar a desconexão.
Uso o computador desde os 11 anos. Quando minha família se mudou para os Estados Unidos, em 1998, a prática se intensificou: recorri à tecnologia para agilizar o aprendizado do inglês, enquanto também descobria as redes sociais. Em 2001, recém-promovido a chefe de departamento na universidade, passava dia e parte da noite no computador, e fiquei muito doente, não conseguia ficar em pé. Foi quando, de licença em casa, comecei a escrever a teoria “The Almeida computer behavior”, que foi inclusive publicada. Percebi que a situação piorava quando eu olhava para o computador. Quando imprimia o que queria ler, era mais fácil. E comecei a pensar: será que estou virando uma máquina? Eu li Marshall McLuhan, vi que estava acontecendo comigo. Comecei a prestar atenção ao comportamento das pessoas na universidade, sempre teclando no celular, mesmo no meio de uma conversa. E o que eu estava escrevendo começou a fazer sentido... É um processo que acontece em fases. A pessoa vai ficando robótica, o que não é muito diferente do que o McLuhan falou. Mas minha teoria se difere da dele, porque o ser humano não foi feito para ficar no computador toda hora. Quando o computador quebra, a gente troca. Se a gente quebrar, não tem como. Então tem uma hora que a Síndrome do Humano Robótico vai reverter de volta para o humano, não tem como.
Explique as diferentes fases de sua teoria.
O ser humano, quando muito conectado, entra num estado de desequilíbrio, mas ainda é mais humano do que máquina. Depois começa o que chamo de Síndrome do Homem Robótico, quando a pessoa começa a se comportar mais como máquina do que como humano. Acho que a gente está chegando lá. Mas o ser humano não é uma máquina, e a população global vai sentir isso na pele. Não tem como transformar o ser humano em máquina. A tecnologia vai nos mostrar como nós somos limitados, e aí vamos passar por outra fase, que batizei de Reversão Humana, em que passaremos por um processo de volta ao equilíbrio, vamos ter que nos recondicionar. Mas, como a tecnologia veio para ficar, o ciclo vai continuar.
Como assim?
A tecnologia está nos transformando em robôs, que é o princípio do McLuhan. Mas a longo prazo acho que a tecnologia vai fazer com que fiquemos mais conscientes de como somos limitados, somos mais humanos do que robóticos. Vai chegar um momento em que as pessoas não terão como processar tanta informação, cedo ou tarde o ser humano vai passar por uma epidemia de ansiedade, e só então realizar que a tecnologia não é extensão de ninguém. Aconteceu comigo e com muitas pessoas com quem encontrei desde então.
O esgotamento físico seria a única forma de promover uma mudança?
Exato.
A tecnologia está subvertendo seu próprio sentido de facilitar a nossa vida?
O uso excessivo de tecnologia vai nos fazer lembrar que somos humanos, não máquinas. Foi aí que eu me descolei doMcLuhan. Ele viveu no século passado, estamos passando por outra realidade hoje. A sociedade já passou do ponto de adição tecnológica, estamos na fase de condicionamento tecnológico, em que as ferramentas tecnológicas estão nos condicionando a usá-las cada vez mais. Previ, em 2013, que a população ia viver uma epidemia de ansiedade em nível global em dez anos.
Quais serão a consequências a longo prazo?
Teremos uma sociedade mais burra, vamos regredir. O ser humano vai ficar neurótico, completamente ligado à computação, sempre passando por um ciclo vicioso entre homem e máquina. Não vai parar, só vai piorar. Achamos que passar o dia no computador é igual a ser produtivo, mas nem sempre. Ficar no Facebook contando que deu banho na filha é perda de tempo, a sociedade está perdendo tempo demais.
Essa desconexão não tem seu preço? O funcionário que demora a responder um e-mail, ou o amigo que demora a responder uma mensagem, não está perdendo?
A princípio pode perder. Mas a longo prazo ganha. A questão é: a que preço? Por isso o uso de tecnologia com moderação é crítico. Quando você envia um comando para um computador, ele imediatamente te dá um comando de volta. O ser humano está adquirindo esse comportamento de máquina. Eu hoje filtro o que vou responder de imediato.
Como foi parar no TED?
Com a ideia de que o ser humano está se robotizando, e o único jeito de interromper esse processo é o esgotamento. A ideia de que ficaremos robóticos não é minha, isso o Marshall McLuhan falou na década de 1960, mas a ideia de que as pessoas vão ter que adoecer para acordar é um movimento novo. Quando o computador quebra, a gente troca. Se a gente quebrar, não tem como. Quanto mais o ser humano usa a máquina, vai começando a se comportar como um robô, sem entender que o único jeito de reverter esse processo é o esgotamento. E tem que viver o estresse para perceber que não é uma maquina. Mudei 100%, mas só porque experimentei o lado negro da tecnologia. Perdi parte da minha audição por causa disso.
Como promover a desconexão quando o número de celulares no mundo supera a população?
Tem que haver uma mudança de comportamento, ou vamos pagar um preço muito alto na nossa saúde. Hoje, ando com óculos escuros, que boto para descansar os olhos quando estou muito ligado ao computador ou ao celular. Precisamos de um sistema de autorregulamentação.
Como saber que se está passado dos limites?
Um profissional deve trabalhar oito horas por dia. Se a gente está no computador por 14 horas, alguma coisa está acontecendo. E tem mais: no trabalho, quantas horas as pessoas passam em redes sociais e quantas horas estão realmente trabalhando? A baixa produtividade é um sintoma que já estamos vendo. De qualquer forma, não se trabalha 80 horas por semana sem efeito colateral. E isso tem um custo também financeiro, se analisarmos a quantidade de profissionais doentes nas empresas. Não é só o caso de realizar que o uso excessivo da tecnologia tem efeitos colaterais, isso já sabemos. Para as empresas, não é bom financeiramente.
E como educar as crianças?
Tenho uma filha que vai fazer 2 anos. Limitamos muito celular, iPad, que ela usa com moderação. Outro dia, na fila do supermercado, ela estava esperneando e, em vez de dar meu celular, como a maioria dos pais faria hoje, eu dei um abraço nela e comecei a cantar uma música de ninar. E ela parou. Nem todas as soluções para os problemas que temos hoje são baseadas na tecnologia. As coisas que nossos avós faziam também funcionam, e bem. A moça que estava atrás da gente chegou a bater palma.
Fale da pesquisa que desenvolveu com alunos da sua universidade.
Depois de adoecer, preparei com um psicólogo um questionário de 94 perguntas que submetemos a cem estudantes. O resultado confirmou a minha hipótese. Por exemplo, 44% responderam que só se desconectam diante de exaustão mental e física; 72%, que pensamento impulsivo é um fato da vida; 74% executam tarefas rapidamente; 85% dizem que “respondem a comandos”. A maioria diz que está sempre procurado decisões imediatas e fazendo várias coisas ao mesmo tempo, que são atributos do computador. Mas só 13% acreditam que estão se robotizando!
Explique o movimento “Esc the Machine”, que acaba de lançar.
É um chamado para que se use a tecnologia — que, claro, é uma coisa boa e deve ser celebrada — com moderação. Começamos há poucas semanas, abordando gente na rua, e já temos centenas de fotos de pessoas que pararam tudo para posar com o logo do movimento. Tecnologia é muito bom, posso falar com minha família no Brasil, a medicina se aprimorou, não há dúvida de que muita coisa melhorou, mas por que preço? O preço que estamos pagando é muito alto.
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Segunda, 30 de março de 2015

O presente sem sombras e o Alzheimer em 'Para sempre Alice'

"A questão em jogo, no entanto, não é a morte que chega pela falência dos órgãos, mas a vida que se vai pela perda de sí própria, pela perda das referências, pelo fim da memória, por um presente que se torna uma espécie de corpo sem a sombra do passado." O texto é de Ricardo Machado, jornalista e mestrando no PPG em Ciências da Comunicação da Unisinos.
Eis o texto.
Imagine o seu cérebro como uma espécie de dicionário em que você diariamente consulta palavras e seus significados. Agora imagine que você está diante de uma cruzadinha, dessas que não há pistas, apenas o quadriculado com os números, e ao lado uma lista com enigmas que você deve decifrar, assim do zero, sem nenhuma referência, mas quando consulta seu dicionário mental descobre que ele se tornou um livro cheio de páginas em branco. Em linhas gerais, esta é a história de Para sempre Alice, filme dirigido por Richard Glatzer e Wash Westmoreland, que rendeu a Julianne Moore o Oscar (além de outros tantos prêmios) de Melhor Atriz em 2015.
Julianne Moore, que já havia sido indicada ao Oscar de Melhor Atriz, consquistou a estatueta aos 54 anos
Tendemos, por fanfarronice ou puro desespero, tratar dos nossos esquecimentos cotidianos de forma engraçada, inventamos diversos chistes para rirmos de nós mesmos e lidarmos com as falhas de nosso cérebro. Mas Alice Howland, a personagem interpretada por Julianne, não faz assim, desespera-se ao se dar conta que não sabe voltar para casa depois de uma corrida na universidade onde leciona. Alice é uma linguista reconhecida que descobre, durante uma conferência, sinais de esquecimento ao não se recordar, por exemplo, da palavra "léxico", o que neste caso não deixa de ser emblemático. A descoberta do Alzheimer precoce por parte da personagem ocorre em um momento paradoxal, justamente quando ela parece atingir o auge de sua carreira, sua mente começa a declinar à morte.
A questão em jogo, no entanto, não é a morte que chega pela falência dos órgãos, mas a vida que se vai pela perda de sí própria, pela perda das referências, pelo fim da memória, por um presente que se torna uma espécie de corpo sem a sombra do passado. O interessante das histórias, sejam elas cinematográficas ou literárias, é aquilo que teoricamente chamamos de "conflito", algo que está ali, que nos move a viver o drama dos personagens, mas que não se resolve, nem para nós, nem para eles. É nessa tensão, de quem percebe o passado escorrer por entre lugares (Alice não encontra o banheiro de casa) e pessoas (há um momento em que ela não reconhece a filha) que o drama se desdobra.
Para sempre Alice não é um exercício fílmico muito sofisticado. No entanto, há que se levar em conta que Richard Glatzer, um dos diretores da obra, descobriu em 2011, no começo das gravações, que sofria de esclerose lateral amiotrófica, doença que afeta os neurônios responsáveis pelos movimentos do corpo e causa a perda do controle muscular. Quando Julianne Moore recebeu a estatueta, em 22 de fevereiro, Glatzer estava internado e assistiu a cerimônia junto com seu marido e também diretor do filme Wash Westmoreland. No dia 11 de março, um dia antes da obra estrear no Brasil, Glatzer morreu.
A despeito da simplicidade estética em que o filme funciona, Julianne consegue traduzir de maneira competente e profunda as complexidades em torno da falta de memória, tema que insistimos em abordá-lo pela tangente, quase sempre em um riso amarelado de uma piada sem graça. Por outro lado Para sempre Alice é um filme sobre o Mal de Alzheimer em se que prefere tratar da questão de fundo sem analgésicos audiovisuais, e é tão duro e "desumanamente" humano quanto caminhar sob o sol de 40 graus e não ter diante dos pés a própria sombra, senão apenas o suor do presente sobre a testa.

Ficha Técnica
Título Original: Still Alice (2014)
Direção: Richard Glatzer, Wash Westmoreland
Roteiro: Lisa Genova (livro), Richard Glatzer, Wash Westmoreland
Elenco Principal: Julianne Moore, Kristen Stewart, Alec Baldwin, Kate Bosworth
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Segunda, 23 de março de 2015

Relator da ONU sobre água defende tarifa em que “os mais ricos paguem mais"

Defensor da água como um direito humano, o pesquisador Léo Heller – relator especial das Nações Unidas (ONU) sobre água e esgotamento sanitário – é a favor do subsídio cruzado na cobrança da tarifa de água. “Que os mais ricos paguem mais e os mais pobres paguem menos, uma transferência interna no sistema de cobrança”, declarou àAgência Brasil.
A reportagem é de Camila Maciel e publicada por Agência Brasil, 22-03-2015.
Ele avalia que são temerárias as políticas que aumentem o custo da água para estimular a economia do recurso hídrico, pois isso pode levar a injustiças. A prática de aumentar o preço da água foi utilizada em países como a Dinamarca.  “É preciso ter muito cuidado com modelos de cobrança para que isso não implique um ônus desproporcional para as populações mais pobres”, avaliou.
De acordo com Heller, a maioria dos prestadores do serviço de água no Brasil adota um modelo tarifário que parte do pressuposto de que a população mais pobre gasta menos água. O valor do metro cúbico (m3) consumido, portanto, aumenta na medida em que o consumo mensal é maior. “Isso não é necessariamente verdade. Muitas vezes as populações mais pobres têm famílias mais numerosas, têm menos equipamentos domiciliares economizadores de água. Como resultante [desse modelo de cobrança], isso pode levar a consumos muito baixos, desconexões, sacrificando a saúde dessas pessoas”, apontou.
Parte do modelo tarifário da Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp), por exemplo, tem gerado questionamentos em meio à crise hídrica, especialmente as tarifas aplicadas a pessoas jurídicas. Os Contratos de Demanda Firme buscam fidelizar grandes consumidores, como shoppings, hotéis e indústrias, por meio de descontos, ou seja, quem consome mais paga menos. Por esse modelo, de acordo com a tabela tarifária, quem consome de 500 a 1.000 m3 por mês paga R$ 11,67 por metro cúbico. Acima de 40 mil m3, o valor é R$ 7,72. Para clientes comuns, a tarifa industrial e comercial para a maior faixa de consumo (acima de 50 mil m3) é R$ 13,97, sendo maior que nos dois casos anteriores.
Com a escassez de água, clientes comuns tiveram que economizar para ter descontos. Enquanto isso, os 537 consumidores que firmaram esses contratos continuaram a pagar menos pelo metro cúbico.
Uma lista divulgada pelo jornal El País, conseguida por meio da Lei de Acesso à Informação, mostra o volume consumido e o valor pago por alguns deles. A Viscofan, que produz tripas de celulose para embutidos, é a campeã no consumo, com um gasto mensal de 60 mil m3. De acordo com o jornal, a empresa paga, com o desconto fornecido pelaSabesp, R$ 3,41 por m3. Esse montante equivale à média mensal de mais de 2,7 mil famílias, considerando um gasto médio de 22 m3, segundo dados da Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon).
A reportagem da Agência Brasil tentou entrar em contato com a Viscofan para comentar os dados, mas não obteve retorno.
A Sabesp informou, por meio de nota, que visitou os clientes beneficiados pelos Contratos de Demanda Firme e pediu que eles economizassem. Para tanto, a companhia adotou duas medidas: a eliminação da exigência de consumo mínimo e a liberação do uso de fontes alternativas. Na prática, ao estipular um consumo mínimo, a empresa dispensava os clientes de adotaram medidas de economia, pois cobrava um valor cheio para um determinado volume de água a ser consumido. A empresa destacou ainda que, agora, esses consumidores têm direito ao bônus se reduzirem o consumo, mas estão sujeitos a multa se aumentarem o gasto de água.
De acordo com a companhia, os condomínios comerciais (edifícios de escritórios e shopping centers) reduziram o consumo em 15%. O comércio varejista, como supermercados, teve queda de 18% no gasto de água. No setor automotivo, o consumo dos clientes demanda firme caiu 64%.
Na última sexta-feira (20), a organização não governamental Greenpeace lançou uma campanha contra os descontos da Sabesp a grandes empresas.
O relator da ONU avalia que a crise hídrica no Sudeste decorre do descumprimento de dois princípios que fundam o direito humano à água. “Um deles é planejamento e o outro é [que o Estado deve] usar o máximo dos recursos disponíveis para garantir o acesso à água. Se esses dois princípios tivessem sido observados de forma contínua, sem interrupções, de forma planejada, a crise não estaria ocorrendo”, declarou.
Para ele, as obras anunciadas pelo governo paulista para o enfrentamento do desabastecimento de água, por exemplo, deveriam ter sido feitas com antecedência. “Não é plausível começar a pensar em soluções com a crise já instalada”, apontou.
O direito humano à água é baseado no princípio de que todos os seres humanos devem ter água suficiente, segura, aceitável, fisicamente acessível e a preços razoáveis para usos pessoais e domésticos.
O pesquisador explica que planejamentos adequados devem considerar as variações do volume de água nos recursos hídricos. “Um equilíbrio que leve em conta que não se deve consumir toda a água, que deve haver um excedente, que leve em conta a proteção da biodiversidade. Isso é elementar”, apontou.
Ele avalia que, embora este momento de seca não seja típico, ele poderia ter sido previsto. “Estávamos avisados que poderíamos sofrer escassez. Há correntes mais modernas de planejamento de água que falam de planos mais inteligentes, estratégicos, mais adaptativos. Essa situação que o Sudeste passa deve entrar com uma variável fundamental no planejamento futuro”, projetou

A inércia do Estado na busca da acessibilidade às pessoas com deficiência

by Ricardo Shimosakai
Man in wheelchair in front of steps
O direito de acesso das pessoas com deficiência encontra-se assegurado na Constituição Federal de 1988
 por Erica Uderman
É de fácil constatação o desrespeito às pessoas com deficiência física e mobilidade reduzida que, embora tenham seu direito assegurado, deparam-se constantemente com rotas inacessíveis, barreiras arquitetônicas, obras oriundas de projetos deficientes e diversos outros empecilhos que levam a concluir pela inexistência da acessibilidade.
Segundo estudos do Censo Demográfico 2010 do IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a população do Brasil é composta por mais de 190 milhões de pessoas, das quais mais de 45 milhões são pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida. Saliente-se que mais de 23% da população não tem acesso aos edifícios e logradouros públicos/privados, assim como aos meios de transporte coletivo em sua plenitude.
Assim, entende-se que este grupo, 23% da população brasileira, sofre limitações não apenas físicas (inerentes à sua deficiência ou redução de mobilidade) como também estruturais, impedindo/limitando o desenvolvimento de suas atividades diárias, como: saúde, lazer, estudo, trabalho e demais.
O direito de acesso das pessoas com deficiência física aos edifícios e logradouros públicos, assim como aos meios de transporte coletivo encontra-se assegurado na Constituição Federal de 1988.
Observa-se, que o direito ao acesso, embora previsto, estava condicionado a lei posterior sancionada apenas no ano 2000 - Lei Federal nº 10.098/00. Ou seja, foram necessários 12 anos para que uma lei meramente instrumental viesse a estabelecer normas e critérios genéricos para promoção da acessibilidade das pessoas com deficiência física ou mobilidade reduzida.
Como se não bastasse os 12 anos de espera, transcorreram outros quatro anos para que o Poder Executivo fixasse os prazos silentes na Lei Federal, com o Decreto Regulamentar nº 5.296/04, ficando estes compreendidos entre 12 e 120 meses a contar da data de publicação do Decreto.
Espantosamente, resulta-se mais de duas décadas para elaboração e regulamentação de uma lei básica, cujo objetivo consiste única e tão somente, em garantir direito fundamental para determinado grupo de cidadãos brasileiros.
Não obstante, passado o lapso temporal para adoção dos ajustes e adaptações necessários, tanto o Poder Público como Privado, não o fizeram ou o executaram de maneira bastante precária.
Exemplo deste descaso aconteceu em caso recentemente noticiado na mídia nacional no qual um advogado, que exerce suas atividades profissionais no Rio Grande do Sul, foi impedido de comparecer a duas de suas audiências, pois estas aconteceriam no segundo andar do Fórum de São Francisco de Paula, prédio construído na década de 60 e desprovido de qualquer acessibilidade.
Com efeito, não se pode olvidar dos generosos prazos trazidos no Decreto regulamentar nº 5.296/04, que entrou em vigor aos 2 de dezembro de 2004, sendo totalmente inadmissível a omissão daqueles que não se adaptaram e, principalmente, do Poder Público, que tem o poder e dever de exigir o cumprimento da lei, determinando a adaptação do local.
Diante deste triste contexto, verificando-se a falta ou limitação do acesso aos edifícios e logradouros públicos e privados, compete à população o exercício da cidadania, formalizando reclamações no próprio órgão ou estabelecimento (público/privado), denunciando as irregularidades por meio de representação ao Ministério Público ou propondo ação judicial cabível, na busca incessante da utópica isonomia constitucional.
Erica Uderman é advogada associada do escritório Lapa & Góes e Góes Advogados Associados, atuando nas áreas do Direito Empresarial, Cível e das Relações de Consumo e pós-graduanda em Direito Administrativo pela UCAM/RJ.
Fonte: Cruzeiro do Sul













QUA, 25 DE MARÇO DE 2015 02:00      ACESSOS: 135
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Foto: Arquivo pessoal

Uma jovem atleta, portadora da síndrome de Down, venceu mais um desafio.
É a primeira estudante com Down da Universidade Federal do Acre (Ufac). 
A atleta acreana Raysa Braga, de 22 anos, começou a cursar esta semana licenciatura em educação física, em Rio Branco.
Nadadora desde os 7 anos, ela já acumula 36 medalhas em diversas competições dentro e fora do estado.
Raysa lembra que sempre quis estudar na mesma faculdade que a mãe. 
"Meu pai e eu sempre dizíamos que eu estaria aqui dentro. Estudei bastante e, pelo meu esforço, venci. Sempre soube que queria fazer faculdade e, quando passei, fiquei ansiosa. Garanto a minha vitória também na universidade", afirma.
A escolha do curso veio, não somente pelo amor à natação, mas por causa de outras modalidades também, como vôlei e basquete, os preferidos na época da escola.

Sonho
Com a graduação, Raysa diz que pretende ajudar pessoas carentes. Ela também já almeja um segundo curso, o de música.
"Meu sonho é me formar em educação física e vou ajudar pessoas carentes. Gosto muito de criança e pretendo cuidar delas. E vou conseguir. Também quero deixar meu pai orgulhoso de mim, porque ele é meu rei. Agradeço por tudo o que ele fez pela minha família", acrescenta.
O pai de Raysa, o funcionário público Francisco Moura, de 49 anos, não esconde a felicidade.

Segundo ele, foram muitas as dificuldades que a família enfrentou ao descobrirque a filha tinha síndrome de down, mas nada se compara ao orgulho de vê-la começando uma faculdade.
"É uma emoção grande. Lá atrás, na hora que ela nasceu e nos deparamos com a síndrome de down, jamais imaginamos que hoje, ela pudesse estar na faculdade. Sinto muito orgulho, não tenho palavras para descrever. Só quem já sentiu essa emoção sabe como é", diz Francisco.

A universidade
Para as aulas, de acordo com Ingrath Nunes, do Núcleo de Apoio à Inclusão (NAI) da Ufac, Raysa deve receber todo o apoio do setor no decorrer das aulas, inclusive com a presença de monitores para qualquer auxílio.

"A universidade dá todo suporte e apoio para o aluno ser incluído em sala de aula. Nós disponibilizamos também monitorias. A Raysa vai ter a sua independência e começar a caminhar com as próprias pernas", fala.

Com informações do G1

segunda-feira, 30 de março de 2015

TER, 24 DE MARÇO DE 2015 02:06      ACESSOS: 1118
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Fotos: reprodução/John Bramblitt

Um pintor cego faz quadros que impressionam pela combinação de cores e pelo realismo.
Sem enxergar, ele usa textura e seu senso de toque para criar pinturas vívidas. (vídeo abaixo)
Antes de ficar cego, aos 30 anos, devido à epilepsia, John Bramblitt nunca tinha pintado antes.
Agora, ele já publicou dois livros sobre pintura, dá palestras no Metropolitan Museum of Art e ganha a vida com suas pinturas coloridas.
Ele afirma ver mais cor, agora que ele é cego, do que ele fez em seus 29 anos com visão.

Como
John começou a desenhar o contorno de suas pinturas com tinta de secagem rápida, para traçar as linhas em relevo com as pontas dos dedos.

Depois ele preenche os espaços com cor.

John Bramblitt usa braille em seus tubos de tinta, para saber quais são as cores e sabe misturar os tons com harmonia para conseguir o resultado final.

Sobre o curso de pintura, ele percebeu que todos os tons de uma cor tem sua própria textura especial.
Perder a visão foi um ponto que Bramblitt se refere como "o mais profundo buraco mais negro".

Mas ele sabia que a arte era o seu caminho.







Veja a história de John 
Bramblitt no vídeo abaixo.


Com informações do VisualNews
Matéria sugerida por Karen Gekker
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Quarta, 25 de março de 2015

'Matamos nossos rios, não há partido que resolva', diz Sebastião Salgado

"Matamos os nossos rios e as nossas florestas, e não há partido ou político que vá resolver isso sozinho", atestaSebastião Salgado. Para ele, o problema da crise hídrica brasileira é “de toda a sociedade. Todos somos seres políticos e temos responsabilidades sociais".
A reportagem é de Pedro Castro e publicado por CartaCapital, 24-03-2015.

As ações do fotógrafo de 71 anos vão além do discurso afinado. Desde 1998, ele e sua esposa,Lélia Wanick, mantém o Instituto Terra, responsável pelo plantio de mais 2 milhões de árvores em Aimorés, no interior de Minas Gerais. De acordo com Salgado, a falta de água tem sido mais sentida agora, “mas esse problema já vem acontecendo há muito tempo. Se estivéssemos cuidando dos rios e das florestas, não estaríamos tão dependentes das chuvas para encher os reservatórios".
É este Sebastião Salgadoengajado que o filme O Sal da Terra revela. Dirigido pelo alemãoWim Wenders e por Juliano Ribeiro Salgado, filho do casal, o filme concorreu ao Oscar na categoria documentário. Com lançamento no Brasil previsto para o dia 26, o longa vai além da obra do artista e mostra o agente social, o ambientalista. Para Lélia, o documentário "é mais do que um filme sobre a fotografia ou sobre a história de um homem, é um filme que mostra um ponto de vista sobre o mundo".
Ao falar para mais de mil pessoas no projeto Sempre um Papo, que leva escritores e artistas para conversarem com o público em Belo Horizonte, Sebastião Salgado arrancou aplausos. "A solução para a crise hídrica é simples: não medir esforços. O Brasil é um País incrível, mas parece que o brasileiro não percebe isso. Ainda somos muito pessimistas em relação à nossa própria gente”, alertou.
Salgado afirma que "hoje temos um Brasil moderno, mas que foi construído sobre as florestas e os rios". Por isso, devemos repensar o consumo. "Depois do segundo governo do PT, há um acesso de 40 milhões de pessoas à classe média. Isso nunca aconteceu e é positivo, mas gera demanda de água", explica. "A solução para o problema é preservar nossas nascentes. É absolutamente necessário que todas as instituições, sejam públicas ou privadas, façam sua parte."
É nesse sentido que o projeto Olhos d’Água pretende revitalizar todas as nascentes da bacia do Rio Doce, que tem o tamanho de Portugal. O fotógrafo contou ao público que a iniciativa do Instituto Terra "é um projeto que custa bilhões, mas, comparativamente, sai mais barato do que comprar aviões caça da Suécia".
Mesmo com a atual crise, Salgado mostra otimismo com o País. Em entrevista antes da palestra, ele afirmou que "pela primeira vez, os que estão no governo [federal] não são os mesmos que dominam os meios de comunicação, e por isso há informação sobre corrupção. Pela primeira vez, os corruptores estão pagando. Antes, só alguns intermediários eram acusados de corrupção. O Brasil já é um grande País e está cada vez mais sério".
Não é de hoje que Sebastião e Lélia estão ligado às causas sociais. "Depois de 64, participamos de todas as manifestações e ações de resistência à ditadura e estávamos determinados a defender nossos ideais. Isso era muito perigoso", conta.
Em agosto daquele ano, com pouco mais e 20 anos de idade, o casal se sentiu como as pessoas que ele viria a retratar anos mais tarde em Êxodos, que mostra aqueles que abandonam a terra natal.
Doutor em economia, Salgado conheceu Lélia enquanto fazia universidade em Vitória. "São 50 anos de sonhos realizados juntos", ela afirma sorridente. Um desses sonhos é o reflorestamento da fazenda herdada da família do fotógrafo que estava totalmente degradada e deu origem ao Instituto.
"Tinha acabado de lançar o Êxodos e estava profundamente deprimido, afundava no pessimismo. Vi coisas terríveis na África e na antiga Iugoslávia. Pensei então em um projeto para denunciar a destruição e a poluição das florestas", conta o fotógrafo. Foi nesse momento que Lélia surgiu com a ideia de replantar.
Mesmo com o inicio problemático (60% das mudas plantadas não "vingaram" no primeiro plantio), hoje o programa é um modelo para o País. Cerca de 700 projetos de educação ambiental que atingiram mais de 65 mil pessoas e o maior viveiro de plantas nativas de Minas Gerais são alguns exemplos da grandiosidade do projeto. "O Instituto é um de nossos filhos", afirma Lélia. "Plantar é como cuidar de uma criança, é preciso proteger, alimentar e dar condições para que, ao crescer, ela se torne independente", completa Salgado.
Foi neste momento de reaproximação com a natureza que o fotógrafo começou a pensar em fazer outro livro. "Foi vendo a vida nascer na floresta que surgiu o Gênesis", conta para o público. "Antes, eu havia fotografado apenas uma espécie: o homem. Para este projeto, precisei aprender a conviver com outras espécies".
Para ele, reaproximar da natureza é fundamental para compreendermos nosso lugar na Terra. "Hoje somos extraterrestres no nosso próprio planeta, não conhecemos nada sobre pássaros e plantas. Não temos a noção de que somos apenas uma espécie no meio de milhares. As árvores, por exemplo, são as responsáveis em manter a água no solo e o oxigênio no ar. Mas a cada dia cortamos mais árvores e poluímos mais a água e o ar. Temos que voltar em direção à Terra."
Mundo do Café
O fotógrafo não demonstra cansaço. Em maio ele inaugura a mostra Perfumes de Sonho – Uma Viagem ao Mundo do Café na Expo Universal de Milão 2015 e cinco dias depois leva o trabalho para Bienal de Veneza. "Resolvi fotografar a história das pessoas que trabalham com café. Tomar café é um coisa tão comum que não nos damos conta do tanto de gente envolvida no processo", explica Sebastião. Na mostra, ele registrou a relação do homem com o fruto na Etiópia, Guatemala, Índia, China, Colômbia, Costa Rica, El Salvador, Indonésia, Tanzânia e Brasil.
Foto: Jackson
Oferecemos arquivo de textos específicos, de documentos, leis, informativos, notícias, cursos de nossa região (Americana), além de publicarmos entrevistas feitas para sensibilizar e divulgar suas ações eficientes em sua realidade. Também disponibilizamos os textos pesquisados para informar/prevenir sobre crescente qualidade de vida. Buscamos evidenciar assim pessoas que podem ser eficientes, mesmo que diferentes ou com algum tipo de mobilidade reduzida e/ou deficiência, procurando informar cada vez mais todos para incluírem todos.