sexta-feira, 23 de março de 2012

“NÂO VAI ACONTECER COMIGO!”

   Meu nome Viviana.

A guerreira Vivi, um sorriso com vontade de viver.


    “Estava na garupa de uma moto de trilha, em terreno próximo da chácara que minha turma tinha alugado para o Carnaval. Era Domingo, hora do almoço, estávamos em festa desde a noite anterior, comendo, bebendo muita vodka, sem dormir. De repente meu corpo foi lançado para longe, caindo num arbusto muito espinhoso. O parceiro ficou caído, ao lado da moto. Após quarenta minutos notaram nossa ausência, veio o resgate, a longa hospitalização. Meus familiares contam coisas que fiz e que falei deste período, de que não me lembro.
    Eu não bebia, mas aos 22 anos, de repente minha vida mudou muito, depois de sete anos de estabilidade.Achei ótimo sair todas as noites, depois do trabalho, e beber todas as noites também. Será que nós jovens acabamos tentando assim, durante algumas horas ou dias fugir do mundo adulto, com suas responsabilidades, criando assim uma (falsa) alegria infantil através do álcool?
    Algumas pessoas de minha turma, no dia do acidente, foram ao hospital para me ver, e voltaram para a chácara, para beber.Há um pensamento mágico no ar –“Isso não vai acontecer comigo!”
    Eu também pensava assim. Enfrentei edema cerebral pós-traumatismo craniano (com risco de precisar de três dias de coma induzido). Escapei. Por dois meses, enfrentei inexplicável dor no peito. Consultei vários médicos, fiz vários exames, cheguei a precisar de morfina, até que tomografia identificou uma vértebra da coluna quebrada e outra trincada, na altura das omoplatas.
    Dois meses de colete ortopédico não resolveram a dor. A indicação de cirurgia me deixou em pânico, mas o médico garantiu que só precisaria colocar dois pinos de fixação. Foram dez longos pinos. Como minha fratura foi do lado interno da coluna, a avaliação do tamanho do pino seria aproximada.
    Sou pequena, o pino longo demais machucava o organismo internamente a ponto de gerar infecção contínua, tratada por seis meses (de dor), sem o organismo conseguir atingir a cicatrização e com risco de ruptura de artéria coronária. Nova cirurgia (8 horas, 6 pinos menores), nova carga de antibióticos (durante dois meses, no hospital, duas horas de manhã e duas  à tarde).
    A terceira cirurgia procurou corrigir a musculatura dorsal afastada, incapaz de proteger a coluna.Sucesso parcial.Depois de um ano (eu já tinha voltado ao trabalho, sou contadora), mais  uma cirurgia plástica corretiva (manta de silicone, cobrindo os pinos).Agora posso apoiar as costas.
    A família foi meu contínuo apoio, nunca me censurou. Gerei muito sofrimento, para todos. Deste jeito, a bebida é um “barato” caro. Nunca mais bebi.Hoje sou a motorista sóbria da turma.”




Caso real.
Elizabeth Fritzsons da Silva, psicóloga e diretora da Unidade de Atenção aos Direitos da Pessoa com Deficiência, colaboradora do LIBERAL.

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