domingo, 1 de maio de 2016

PUDE ESCUTAR O MUNDO AOS VINTE E QUATRO ANOS
   Meu nome é Dhiana, tenho vinte e cinco anos. Escutei depois de conseguir finalmente comprar aparelho auditivo, sempre muito caro para nossas condições de família. Havia promoção, meu pai me ajudou assim a sair de uma fila do SUS em que minha vez nunca chegava, mesmo esperando há anos. Não me incomodo com sua vibração, pelo menos entendo as pessoas. Até arrumei namorado depois disto, pela internet. Estamos juntos há um ano.
   A professora do pré-primário alertou minha mãe quanto á minha deficiência auditiva. Na APAE, fui atendida durante anos por fonoaudióloga e psicóloga. Não tivemos a oportunidade de aprender Libras. Eu procurava fazer leitura labial, eu e minha mãe criamos uma linguagem própria com gestos. Meu pai e meus irmãos nunca participaram deste nosso universo. Ela faleceu faz quatro anos.
   Bem criança, devo ter sofrido perfuração de ambos tímpanos por repetidas infecções. Aos quatorze anos finalmente consegui operar pelo menos um ouvido, pelo SUS. Mas infelizmente ainda sou muito sensível às variações climáticas, ambos ouvidos sangram, é constrangedor.
   Sempre fui babá, desde os quinze anos, minha mãe conseguia as oportunidades. Frequentei a escola comum, com muitas dificuldades. Finalizei, aos vinte e um anos o ensino básico.
   Moro com dois irmãos, faço todo o serviço da casa. Buscando trabalho, em agencia de emprego pude me matricular em curso especializado para pessoas com deficiência, no SENAI. Quero trabalhar.
   Acho natural ser considerada “fechada”. Prefiro ficar em casa quietinha. Mas poderia ser diferente – se todos procurassem se aproximar e aprendessem Libras.

    " Os limites da minha linguagem denotam os limites do meu mundo."  
Ludwig Wittgenstein 


Caso real, Elizabeth Fritzsons da Silva, psicóloga, e-mail:bfritzsons@gmail.com

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