Primos idosos decidem “partir” em suicídio assistido
Escrito por Dhara Lucena- tamanho da fonte
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O tema suicídio é um tabu, mais ainda se é acompanhado da palavra “assistido”, o que é totalmente proibido no país, assim como em grande parte do mundo.
Os primos Phyllis McConachie, 89 anos e surda, e Stuart Henderson, 86 anos e cego, eram os olhos e ouvidos um do outro há mais de 40 anos, tempo que levavam morando juntos na mesma casa, em Troon, Ayrshire, no Reino Unido. Eles também escolheram morrer juntos pois não queriam viver em moradias distintas, separados. Recentemente eles cometeram suicídio de mãos dadas em uma clínica na Suíça.
No ano passado, Phyllis sofreu uma queda que afetou o quadril, deixando-a frágil. Eles sabiam que se tal queda ocorresse novamente ela seria internada e teria que ser cuidada por profissionais e não mais pelo primo. Por sua vez, não teria como Stuart morar sozinho. Eles sabiam que ele seria levado para algum tipo de instituição de longa permanência em um lugar estranho com pessoas desconhecidas.
Os primos tomaram então uma grande decisão: definir a data de partida de ambos. Pesquisaram e souberam que na Suíça, em Basileia, havia uma clínica chamada Espírito Eterno, que dava assistência à morte. Entraram em contato com a Dra. Erika Preisig, diretora da instituição, que os visitou em Troon para investigar a determinação deles.
Em declarações à imprensa internacional, a Dra. Erika comentou que percebeu já em Troon que os primos estavam determinados a morrer juntos, com ou sem ajuda.
Um mês depois desse encontro, os primos que eram co-dependentes e felizes juntos, foram para a Suíça, onde meses depois morreram lado a lado em duas camas, de mãos dadas, mas totalmente em paz. Eles não tinham dúvidas: não queriam se separar, tinham consciência do estado de fragilidade em que se encontravam, pela situação de surdez, de cegueira e de velhice, e a melhor decisão tomada foi partir.
No último dia de existência dos primos, na clínica Espírito Eterno, eles cozinharam e comeram a sua última refeição, simples, de suas vidas. No dia seguinte, eles se deitaram lado a lado e uma substância letal por gotejamento intravenoso foi dada.
Questões bioéticas
Essa notícia traz para a discussão da longevidade decisões que envolvem crenças e muitos tabus. O Jornal Mirror (veja link abaixo), ao final da notícia, faz uma enquete perguntando se o leitor é a favor ou não do suicídio assistido. Quando votamos, o resultado mostrava 90% a favor e 10% contra. E você?
Suicídio (tirar a própria vida), eutanásia (ajudar o outro a tirar a vida), ortotanásia (permitir que a pessoa tenha uma morte digna, natural) e distanásia (prolongar uma vida por meios artificiais) são temas pouco discutidos em nossa sociedade que deveriam estar mais estampados nas páginas dos jornais assim como nos debates, e com todos os públicos, afinal a morte envolve a todos.
O caso desses primos mostra um dado interessante: eles não tinham medo da morte, mas sim da separação e de uma vida sem sentido um longe do outro em uma situação de muita dependência, assim como muitos idosos, que temem muito mais a dor e o sofrimento do que a morte propriamente dita.
O ato de terminar com a sua própria vida ou ajudar alguém a encerrá-la, mesmo que ela esteja destinada à morte, e que a medicina não tenha mais respostas para o problema, é um tema demasiado polêmico, que apenas recentemente começou a ser discutido mais pelo pessoal que trabalha com cuidados paliativos.
É polêmico porque de um lado se condena o ato de antecipar a morte e, por outro lado, a moral discorda em se arrastar uma vida em situação de total decadência humana.
Referências
HUGHES, Ian. Elderly cousins terrified of living in separate care homes die holding hands at assisted suicide clinic. Disponível em: http://www.mirror.co.uk/ news/uk-news/elderly-cousins- terrified-living-separate- 5089986. Acesso em 2 de fevereiro de 2015.
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