Narrativas familiares, uma memória de cada vez
Escrito por Claire Martin(*)- tamanho da fonte
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StoryWorth fornece uma seleção de perguntas que são enviadas por e-mail para as pessoas responderem sobre suas memórias e assim recolher as suas histórias familiares. Alguns assinantes optam pela gravação de áudio, em que podem falar sobre suas reminiscências em seu telefone como se estivessem deixando uma mensagem de voz e outros ainda preferem escrever suas narrativas por carta, enviando-as por correio.
Até recentemente, Jessie Leiken, 27, uma sindicalista do Brooklyn (EUA), estava confiante de que ela sabia sobre as principais aventuras de vida de sua mãe, como um passeio de balão de ar quente no Egito, uma excursão radical na neve em Montana, uma refeição de carne de camelo em Marrocos… Mas há duas semanas, um e-mail de sua mãe, Nancy Mills, de 64 anos, apareceu na sua caixa de entrada, dizendo algo inteiramente novo:
“Eu quero compartilhar uma aventura especial que tive e que você não conhece: o Colégio Antioch exigia de todos os alunos que planejavam estudar no estrangeiro parte de sua educação. Pelo que me lembro, eles nos deram a cada um $10 (ou algo assim) e nos levaram para uma cidade muito pequena, na parte rural de Ohio e nos deixaram no lado da Estrada, dizendo que nos pegariam no mesmo local 48 horas mais tarde.”
A família de Mills vem recebendo mensagens como esta, contendo momentos de seu passado, bem como lembranças das vidas de seus próprios pais e avós, algumas vezes por mês, desde abril do ano passado, quando Jessie Leiken a cadastrou em um serviço chamado StoryWorth.
StoryWorth fornece uma seleção de perguntas, escolhidas por Leiken, para sua mãe responder toda semana. Em seguida, ele manda por e-mail as perguntas à senhora Mills, e quando ela responde, suas respostas vão para sua família toda e são armazenadas em um site onde podem lê-las em particular. Essa é uma de várias novas empresas voltadas para capacitar as pessoas a fim de recolher as suas histórias de família.
"Foi uma maneira muito fácil de escrever um pouco a cada dia", disse Baum, agora com 31 anos.
Este exercício de escrever o lembrou de como, alguns anos antes, ele havia comprado um livro cheio de perguntas sobre memórias de infância e de histórias da família, com espaços para respostas escritas. Ele tinha dado a seus pais, na esperança de que eles iriam usá-lo para escrever histórias que ele poderia compartilhar com seus futuros filhos. Baum estava curioso para saber mais sobre seu pai, Axel Baum, agora com 83, um oficial naval antes de se tornar um advogado internacional. Mas seus pais nunca escreveram no livro.
Baum se perguntava se enviando-lhes perguntas semanais por e-mail, similar ao experimento Dear Robot, seria mais eficaz. Ele tentou, perguntando sobre suas primeiras lembranças da vida, por exemplo, e seus livros favoritos da infância. Foi assim que finalmente os pais de Baum começaram a escrever, tal como aconteceu com a senhora Mills, que disse ser muito fácil responder as questões.
"Você não tem que pensar em toda a sua vida ou até mesmo que história que você quer contar", disse ela. "É como se você estivesse conversando." Ela também achou que as perguntas podem penetrar mais profundamente no passado do que uma conversa normal conseguiria. "Ele estimula uma parte do cérebro e memória que para mim não tinha sido estimulada antes", disse ela.
A pergunta recente da StoryWorth sobre suas aventuras foi particularmente eficaz evocando o passado. Nem mesmo o marido sabia de seu instinto de sobrevivência em Ohio até que ela respondeu à solicitação.
“Tínhamos que sobreviver durante essas 48 horas - encontrando abrigo, comida, amigos – as tarefas. Sem um celular é claro (Isso foi em 1968!). Eu realmente não lembro de muita coisa dessas 48 horas, exceto que eu me escondi em um celeiro na primeira noite, em vez de falar com alguém e, depois, consegui bater em algumas portas no dia seguinte, quando então comi e fui capaz de lavar o rosto (e eu acho, ter uma cama de verdade para dormir à noite).”
Alguns assinantes tiram proveito da opção de gravação de áudio do StoryWorth, em que eles podem falar sobre suas reminiscências em seu telefone como se estivessem deixando uma mensagem de voz. As histórias são então salvas como arquivos MP3. Uma usuária com quase 90 anos não tem computador, de modo que ela recebe suas perguntas impressas. A cada semana, ela escreve suas memórias com a mão e as envia, via correio, para o seu neto, que lê, e as salva.
Embora Baum não tenha começado o projeto com o objetivo de atender um grupo mais velho, os usuários mais ativos do StoryWorth estão entre seus 60 e 70 anos. Este grupo tende a ter tempo para refletir sobre o passado, e seus membros são motivados a compartilhar suas histórias com os netos e outros parentes mais jovens.
"As pessoas dessa geração não necessariamente querem se reconectar com os seus amigos do ensino médio", disse Baum, referindo-se a uma prática comum no Facebook. "Mas falar com sua família e ter um diálogo verdadeiro com eles é muito importante."
Histórias de família
Interesse geral em gravar histórias de família pode ser parcialmente atribuído à fundação, em 2003, do projeto Story Corps, uma organização sem fins lucrativos que estaciona cabines de gravação móveis em todo o país para o público usar. A prática também recebeu uma ajuda de um renovado interesse em herança de família, trazido pela digitalização dos registros, incluindo o certificado de nascimento e atestados de óbito, e o aumento da acessibilidade dos testes de DNA, que fornece informações sobre herança étnica.
Assinantes da StoryWorth geraram mais de 10 mil histórias. A empresa cobra uma taxa anual de US $ 49, que cobre até seis membros da família e inclui uma quantidade ilimitada de armazenamento de dados. Os usuários também podem fazer upload de seus próprios arquivos de áudio e fotografias. Baum não revela o rendimento da empresa, mas disse que já era rentável.
Um novo site, chamado Memloom, permite que seus usuários façam upload de vídeo, áudio, fotos e suas próprias histórias escritas. "Nós achamos que contar histórias é uma área em expansão", disse Alyssa R. Martina, cofundadora e CEO de Memloom. "Todos nós temos histórias que queremos contar."
Jessie Leiken disse que esta nova forma de comunicação com a mãe "ajudou-me a conhecê-la melhor e entender o contexto de sua vida." A senhora Mills deu crédito ao StoryWorth por reforçar suas conexões familiares, e, ao revelar sua aventura de 48 horas na parte rural de Ohio, isso a ajudou a colher conhecimentos sobre sua própria vida.
(*) Reportagem de Claire Martin para o jornal The New York Times, publicada em 15/03/2014. Tradução livre de Sofia Lucena. Disponível em:http://www.nytimes.com/ 2014/03/16/business/ preserving-family-history-one- memory-at-a-time.html?_r=3.
O trabalho de Nick Baum pode ser também visto em sua página no facebook:
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