FUGIR DA DOR PODE SABOTAR A FELICIDADE
Sou Itamar, pai de quatro filhos. Os dois últimos gêmeos,
uma menina e um menino.
Este adolescente, outro dia, olhava para forte chuva de
verão despencando, me dizendo que adoraria brincar nesta água que caía.
Perguntei o que o impedia. Disse que sua mãe ficaria brava. Respondi que se
fôssemos eu e seus irmãos, não ficaria. Abriu um sorriso largo, saboreamos um
refrescante momento-familia. Regras podem ter suas exceções, às vezes muito
sadias.
A filha mais velha sempre voltava muito gripada, todos os
anos, do acampamento de férias. Solicitamos exame médico de sangue. O
laboratório nos chamou para mais uma avaliação. Seguimos a recomendação de
levar esta menina de doze anos ao Hospital Boldrini, em Campinas. Diagnóstico:
leucemia.
Revezamos-nos neste tratamento – minha esposa cuidava dela
no hospital, de segunda à sexta, e eu trabalhava e administrava a casa.
Consegui importante apoio de escola municipal, recebendo meus três filhos
durante o dia. Nas sextas feiras, eu ia para o hospital e lá ficava até minha
esposa retornar.
Em um fim de semana, a Diretora do hospital solicitou
autorização para mudar o tratamento médico. Buscava melhor resposta, mas havia
novos riscos. Decidi sozinho, e acompanhei agoniado três tentativas sucessivas.
Só a terceira dose foi completa. Ela dormiu e acordou com outro semblante, bem
melhor.
Não queria raspar a cabeça, recomendação do
hospital. Tentei convencer. Desafiou – só se você raspar também! Ela dormiu,
providenciei. Nunca vou esquecer da força de suas risadas, quando acordou.
Raspou também.
Sua melhora é constante, o controle médico já é semestral.
“Clara manhã, obrigado. O essencial é viver.” – Carlos Drummond de
Andrade.
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