terça-feira, 26 de abril de 2016

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Sementes transgênicas reduzem a biodiversidade, aponta estudo da Unicamp

Quando o assunto é agricultura transgênica, um dos principais perigos apontados por especialistas é a redução da diversidade de sementes. Por meio do vento, da chuva, pássaros e insetos, o pólen de plantas transgênicas é levado para lavouras convencionais. Nesse processo de contaminação, as sementes convencionais, também conhecidas como crioulas, vão desaparecer.
A reportagem é de Cida de Oliveira, publicada por Rede Brasil Atual, 23-04-2016.
O prejuízo é grande porque essas variedades, naturais, poupam o solo do desgaste ao mesmo tempo que produzem relativamente bem durante muito tempo, independentemente das condições climáticas. Indispensáveis à soberania dos agricultores em seus programas de melhoramento genético, que levam anos e até gerações, são também estratégicas para a segurança alimentar.
Já as geneticamente modificadas, criadas em laboratório com a promessa de maior produtividade, dependem de grande quantidade de fertilizantes químicos, que desequilibram o solo, e de agrotóxicos, que prejudicam a saúde humana e ambiental. Protegidas por patentes, são mais caras e controladas pela indústria, que vende ao agricultor em promoções aparentemente vantajosas, em vendas casadas, muitas vezes atreladas a empréstimos financeiros.
Contrariando argumentos dessa indústria, um estudo do Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica (Imeecc) da Unicamp vem reforçar os argumentos dos riscos à biodiversidade pela contaminação das lavouras pelos transgênicos. "Com o tempo, a coexistência desses dois tipos de lavouras deve levar à queda na produtividade de ambas. Porém, a redução será bem maior na variante natural", afirma o matemático e professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) Rinaldo Vieira da Silva Júnior, autor do trabalho para seu doutoramento.
Aos longo de quatro anos, ele aprofundou a leitura sobre biotecnologia, genética, produção agrícola, meio ambiente e saúde. Paralelamente, desenvolveu os modelos matemáticos – conjunto de equações articuladas com softwares computacionais – que utilizaram informações disponíveis em bancos de dados de instituições e na literatura científica para chegar a tal conclusão.
"Para conduzir o trabalho, simplificamos as suposições para as simulações, trabalhando com um cenário em que asvariedades de semente deveriam ser da mesma espécie de planta, que as duas plantações ocupam áreas contíguas, que a velocidade de dispersão do pólen pelo vento é uniforme, e que a competição entre ambas por nutrientes do solo, por exemplo, seja equilibrada. Isso para que um organismo dominante não elimine o outro, inviabilizando assim a comparação".
Como ele destaca, essas simplificações compõem um primeiro estudo. E que modelos mais complexos poderão ser desenvolvidos futuramente, em estudos para antever o impacto de transgênicos no meio ambiente de forma mais abrangente, o que depende da parceria de especialistas em agronomia, para investigar o comportamento do modelo matemático a partir de um cenário real.
Método
Conforme a professora da Universidade Federal de Pernambuco e orientadora do trabalho, Solange da Fonseca Rutz, um diferencial é a utilização da Trofodinâmica Analítica, um método de modelagem matemática da dinâmica de ecossistemas, entre outros processos biológicos, com ênfase na análise da sua estabilidade e evolução. Tem sido usado largamente em outros países, como o Canadá.
"Em vez de trabalhar com dados estatísticos, como outros modelos matemáticos largamente utilizados, utilizamos também variantes que podem alterá-los. Com isso é possível estimar, entre outras coisas, alterações determinadas por circunstâncias ambientais", explica Solange.
Entre essas circunstâncias ambientais, conforme destaca, está o fato de as sementes transgênicas terem sido desenvolvidas em laboratórios para serem resistentes a determinadas pragas, por exemplo, e serem testadas em ambientes diferentes daqueles em que serão plantadas e cultivadas. "Deve ocorrer alterações na biodiversidade como ocorre no cultivo de qualquer espécie atípica. É o caso do eucalipto, por exemplo, trazido da Austrália, que altera o solo. Espécies que não são do nosso bioma trazem impacto", compara a professora, que tem experiência em modelagem matemática e computacional em Biologia.
"Estima-se que no caso de uma planta alterada artificialmente em laboratório deve ser bem pior; o impacto seja bem maior", afirma, referindo-se aos danos que as lavouras transgênicas possam causar ao meio ambiente como um todo.
"E a queda de produtividade das sementes crioulas, até o seu desaparecimento, deve ser bem maior na realidade do que nas simulações feitas para o trabalho. O problema é que estamos perdendo algo sobre o que nem estudamos o suficiente. Não conhecemos a fundo o potencial das sementes crioulas para a obtenção de medicamentos e mesmo na produção de alimentos."
Catástrofes
O coordenador do grupo de trabalho sobre agrotóxicos e transgênicos da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA), o agrônomo Leonardo Melgarejo, considera que, apesar da necessidade de mais estudos, com simulação de condições mais realistas, o trabalho é oportuno porque abre caminho para a antecipação de informações. "Podem significar a diferença entre antecipar catástrofes ou conhecê-las só após terem ocorrido. Algo como dirigir usando o farol de milha ou o retrovisor", compara.
Ele acredita que esse método analítico permitirá simular e projetar impactos dos organismos geneticamente modificados ainda não liberados no mercado, contribuindo ainda para decisões de conveniência e oportunidade a serem tomadas pelo Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS) no momento de acatar ou rejeitar recomendações da CTNBio”, diz . “Infelizmente, o CNBS não tem se reunido e não tem tomado tais decisões, que lhe cabem por lei.”
Além disso, segundo ele, o trabalho reitera informações empíricas disponíveis. "Reforça que há mecanismos de mercado que levam à dominância de sementes transgênicas e ao desaparecimento, ao sumiço, ou dificuldade para obtenção das demais."
E isso, conforme destaca, numa simulação que exclui pressões comerciais. "Nas variedades naturais, de uso comum, suas sementes tenderiam a desaparecer, sendo substituídas por sementes protegidas pelo direito de patente. Isso é muito relevante em contexto de acelerada mudança climática, onde se faz imperioso trabalhar com um máximo dediversidade e variabilidade genética."

PARA LER MAIS:


  • 15/11/2013 - "As sementes transgênicas não são mais produtivas, nem foram planejadas com este objetivo". Entrevista especial com Leonardo Melgarejo
  • 28/04/2015 - Aprovação de eucalipto transgênico atende interesse do mercado de pasta de celulose. Entrevista especial com Leonardo Melgarejo
  • 09/04/2015 - “Eucalipto transgênico vai sugar água até que ela acabe”
  • 10/04/2015 - Para professor da USP, liberação do eucalipto transgênico é um erro
  • 03/05/2013 - Troca-troca de semente transgênica e a perda da diversidade genética. Entrevista especial com Fábio Dal Soglio
  • 23/08/2015 - Informação, protagonismo social e políticas públicas na promoção de uma agricultura amigável. Entrevista especial com Leonardo Melgarejo
  • 14/05/2015 - Uso combinado de agrotóxicos não é avaliado na prática. Entrevista especial com Karen Friedrich
  • 06/05/2015 - Dossiê Abrasco: o grito contra o silêncio opressivo do agronegócio. Entrevista especial com Fernando Carneiro
  • 12/04/2016 - Pesquisa indica que transgênicos podem oferecer riscos para a biodiversidade
  • 16/06/2015 - Desinformação sobre Alimentos Transgênicos
  • 28/04/2014 - Os transgênicos e a fome: a revolução fracassada
  • 18/04/2016 - Agrotóxicos-transgênicos: um rolo compressor está sendo passado sobre o direito do consumidor
  • 26/10/2011 - Transgênicos contaminam as sementes crioulas. Entrevista especial com Magda Zanoni
  • 06/01/2016 - Uso de sementes crioulas na resistência camponesa em ambiente agroecológico
  • http://www.ihu.unisinos.br/noticias/554075-sementes-transgenicas-reduzem-a-biodiversidade-aponta-estudo-da-unicamp

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