terça-feira, 5 de maio de 2015

É revoltante o modo com que os idosos são tratados no trânsito

Escrito por  Archimedes Raia Jr.(*)
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e-revoltante-o-modo-com-que-os-idosos-sao-tratados-no-transito-fotoUm senhor, 60 anos, atravessava um cruzamento semaforizado, com faixas de pedestres. Estando já no meio da travessia, abriu-se o verde para o fluxo de tráfego que convergia à esquerda, em direção à faixa usada pelo idoso. Ignorando a presença do senhor, o motorista avançou em sua direção como se ele não existisse. Sentindo-se ameaçado e totalmente desrespeitado, o pedestre reclamou com o motorista. Este, desconhecendo o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), respondeu: “estou no verde”.
Para mestre Aurélio, ignorância significa: “estado de quem ignora”, “falta de ciência ou de saber” e “incompetência”.
As duas últimas parecem bem apropriadas para esta abordagem. É constrangedor, revoltante, o modo com que os pedestres, um dos usuários mais vulneráveis do sistema de trânsito, são tratados pelos condutores de veículos motorizados, principalmente se for uma pessoa idosa. 
Pouco antes de redigir este artigo, presenciei pela enésima vez um ato de ignorância, de falta de bom senso, de civilidade de um motorista na Praça Rui Barbosa, centro de Bauru (SP).
Um senhor, certamente com mais de 60 anos, atravessava um cruzamento semaforizado, dotado de faixas de pedestres. Estando já no meio da travessia, abriu-se o verde para o fluxo de tráfego que convergia à esquerda, em direção à faixa usada pelo idoso. Ignorando a presença do senhor, o motorista avançou em sua direção como se ele não existisse. Sentindo-se ameaçado e totalmente desrespeitado, o pedestre reclamou com o motorista. Este, desconhecendo o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), respondeu: “estou no verde”.
Deixar de dar preferência de passagem a pedestre que se encontre na faixa a ele destinada ou que não haja concluído a travessia, mesmo que ocorra sinal verde para o veículo, implica em infração gravíssima, 7 pontos na carteira e multa de R$ 191,00 (Art. 214, CTB).
Imagino que o ignorante motorista achou que o pedestre atrapalhava seu caminho. As pessoas que estavam próximas ao local se indignaram com a atitude daquele tosco condutor. Mas, muito pior ainda é que este comportamento não é exclusivo daquele troglodita. A cidade está cheia deles! Isto é emblemático, é muito triste.
Apesar disso, nunca presenciei condutor algum ser multado ao ameaçar um pedestre e, segundo a literatura especializada, raríssimos são os casos em que isto acontece.
Afirma o papa Francisco: “Nós vivemos em um tempo no qual os idosos não contam. É ruim dizer isto, mas eles são descartados, porque dão trabalham. Os idosos são aqueles que nos trazem a história, que nos trazem a doutrina, a fé e nos dão um legado. São aqueles que, como um bom vinho envelhecido, têm força dentro de si para nos dar uma herança nobre”. Diferentemente das culturas asiáticas, onde eles são reverenciados, na América, eles são considerados como estorvo.
Este fato é característico de países onde o automóvel reina forte, inabalável, sem oposição. Apesar do CTB ser bastante incisivo e procurar dar respaldo ao pedestre, na prática, é como se a lei a ele não se referisse. Os responsáveis pela fiscalização, no que tange aos direitos dos pedestres, talvez entendam que a lei seja desnecessária e multar estes infratores é um mal menor ou perda de tempo. 
Uma multa por estacionamento irregular ou sem cartão merece mais atenção. O poder público precisa cumprir o seu papel.
Vale lembrar o pensamento da grande humanista italiana Chiara Lubich: “Se colocarmos como base das leis ou iniciativas sociais uma mentalidade que não respeita a pessoa que sofre, o deficiente, o idoso, criamos pouco a pouco uma falsa sociedade, porque damos importância apenas a alguns valores, como a saúde física, a força, a extrema produtividade, o poder e desvirtuamos a finalidade pela qual existe todo o Estado, que é o bem do homem e da sociedade.”
(*)Archimedes Raia Jr. é doutor em Engenharia de Transportes e especialista em trânsito, professor da UFSCar, diretor de Mobilidade da Assenag e articulista do JC. Texto publicado em 15/04/15, em http://www.jcnet.com.br/editorias_noticias.php?codigo=238400
http://www.portaldoenvelhecimento.com/violencia/item/3612-e-revoltante-o-modo-com-que-os-idosos-sao-tratados-no-transito

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