quinta-feira, 23 de junho de 2016

QUERO MINHA ALICE EM UM PAÍS DAS MARAVILHAS
   Alice ainda não nasceu. Esperamos ela para setembro. Poderosa, já me faz sonhar em conseguir seu bom futuro. Lamento a maturidade tardia agora, aos 26 anos. Se eu tivesse os sonhos de hoje com meus 19 anos, estaria mais tranquilo.
   Meus pais sugeriam faculdade, mas eu achava que trabalhar já era o suficiente. Em fundição, eu posicionava corretamente a peça antes de o operador do guindaste soltar a mesma. Ele entendeu que eu havia dado o sinal de que tudo estava OK, e eu estava na verdade reposicionando o encaixe. Tentei puxar o braço, consegui, mas a mão direita ficou embaixo de todo aquele peso. Meus gritos alertaram colega que acionou o alarme. É tão intenso que não existe dor. A ficha só caiu no dia seguinte, no hospital, quando tiraram as faixas e vi minha mão com cerca de 200 pontos costurando suas partes. Mas todos os dedos estavam lá. Faço muitas coisas com ela, não consegui aprender a usar a mão esquerda. Fiz várias tentativas de cirurgias corretivas, sem sucesso.
   Sou Diogo, casado, trabalhando em emprego complicado, sem as devidas garantias, para suplementar minha renda, pois recebo da previdência um terço do antigo salário, e as despesas não diminuíram. Buscando trabalho melhor vi cartaz do SENAI, divulgando curso para pessoas com deficiência.
   Ainda estou cursando, lamento ter sido forçado a muitas faltas pela irregularidade de meu atual trabalho. Fiquei surpreso com o esforço de meus colegas de turma, provando que todo mundo é capaz de evolução.
   Agora, esta criança chegando me faz desejar um bom trabalho, mais formação, mais um idioma. Mesmo que infelizmente precise sair do Brasil.
Se você não sabe onde quer ir, qualquer caminho serve.
Lewis Carroll
Caso real, Elizabeth Fritzsons da Silva, psicóloga, e-mail:bfritzsons@gmail.com


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