QUERO MINHA
ALICE EM UM PAÍS DAS MARAVILHAS
Alice ainda não
nasceu. Esperamos ela para setembro. Poderosa, já me faz sonhar em conseguir
seu bom futuro. Lamento a maturidade tardia agora, aos 26 anos. Se eu tivesse
os sonhos de hoje com meus 19 anos, estaria mais tranquilo.
Meus pais sugeriam
faculdade, mas eu achava que trabalhar já era o suficiente. Em fundição, eu
posicionava corretamente a peça antes de o operador do guindaste soltar a
mesma. Ele entendeu que eu havia dado o sinal de que tudo estava OK, e eu
estava na verdade reposicionando o encaixe. Tentei puxar o braço, consegui, mas
a mão direita ficou embaixo de todo aquele peso. Meus gritos alertaram colega
que acionou o alarme. É tão intenso que não existe dor. A ficha só caiu no dia
seguinte, no hospital, quando tiraram as faixas e vi minha mão com cerca de 200
pontos costurando suas partes. Mas todos os dedos estavam lá. Faço muitas
coisas com ela, não consegui aprender a usar a mão esquerda. Fiz várias
tentativas de cirurgias corretivas, sem sucesso.
Sou Diogo, casado,
trabalhando em emprego complicado, sem as devidas garantias, para suplementar
minha renda, pois recebo da previdência um terço do antigo salário, e as
despesas não diminuíram. Buscando trabalho melhor vi cartaz do SENAI,
divulgando curso para pessoas com deficiência.
Ainda estou
cursando, lamento ter sido forçado a muitas faltas pela irregularidade de meu
atual trabalho. Fiquei surpreso com o esforço de meus colegas de turma,
provando que todo mundo é capaz de evolução.
Agora, esta criança
chegando me faz desejar um bom trabalho, mais formação, mais um idioma. Mesmo
que infelizmente precise sair do Brasil.
Se você não sabe onde quer ir, qualquer caminho serve.
Lewis Carroll
Caso real,
Elizabeth Fritzsons da Silva, psicóloga, e-mail:bfritzsons@gmail.com
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