O mundo é incerto. E é melhor nos acostumarmos a isso!
Escrito por Cristiane Pomeranz(*)
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O que precisamos aprender é ver os riscos como uma oportunidade. Fazer dos desvios impostos pelas mudanças de rumo um meio de modificar condutas e olhares. Erramos, aprendemos e os desafios passam a fazer parte do nosso processo de evolução. E que assim seja. Na arte é assim. Ela nos ensina sobre a vida e nos faz refletir. É desafiadora para quem a faz e para quem a aprecia. Algumas obras de arte são como uma carícia. Já outras, geram incômodo, nos desorganizam e abalam nossas estruturas.
“Os deuses criam-nos muitas surpresas: o esperado não se cumpre, e ao inesperado um deus abre o caminho”. É essa frase do poeta grego Eurípedes, do século V A.C. que abre o capítulo sobre “Enfrentar as Incertezas” de Edgar Morin no seu livro “Os sete saberes necessários à educação do futuro”. Frase dita na tragédia grega e que se faz atual no drama que vivemos na educação do presente.
Morin é, entre muitas coisas, antropólogo, sociólogo e filósofo francês que nasceu em 1921 e vive, atualmente, uma velhice intelectualmente ativa. Com seu pensamento, propõe uma mudança conceitual na educação e mostra a necessidade de pensar em estratégias que nos permitam enfrentar o imprevisto, o inesperado e as incertezas.
Os ensinamentos de Morin saem do âmbito da educação pedagógica e expandem-se para a vida propriamente dita.
O Mundo é incerto e devemos aceitar este fato. A velhice é uma das poucas certezas que a vida oferece. Todos que alcançam a longevidade passarão por ela. Mas a velhice se torna incerta por sua heterogeneidade. Iremos envelhecer, é fato. Aliás, envelhecemos desde que nascemos, mas como atingiremos essa fase da vida é uma incerteza que nos acompanhará como uma aventura duvidosa.
Essas dúvidas nos seguem vida afora, anos a fio, como um mantra que não sai do pensamento dos jovens que envelhecem mergulhados em atividades físicas, bons hábitos alimentares e noites de sono regulares como garantia de driblar as incertezas do futuro.
Façamos nossa parte! Mas o mundo é incerto e corremos riscos. E é melhor nos acostumarmos a isso. Desde sempre. Desde já.
O que precisamos aprender é ver os riscos como uma oportunidade. Fazer dos desvios impostos pelas mudanças de rumo um meio de modificar condutas e olhares. Erramos, aprendemos e os desafios passam a fazer parte do nosso processo de evolução. E que assim seja.
Na arte é assim. Ela nos ensina sobre a vida e nos faz refletir. É desafiadora para quem a faz e para quem a aprecia. Algumas obras de arte são como uma carícia. Já outras, geram incômodo, nos desorganizam e abalam nossas estruturas.
“Não há evolução que não seja desorganizadora. É preciso se desorganizar para transformar e construir, ou seja, as destruições podem trazer novos desenvolvimentos”, segundo Morin.
Mas o incômodo gerado nos faz buscar estratégias para compreender aquilo que foi pensado pelo artista e esses são seres criativos e capazes de fazer das turbulências, bifurcações e, dos desvios, parte de um processo de evolução. Para eles e para nós, expectadores.
Foi assim com Henri Matisse (1869-1954) durante sua velhice. Pintor francês que dominava o uso da expressão pela cor e que nos mostrou, visualmente, através de seus recortes feitos no final de sua vida, o que Morin descreve deste mundo improvável.
“A história avança, não de modo frontal como um rio, mas por desvios que decorrem de inovações ou de criações internas, de acontecimentos ou de acidentes externos. Se o desvio não for esmagado, pode, em condições favoráveis proporcionadas geralmente por crises, produzir uma nova realidade.”
Aos 72 anos Matisse achava que vivia seus últimos anos de vida ao ser submetido a uma cirurgia que o deixou prostrado em uma cadeira de rodas.
Bem longe de fazer deste desvio de caminho o término de sua carreira, uma nova forma de viver a arte foi inventada pelo artista que começou a “desenhar com tesouras” em seus recortes de papel feitos em tons brilhantes. Papéis coloridos em total desorganização começavam a ser estrategicamente compostos de forma harmônica e bela.
Matisse não se conformava com sua incapacidade e descobre nessa situação ameaçadora uma nova maneira de se expressar. Com a tesoura ele desenha e constrói uma nova realidade para os últimos anos de sua vida.
Os riscos da própria vida podiam ter arruinado o sujeito Matisse idoso, caso ele não tivesse encontrado na arte um meio de reagir a esse desvio.
Segundo Edgar Morin, “Ao aceitar e incorporar os desvios, podemos transformá-los em um processo de evolução.” E foi o que Matisse sabiamente soube fazer em forma de cor, desenho e expressão de uma velhice compreendida na sua incerteza e bem-sucedida em seu risco.
Referências
Morin, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2011.
(*)Cristiane T. Pomeranz é arteterapeuta, entusiasta da vida e da arte e mestranda em Gerontologia Social pela PUC-SP. Email: crispomeranz@gmail.com
FONTE : http://www.portaldoenvelhecimento.com/comportamentos
FONTE : http://www.portaldoenvelhecimento.com/comportamentos
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