Como garantir as marcas que deixamos ao longo da nossa caminhada?
Escrito por Maria Luisa Trindade Bestetti (*)- tamanho da fonte
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O senso de pertencimento não prescinde de caracterização de lugar, visto que esse existe quando significa algo caracterizado por escolhas e permanência. Em geral, os dormitórios em residenciais podem ser muito bem compostos com móveis adequados em altura e funcionamento, mas transmitem uma uniformidade que pode expressar somente um tempo de passagem. Enquanto não houver uma qualificação, definida por elementos personalizados pelo morador, será sempre frio e impessoal.
Nossos estudantes de Gerontologia registram percepções dos idosos moradores em residenciais quando os questionam sobre o lugar onde vivem, e uma delas é de que sentem falta das suas casas, pois consideram que ali não é deles. Em geral demonstram saudade de elementos significativos, que marcavam suas escolhas de objetos, rotinas e até de atividades que exerciam.
O senso de pertencimento não prescinde de caracterização de lugar, visto que esse existe quando significa algo caracterizado por escolhas e permanência. Em geral, os dormitórios em residenciais podem ser muito bem compostos com móveis adequados em altura e funcionamento, mas transmitem uma uniformidade que pode expressar somente um tempo de passagem. Enquanto não houver uma qualificação, definida por elementos personalizados pelo morador, será sempre frio e impessoal.
Pessoas guardam lembranças importantes, sejam imagens, objetos ou elementos efêmeros, mas que significam algo importante, tais como flores ou difusores de ambiente que trazem antigos momentos à memória. Quando acomodados numa nova residência, agora coletiva, levar objetos que mantenham o bem-estar pode ser um coadjuvante importante para a adaptação, pois a familiaridade o acompanha. Quadros, colchas, tapetes (desde que devidamente colocados para que não causem quedas…) e poltronas confortáveis para repouso, leitura ou atividades manuais, garantem que determinadas rotinas não sejam quebradas.
Há aqueles que gostam de cozinhar, e ter essa possibilidade eventualmente ou frequentemente, significa empoderá-lo para ensinar e compartilhar, além de proporcionar momentos de protagonismo entre seus pares. Muitas vezes há os que apreciam jardinagem, em especial quando associam com o plantio de temperos e ervas para chás. Nesse caso, bancadas ou suportes com floreiras são suficientes e não exigem grandes espaços livres, especialmente se estiverem próximos da área de preparo.
No residencial para idosos onde atuo em estágios com os futuros gerontólogos, encontramos diversas situações assim e que se alternam: uma senhora que ajuda no refeitório, organizando os pratos para o café da manhã, e que acorda sempre muito cedo desde sempre, ao longo dos seus 96 anos. Outra apreciava uma horta que foi destinada a ela para que cuidasse de temperos e alguns legumes: quando faleceu, não havia outros interessados e descontinuou.
Recentemente foi admitida uma nova moradora, e na sua adaptação foi-lhe perguntado se havia algo que ela preferisse além do já existente na casa: “- sinto falta da minha máquina de costura, que ficou na minha casa!”. Foi levada, colocada em local onde pudesse usá-la à vontade e isso transformou seu comportamento! Enfim, é a casa deles… Por que não oferecer meios de continuar a viver com os prazeres de uma vida toda?
(*)Maria Luisa Trindade Bestetti - Sou arquiteta e pesquiso sobre as alternativas de moradia para idosos no Brasil, especialmente sobre a habitação mas, também, o bairro e a cidade que a envolvem. Ser modular significa harmonizar todas as etapas da vida, atendendo desejos e necessidades. Se você tem mais de 50 anos e está preocupado sobre como morar na velhice, participe: leia, comente, pergunte, discuta!... Estamos vivendo mais e melhor, é preciso que pensemos nisso com a tranquilidade e a confiança necessárias para podermos viver muito com segurança e conforto. Saiba mais Aqui
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