quinta-feira, 2 de junho de 2016

POSSO ESCOLHER. QUERO CAMINHO DIFERENTE DO PATERNO.
   Não censuro, constato tragédia individual – ele era preocupado com nossa educação, não agredia, conversava, queria dos filhos respeito, não medo. Alcóolatra, com dependência tão intensa que não se locomovia ou se higienizava sem auxilio, não aderindo às tentativas de tratamento, precisando de sua dose diária de álcool até a morte, faz três anos. Sou Daniel, com 18 anos.
   Morávamos nos fundos da casa de meus avós e tios, minha mãe nos sustentava trabalhando como empregada doméstica. Conviver com esta realidade teve custo emocional. Mas sei como esta história pode terminar e posso escolher não começar.
   Pude frequentar treinamento de vôlei oferecido pela Prefeitura de Santa Bárbara. Comecei aos 12 anos e funcionava também como lugar adequado para extravasar toda a tensão em que eu vivia. Eram cinco horas por dia, de segunda a segunda. Joguei pela cidade, durou 3 anos.
   Quando tinha 15 anos, minha treinadora fez convite para um encontro de sua comunidade religiosa. Fui, gostei da postura dinâmica e da ênfase em prática imediata. Fez e continua fazendo sentido para mim.
   Faço curso técnico de Administração no SENAC. Procurei emprego para bancar a mensalidade, e nestes tempos de crise não encontrei. Minha treinadora de vôlei sugeriu venda de trufas. Aceitei e simplifiquei – vendo bombons e paçocas em semáforo. Determino os dias em que trabalho para pagar meus estudos e os dias que destino para arrecadar para as ações de atendimento de minha igreja, que envolvem todo tipo de fragilidade social.
    Tenho formação em auxiliar administrativo. Quero emprego na área para custear faculdade de logística.
A verdadeira religião é a vida que levamos, não o credo que professamos.
Caso real, Elizabeth Fritzsons da Silva, psicóloga, e-mail:bfritzsons@gmail.com


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