Pessoas longevas tendem a ser positivas
DO "NEW YORK TIMES"
08/07/2014 01h54
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Diversos estudos sobre pessoas muito idosas se concentram no que elas comem, bebem e fazem, para que assim outras pessoas tentem viver por mais tempo. Daniela S. Jopp, da Universidade Fordham, em Nova York, está mais interessada em como as pessoas de fato se sentem ao se aproximar dos cem anos.Jopp espera que sua pesquisa possa ajudar os idosos a ter vidas sociais satisfatórias até o fim.
Segundo projeções demográficas nos EUA, metade das pessoas nascidas após o ano 2000 viverá pelo menos até os cem anos.
Há um paradoxo no desejo de viver mais, disse ela. Muitas pessoas querem chegar a uma idade avançada sem envelhecer tanto, disse ela. Acima de tudo, "nós temos uma visão muito negativa do envelhecimento", disse ela.
Sua pesquisa suscita esperança, pois mostra que, ao se aproximar dos cem anos, as pessoas tendem a ter uma visão muito positiva da vida. Isso acontece até quando "elas têm em média quatro ou cinco doenças debilitantes que as impedem de fazer as coisas que gostariam", afirmou Jopp. Elas ainda têm metas, disse, e não estão preparadas para morrer logo. Querem ver se seu time esportivo terá uma boa atuação na próxima temporada ou ir ao casamento de um neto.
Essa atitude perpassa todo o espectro socioeconômico, embora ter dinheiro suficiente para comprar os medicamentos necessários seja importante para o bem-estar, acrescentou ela.
De fato, pessoas com 95 anos ou mais relatam níveis mais altos de satisfação com a vida do que as muito mais jovens, disse Jopp. Ela especula que pessoas nas faixas dos 60 e 70 anos ainda não se adaptaram completamente a suas fragilidades, ao passo que os mais idosos atingiram um estágio de aceitação mais plena.
As observações de Jopp se baseiam em estudos sobre pessoas idosas feitos em Heidelberg, Alemanha, e em um estudo feito por ela com 119 nova-iorquinos.
Ela concluiu que os longevos tendem a ser extrovertidos e a demonstrar "autossuficiência", o que significa sentir-se no controle de suas vidas. A maioria das pessoas participantes do estudo em Nova York vive integrada à comunidade, muitas delas sozinhas, e em geral valoriza muito manter sua independência, disse ela.
Um estudo publicado no periódico "Aging" em 2012 reflete algumas descobertas de Jopp, citando que os idosos têm atitudes positivas e expressam suas emoções abertamente. O estudo também afirma que "foi observado que centenários partilham certos traços de personalidade, incluindo poucas neuroses e alta extroversão e lucidez".
O estudo feito por Jopp em Nova York limitou-se a pessoas que conseguiam responder com clareza a perguntas sobre si mesmas. Segundo ela, porém, "de forma alguma é verdade" que os muito idosos sofram inevitavelmente um grande declínio cognitivo.
A mesma limitação não se aplica aos dois estudos feitos em Heidelberg, e cerca de metade desses indivíduos (um total de mais de 180 pessoas) tinha pouquíssima deficiência cognitiva, disse ela; um quarto deles tinha um deficit moderado.
A pesquisa de Jopp e várias outras enfatizam a importância de se manter vínculos sociais fortes à medida que envelhecemos.
Louis Solomon, 99, participante de seu estudo, tem convicção sobre a maneira para envelhecer bem: ter muitos amigos, incluindo alguns mais jovens, para que você não sobreviva a todos eles.
Vários membros do duradouro grupo de pôquer de Solomon já morreram. A mulher dele morreu há mais de 20 anos. Mais de um ano após sua morte, ele encontrou uma companheira feminina e, após 15 anos, ela também morreu. No entanto, ele se descreve como uma pessoa feliz. Sobre as perdas que sofreu e sua própria morte inevitável, diz: "É devastador pensar nisso, mas morrer é natural. É preciso aceitar que ninguém vive para sempre. O importante é enfrentar isso e não se abalar".
Ele mora no Bronx com seu filho, Eric Solomon, 53, o qual diz que o otimismo do pai contribui para sua longevidade. Seus hábitos alimentares não parecem ter grande influência. "Ele não comia legumes até passarmos a morar juntos e toma sorvete diariamente", comentou Eric Solomon.
Jopp espera que sua pesquisa ajude a descobrir maneiras de oferecer melhores serviços sociais para os longevos e abra novos caminhos para que eles transmitam suas percepções e conhecimentos para os outros. E encerra dizendo: "Eles têm muitas coisas importantes para partilhar -e para contribuir com a sociedade".
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