“SEM MÊDO DE FICAR VELHA”
Sou Hilda, com 43 anos. Trabalhei
desde meus 14 anos, como conicaleira, vigilante e responsável pela portaria.
Moro próxima da casa dos pais, sempre disponível para ambos. Minha mãe sofre
com problemas em sua coluna, e não podia ajudar minha recém chegada avó, viúva,
precisando em seu 94 anos de auxilio para se banhar, se vestir e se locomover.
Havia fraturado o fêmur, e fez de mim uma cuidadora durante dez anos, com a
regalia de morar em casa espaçosa. Digo isto porque hoje sou uma cuidadora
profissional, e um dos idosos que atendo, com 83 anos, seis horas por dia, mora
em prédio simples, popular. Penso que construtores e compradores de um imóvel
destinado a moradia, não percebem que uma cadeira de rodas pode ser uma
realidade próxima – que não atravessa portas estreitas. Podem precisar de uma
cadeira de banho, pois as pernas já não conseguem sustentar o corpo por muitos
minutos de pé – e ela não cabe no minúsculo Box do chuveiro, com sua perigosa
porta de vidro, dificultando o acesso do idoso, quanto mais do cuidador para realizar
a tarefa. Fico toda machucada, de tanto usar meu corpo como escudo de proteção.
O assento sanitário, usado como cadeira de banho, é solução sem conforto para
os envolvidos. Velhice e doença podem acontecer com todos, melhor pensar nisto
antes de chegada a hora. Gosto muito do que faço, agora quero fazer curso na
área e aprender mais. Sou casada, com um parceiro/sócio/amigo e temos dois
abençoados filhos. Já percebi que é a filha a cuidadora. Caso fique velhinha,
estou tranqüila para “caçar o meu canto” – um asilo, um lar de velhinhos, uma clínica.
Meu trabalho me deixou preparada – sei o que esperar, e o que desfrutar neste
tempo da vida.
“No fim tudo dá certo, e se não
deu certo é porque ainda não chegou o fim.” – Fernando Sabino. Caso real,
Elizabeth Fritzsons da silva, psicóloga, e-mail: bfritzsons@gmail.com
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