terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Área acadêmica avança em pesquisas para desenvolvimento tecnológico

A Tecnologia Assistiva tem progredido para oferecer mais qualidade de vida a pessoas com deficiência.

da Redação
Exemplo disso são os vários Centros de Tecnologia criados recentemente com apoio do governo federal. A área acadêmica merece destaque especial: muitos alunos e seus professores, em todos os níveis da carreira, trabalham no desenvolvimento de projetos que poderão ser colocados no mercado em benefício desse segmento. A Revista Reação selecionou 3 deles, de diferentes instituições, e espera que consigam em breve ultrapassar os muros das escolas e passem a fazer parte do dia-a-dia das pessoas com deficiência:

Elevador Ortostático Dinâmico

O campus do Instituto Nacional de Telefomunicações (INATEL), em Santa Rita do Sapucaí/MG, abriga o Centro de Desenvolvimento e Transferência de Tecnologia Assistiva (CDTTA), fruto de uma parceria entre o próprio INATEL e o governo de Minas Gerais. Inaugurado em agosto passado, o Centro tem como objetivo reunir, em um mesmo ambiente, estudantes dos cursos de Engenharia e de Tecnologia, engenheiros, profissionais da área de Saúde e pessoas com deficiência para a criação de inovações.

De acordo com o professor Fabiano Valias de Carvalho, coordenador do CDTTA e do curso de graduação em Engenharia Biomédica do INATEL: "o envolvimento dos estudantes com as tecnologias assistivas é muito importante, principalmente em uma instituição que tem um curso de graduação em Engenharia Biomédica. Desta forma, os alunos do curso podem, desde cedo, aplicar os conhecimentos adquiridos em teoria na prática e o conhecimento da realidade das pessoas com deficiência fortalece sua formação", garante. Segundo ele, isso não acontece só com os alunos de Engenharia Biomédica, já que o desenvolvimento das tecnologias assistivas exige uma grande interação de profissionais de diversas áreas. Alunos de Engenharia de Telecomunicações, Computação, Controle e Automação e os estudantes dos cursos de Tecnologia em Redes de Computadores, Automação e Controle e Gestão de Telecomunicações da instituição também podem aplicar seus conhecimentos específicos em benefício desses indivíduos. "O desenvolvimento das tecnologias assistivas no meio acadêmico amplia o acesso das pessoas com deficiência à soluções que podem melhorar, em muito, sua qualidade de vida", garante.

Os principais projetos desenvolvidos são o Elevador Ortostático Dinâmico, que propõe um novo tratamento para pessoas com lesão medular por meio da reeducação da marcha, e o Andador Microcontrolado, que permite ao usuário controlar o movimento para frente e para trás, acionando um simples botão. Esses dois projetos já possuem protótipo e a tecnologia está disponível para empresas que queiram comercializá-los. O Centro também possui outros projetos em andamento destinados a pessoas com deficiência visual ou auditiva.

O Elevador é o único equipamento, até agora, cujas pesquisas já envolvem pacientes com sequelas de paraplegia e tetraplegia. Eles realizam o treinamento locomotor sem a utilização de recursos como esteira ergométrica ou órteses nos membros inferiores. Suspensas pelo Elevador, são desafiados a caminhar de forma autônoma, por uma extensão de quatro metros. Para que isso ocorra, foi desenvolvida uma técnica especial de fisioterapia aliada à musculação dos membros inferiores e superiores. "Cada pesquisa tem a duração de seis meses. Nesse período, trabalhamos com os pacientes na posição em pé (ortostática), em sessões de 30 minutos, duas vezes por semana. O Elevador tem proporcionado o aumento da força muscular, maior independência funcional e diminuição da espasticidade (rigidez muscular). O Elevador é um protótipo e está apto para ser licenciado ou transferido para a indústria nacional", garante Claudia Garcez, fisioterapeuta e pesquisadora do CDTTA.

Triciclo elétrico

Júlio Oliveira é formado em Engenharia Mecatrônica, pela Universidade Paulista (UNIP), em São José dos Campos/SP e mestre em Engenharia Mecânica pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), em Guaratinguetá/SP. O interesse pelo desenvolvimento de equipamentos assistivos surgiu no último período do curso de graduação (2007/2008). Juntamente com alguns colegas, desenvolveu um projeto com grande contribuição social: uma cadeira de rodas automatizada com controle automático de nível do assento e superação de escadas. Esse projeto foi apresentado como trabalho de graduação e apresentado no final do curso para obtenção do título.

A partir desse primeiro projeto de tecnologia assistiva, Oliveira buscou dar continuidade às pesquisas na área. Encontrou uma nova oportunidade de desenvolver um modelo de tração elétrica para cadeira de rodas com o auxílio do professor orientador Victor Orlando Gamarra Rosado, durante o curso de Mestrado na Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá. O novo projeto desenvolveu um equipamento de baixo custo que proporciona liberdade e autonomia a usuários de cadeira de rodas. O resultado é uma espécie de triciclo chamado "Radical": trata-se de um sistema de tração elétrica para cadeira de rodas convencionais, disponibilizado em forma de acessório a ser adicionado à um modelo qualquer de cadeira de rodas convencional. O "Radical" é composto por um suporte universal (instalado abaixo do assento da cadeira de rodas), uma roda motorizada (acoplamento/ desacoplamento rápido sobre o suporte) e kit de baterias, que possuem autonomia de três a quatro horas de utilização ou 25 Km contínuos. Atinge velocidade máxima de 30 Km/h e tem capacidade para usuários de 90 Kg. "A ideia deste equipamento é proporcionar multi funcionalidade em cadeiras de rodas convencionais, de forma a permitir que o usuário escolha a melhor maneira de utilizá-la: convencional e modo motorizado. Uma vez desacoplado, a cadeira de rodas mantém sua funcionalidade e características mecânicas, não apresenta alterações estruturais. Por sua vez, o equipamento acoplado na cadeira de rodas o transforma em um triciclo elétrico para utilização em ambientes externos, tais como, praças, parques, vias públicas, entre outras", explica o engenheiro.

O Radical está em fase de ajustes e redefinição de alguns elementos mecânicos. Até o presente momento não existem empresas parceiras para o desenvolvimento do produto, mas Oliveira busca continuar sua implementação. Serão construídas mais algumas unidades para testes no primeiro semestre de 2013 a fim de garantir alto nível de segurança e confiabilidade. O processo de patente está em andamento, aguardando a efetivação, mas o projeto está protegido. "Trabalhar em pesquisas de tecnologia assistiva é algo muito motivador por se tratar de projetos direcionados a necessidades reais da sociedade. Cada vez mais, a importância deles se fará presente para a melhor interatividade de todas as pessoas num meio comum. Incluir pessoas com algum tipo de deficiência em atividades cotidianas traz benefícios significativos para a sociedade", garante Oliveira.
Ferramenta para surdos na internet

Stefan Martins fez mestrado em Engenharia Elétrica na área de Interação Humano/ Computador, orientado pela professora Lucia Vilela Leite Filgueiras, na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). "O motivo que me levou a trabalhar nesse tema foi uma pesquisa anterior na área de governo eletrônico com uma população digitalmente excluída de cegos, surdos, idosos, analfabetos. Dentro desse conjunto de pessoas percebi que os surdos eram os que tinham o menor número de tecnologias disponíveis", conta Martins.

O mestrado foi defendido em março/2012 com o nome de CLAWS, que significa "garra" em inglês, por agarrar a informação, e é uma sigla que significa ferramenta "Colaborativa de Leitura e Ajuda a Web para Surdos". Foi desenvolvido um protótipo de alta fidelidade que está sendo aperfeiçoado e ainda não há previsão de quando estará disponível no mercado. Para ser colocado em prática, está sendo inscrito em editais de pesquisa, mas há interesse em parceiros privados também. O projeto ficou em 3º lugar no prêmio Todos@Web - Prêmio Nacional de Acessibilidade Web/2012, na categoria Tecnologias Assistivas/Aplicativos, único trabalho desenvolvido para surdos. Com artigos acadêmicos o autor ganhou o 2º lugar na Latin American Conference on Human Computer Interaction - CLIHC/2009 no México e o 1º lugar no Interaction South America/2009, em São Paulo.

Fazem parte do CLAWS, um avatar em 3D (lembram do filme de James Cameron, de 2009?), imagens, vídeos, legendas, dicionário e outros itens. "Todos esses recursos já existem e o que fiz foi agrupá-los em uma única ferramenta, como um canivete suíço. Ela funciona junto com o navegador, no formato de um plug-in e enquanto o surdo navega na internet ele pode utilizar para auxiliá-lo conforme sua necessidade", explica Martins. Dessa forma, os sites não precisam prover conteúdo acessível para surdos, pois é muito caro desenvolver vídeos de alta qualidade, por exemplo. É uma ferramenta abrangente, pois contempla vários perfis diferentes de surdos, desde aqueles que já leem um pouco de português ou os que apenas se comunicam em Libras. "Outro potencial é que a ferramenta é colaborativa, ou seja, os surdos e intérpretes construirão os vídeos com a interpretação, explicando o conteúdo de uma página na internet, e depois colocarão na ferramenta" comenta o engenheiro. “As pessoas acham que resolver o problema da interação dos surdos é trivial, mas poucos sabem da cultura surda, que é diversificada, possui o uso de uma linguagem de sinais - a Libras e têm uma grande capacidade colaborativa, pois vivem em/na comunidade surda e apresentam baixo domínio do português escrito", justifica. Por isso esse trabalho é tão importante, pois levará conhecimento e autonomia aos surdos no mundo digital", conclui Martins.

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