terça-feira, 29 de novembro de 2011

Terapia com célula-tronco regenera cartilagens

DIANA BRITO
DO RIO

Uma lesão no quadril, diagnosticada no final do ano passado, quase interrompeu a carreira do bailarino Cleber Fantinatti, 28, integrante da Companhia Oficial de Balé da Cidade de São Paulo.
Graças a um tratamento, ainda experimental, com células-tronco, Fantinatti recuperou-se e conseguiu participar de um dos espetáculos mais almejados por ele: a reabertura do Teatro Municipal de São Paulo, em junho.
O procedimento foi feito pelo ortopedista carioca Carlos Bittencourt, 60, professor de ortopedia do curso de Medicina da UFF (Universidade Federal Fluminense).
Ele faz testes há quase um ano com plaquetas associadas a células-tronco adultas expandidas, retiradas dos próprios pacientes.
Em estudo ainda inédito, o médico afirma que a aplicação da substância pode regenerar a cartilagem lesionada em cerca de seis meses.
Fantinatti não é o único bailarino a sofrer deste tipo de lesão. Por conta do esforço físico, problemas nas articulações principalmente dos quadris são comuns nessa categoria profissional.
Desde o início do ano, o ortopedista Bittencourt fez o mapeamento das articulações de 30 bailarinos profissionais do Rio e São Paulo, com foco principalmente na região dos quadris. O objetivo do estudo é diagnosticar precocemente a patologia por meio de exames de imagem e, assim, impedir que as lesões se tornem mais graves.
"Poderemos interromper essa degeneração da articulação, tão comum em bailarinos, fazendo uma simples infiltração", afirma. A intenção do médico é mapear pelo menos 300 bailarinos profissionais do país.

TRATAMENTO

Segundo o ortopedista, o tratamento com células-tronco e plaquetas pode ser feito de três maneiras, dependendo da gravidade da lesão.
A primeira é por meio de procedimento menos invasivo, com injeção intra-articular em casos de pequenas lesões, como o de Cleber.
Também pode ser realizado por meio de artroscopia (cirurgia feita com sistema ótico de visualização do interior de uma articulação), em casos de degeneração maior.
Uma terceira opção, para os casos mais graves, é uma cirurgia mais complexa, com a abertura da articulação.
As células-tronco são retiradas da medula óssea um mês antes da aplicação.
Em laboratório, o pesquisador inicia o processo de separação e expansão das células-tronco. Depois, aguarda para que as células se multipliquem até chegar à quantidade necessária para o tratamento do paciente.
No dia do tratamento, o sangue do paciente é coletado para a separação das plaquetas, que contêm fatores de crescimento.
O médico injeta as células-tronco e as plaquetas. O procedimento no quadril precisa ser guiado através de imagens de ultrassom ou radioscopia, por se tratar de uma infiltração mais profunda.
Hoje trinta pacientes estão em tratamento, a maioria com lesões no quadril, semelhantes a de Fantinatti.

Depoimento: "Em quatro meses, não sentia mais dores", revela bailarino
O risco de não voltar a dançar levou o bailarino Cleber Fantinatti, 28, a submeter-se a uma terapia experimental para curar a lesão no quadril.  "Resolvi fazer o tratamento na tentativa de evitar uma futura operação. Sei que é uma técnica ainda muito nova no Brasil, mas já faz oito meses que fiz a aplicação e não senti nenhum desconforto até hoje", disse à Folha.  Com oito anos de profissão, o dançarino paulista contou que sentia dores incômodas no quadril quando fazia movimentos no balé. Em dezembro, ele aceitou ser o primeiro a realizar o procedimento celular com injeção intra-articular. "Fui para o Rio fazer a aplicação, que durou de três a quatro minutos. Fiquei dois meses em repouso e voltei a dançar gradativamente. Em quatro meses eu já não sentia mais dor.  Se vai servir para sempre, não sei, mas posso afirmar hoje é que não sinto mais aquela dor", disse.  "Ainda não dá para dizer que ele se curou completamente, mas é o que chamamos de medicina baseada em evidências", disse o ortopedista Carlos Bittencourt.


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