Estudante com braços e pernas amputados após infecção lança livro
No livro, Pedro contará sobre sua história de vida e seus desafios diários.
Publicada em 14 de agosto de 2014 - 09:00
Em 2009, aos 18 anos, o estudante paulistano Pedro Pimenta foi infectado por uma bactéria e teve que amputar os braços acima dos cotovelos e as pernas acima dos joelhos. Hoje, dá palestras sobre superação em empresas no Brasil e, no exterior, participa de conferências.
Na quarta-feira (13), às 19h, lançará o livro "Superar É Viver" (ed. Leya, R$ 36,90), na Livraria Cultura doshopping Iguatemi, em São Paulo.
Depoimento dado a Luisa Alcantara e Silva, editora-assistente de "turismo" e "comida":
Era um dia normal, 11 de setembro de 2009. Tinha 18 anos. Saí do cursinho e fui almoçar com meus amigos, como fazia toda sexta.
Comecei a passar mal e fui para casa. Foi tudo muito rápido. Lembro de apagar na ambulância, a caminho do hospital. O que ocorreu a seguir foi o que me contaram, porque eu estava em coma. Cheguei ao [hospital Albert] Einstein quase morto; segundo os médicos, eu tinha 1% de chance de sair daquela. Fiquei uma semana inconsciente. Acordei na UTI e vi meus membros gangrenados. Estava com meningite meningocócica.
Quando o doutor Marco Guedes veio falar do meu quadro, fiquei sabendo que a única solução seria amputar os quatro membros uma semana antes de ser operado. Eu estava com tanta dor que não chorei.
Chamo de fase do terror o mês em que fiquei com os membros gangrenados. Só sentia dor. Após a operação, fiquei mais 13 dias em coma. Sabia que ia ter um show do AC/DC no estádio do Morumbi, e eu queria muito ir. Menos de um mês depois, ainda na semi UTI, acho que, de tanto eu encher o saco, o doutor Ophir Irony conseguiu fazer com que eu fosse. Fui em uma maca, acompanhado por ele.
Fui operado tantas vezes que virou rotina. Ao todo, fiquei cinco meses e meio no hospital. Passei Natal, Ano-Novo e meu aniversário de 19 anos no Einstein, mas, na hora em que recebi alta, tive medo. Era como se lá fora fosse um ambiente hostil para mim.
Saí de cadeira de rodas e comecei um tratamento na rede Lucy Montoro. Fiquei lá durante dois meses e, em maio de 2010, decidi ir para uma rede particular. No Centro Marian Weiss, fiz uma família.
Meus primeiros passos foram com as próteses "stubbies", bem baixinhas. Mas não conseguia dar nem dez passos; cansava demais. Fiquei lá até outubro, quando fui para um centro de reabilitação em Chicago (EUA). Fiquei três meses morando na cidade, com minha mãe. Alguns médicos no Brasil haviam dito que eu ia sempre depender da cadeira de rodas. Em Chicago, também falaram para eu ir com calma. "Vamos trabalhar primeiro com os braços", disse a equipe de lá.
Comecei a usar uma prótese para os membros superiores. São ganchos. Imagina viver com palitinhos de comida japonesa no lugar das mãos. É assim que vivo. Nessa época, conheci no YouTube uma empresa de próteses. Os vídeos mostravam amputados andando normalmente. Tinha conhecido o vice-presidente desse grupo em um evento. Liguei para ele e ele foi à minha casa em Chicago. Disse que eu devia descartar a cadeira de rodas.
Um dia, em San Diego, levei duas horas e meia para andar três quadras com os "stubbies". Acabei o tratamento em Chicago e fui a Oklahoma. Fiz um treinamento de 20 dias. No dia 6 de dezembro de 2010 foi a última vez que usei a cadeira de rodas. Passei o Natal no Brasil e depois voltei a Oklahoma para colocar a prótese mais alta, a "ottobock c-leg", que tem joelho.
Com o tempo, fui ganhando independência. Moro na Flórida, sozinho. Levo uma vida normal. Não fico pensando que não tenho os membros. Você se acostuma e esquece. Nunca encontrei alguém como eu, com os quatro membros amputados acima dos cotovelos e dos joelhos e que não usa cadeira de rodas. Acho que qualquer um poderia chegar onde estou. Conheço uma pessoa amputada do Brasil que perdeu as duas pernas acima do joelho. Ela conseguiu fazer uma vaquinha e patrocínio. Foi para os Estados Unidos e compraram as próteses que eu tenho para ele.
Quando você tem um sonho, você consegue. As pessoas se juntam a você. É impressionante, as portas se abrem.
Fonte: Folha de São Paulo
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